quinta-feira, 13 de junho de 2024

SHORT STORIES

 

- afogado, enforcado e ainda de cabeça para baixo! - 

Por: Antonio Gallas

O Arraial Junino, que festeja Santo Antonio, São João e São Pedro é uma das festas mais alegres e comemorada em todo o Nordeste. No Maranhão, por exemplo, as cidades de todas as regiões do Estado, transformam-se, no mês de junho, numa alegria única. Na capital, São Luís, nem se fala noutra coisa, e pra completar, ainda criaram o Dia de São Marçal, dia 30, último dia do mês,  quando se encerram as festividades na avenida que recebeu o nome do Santo, no Bairro do João Paulo. São Marçal, apesar    ser um santo ainda não  reconhecido pela Igreja, é venerado pelos brincantes dos grupos de  bumba meu boi. E neste dia, sob o som das matracas, orquestras e pandeirões, esses grupos, na capital São Luis  promovem o encerramento oficial dos festejos, marcado pelo grande Encontro dos Batalhões que começa às seis da manhã, prosseguem pela madrugada de 1º de julho, estendendo-se até a manhã  do dia .seguinte, com o barulho das matracas, pandeirões,  orquestras e o suor escorrendo pelo rosto e  descendo pelo corpo das índias e caboclas tornando-as mais belas brilhosas.

 A festa reúne milhares de pessoas, todos os anos.

Boizinho Precioso - Tutoia - MA 

Mas, o Bumba Meu Boi no Maranhão não termina em 30 de junho. Prossegue o ano todo, em todo o Estado.  Contudo, não é sobre São João dos Carneirinhos, São Pedro, o protetor dos pescadores ou sobre São Marçal, o padroeiro dos brincantes do bumba meu boi que pretendo agora escrever. Quero falar sobre Santo Antonio, o chamado "santo casamenteiro" e narrar   um causo que aconteceu comigo e com  um primo em  Tutoia, no tempo de nossa adolescência. 

Sobre Santo Antonio, muitas são as simpatias que, não apenas aquelas que  que já estão no "caritó" ou seja, as solteironas fazem, mas também as novinhas desejosas de casar. Pois bem, vamos ao caso: 

Nessa época, década de 1960, muitas famílias em Tutóia ainda não se davam ao luxo de ter em casa uma geladeira.  A água para o consumo era armazenada em filtros de barro da marca Fiel ou São João, ou então em potes,  também feitos  de barro. E diga-se de passagem,  a água era “friinha” e deliciosa que chegava até fazer inveja a certos refrigeradores de hoje. 


   Eu e um  primo,  paquerávamos duas irmãs que moravam no Bairro  Barra, já na beirinha da praia, na rua Dr. Paulo Ramos, à época sem qualquer pavimentação poliédrica ou asfáltica. Em suma, as dunas tomavam conta da rua. Essas moças, hoje são casadas e não residem mais em Tutoia.

Sempre aos domingos,  eu e meu primo as visitávamos na parte da tarde. Depois de uma caminhada de mais ou menos um  quilômetro, chegávamos, ao nosso destino esbaforidos, suados e com muita sede. A primeira coisa que fazíamos era saciar a sede. Como eu já tinha bastante intimidade na casa, eu mesmo enchia os copos d’água, bebia e trazia para o meu primo. Aconteceu que nesse domingo, dia 13 de junho,  o filtro estava vazio, não saiu água da torneira. Então, peguei o púcaro, um pequeno recipiente de alumínio (uma concha)  com um cabo comprido para se retirar água dos potes e que muitos chamam "cuco" ou "côko”, e quando o introduzi ao pote notei que batera em algo rijo que provocou um certo barulhinho. Aquilo aguçou minha curiosidade. Então meti, a mão dentro e pote e sabem o que encontrei? Imaginem: uma   pequena imagem de Santo Antônio, com a cabeça para baixo, dentro de um copo e com um cordão dado um nó no pescoço, como se tivesse sido enforcado.

Retirei o santo, coloquei-o em meu bolso, deixei o copo vazio  em cima da mesa, chamei meu primo, fomos embora, e as meninas ficaram sem falar conosco por um bom tempo...

Pobre Santo Antonio! Afogado, enforcado e ainda de cabeça para baixo dentro de um copo!


 




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