- afogado, enforcado e ainda de cabeça para baixo! -
O Arraial Junino, que festeja Santo Antonio, São João e São Pedro é uma das festas mais alegres e comemorada em todo o Nordeste. No Maranhão, por exemplo, as cidades de todas as regiões do Estado, transformam-se, no mês de junho, numa alegria única. Na capital, São Luís, nem se fala noutra coisa, e pra completar, ainda criaram o Dia de São Marçal, dia 30, último dia do mês, quando se encerram as festividades na avenida que recebeu o nome do Santo, no Bairro do João Paulo. São Marçal, apesar ser um santo ainda não reconhecido pela Igreja, é venerado pelos brincantes dos grupos de bumba meu boi. E neste dia, sob o som das matracas, orquestras e pandeirões, esses grupos, na capital São Luis promovem o encerramento oficial dos festejos, marcado pelo grande Encontro dos Batalhões que começa às seis da manhã, prosseguem pela madrugada de 1º de julho, estendendo-se até a manhã do dia .seguinte, com o barulho das matracas, pandeirões, orquestras e o suor escorrendo pelo rosto e descendo pelo corpo das índias e caboclas tornando-as mais belas brilhosas.
A festa reúne milhares de pessoas, todos os anos.
Mas, o Bumba Meu Boi no Maranhão não termina em 30 de junho. Prossegue o ano todo, em todo o Estado. Contudo, não é sobre São João dos Carneirinhos, São Pedro, o protetor dos pescadores ou sobre São Marçal, o padroeiro dos brincantes do bumba meu boi que pretendo agora escrever. Quero falar sobre Santo Antonio, o chamado "santo casamenteiro" e narrar um causo que aconteceu comigo e com um primo em Tutoia, no tempo de nossa adolescência.
Sobre Santo Antonio,
muitas são as simpatias que, não apenas aquelas que que já estão no "caritó"
ou seja, as solteironas fazem, mas também as novinhas desejosas de casar. Pois
bem, vamos ao caso:
Nessa época, década de 1960, muitas famílias em Tutóia ainda não se
davam ao luxo de ter em casa uma geladeira. A água para o consumo era armazenada
em filtros de barro da marca Fiel ou São João, ou então em potes, também feitos de
barro. E diga-se de passagem, a água era “friinha” e deliciosa que chegava até
fazer inveja a certos refrigeradores de hoje.
Sempre aos domingos, eu e meu primo as visitávamos na parte da tarde. Depois de
uma caminhada de mais ou menos um quilômetro, chegávamos, ao nosso
destino esbaforidos, suados e com muita sede. A primeira coisa que fazíamos era
saciar a sede. Como eu já tinha bastante intimidade na casa, eu mesmo enchia os
copos d’água, bebia e trazia para o meu primo. Aconteceu que nesse domingo, dia 13 de junho, o
filtro estava vazio, não saiu água da torneira. Então, peguei o púcaro, um
pequeno recipiente de alumínio (uma concha) com um cabo comprido para se retirar água dos potes e
que muitos chamam "cuco" ou "côko”, e quando o introduzi ao pote notei que batera em algo
rijo que provocou um certo barulhinho. Aquilo aguçou minha curiosidade. Então meti,
a mão dentro e pote e sabem o que encontrei? Imaginem: uma pequena
imagem de Santo Antônio, com a cabeça para baixo, dentro de um copo e com
um cordão dado um nó no pescoço, como se tivesse sido enforcado.
Retirei o santo, coloquei-o em meu bolso, deixei o copo vazio em cima da mesa, chamei meu primo, fomos embora, e as meninas ficaram sem falar conosco
por um bom tempo...
Pobre Santo Antonio! Afogado, enforcado e ainda de cabeça para baixo dentro de um copo!
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