quinta-feira, 20 de maio de 2021

SENADORES, CHAMEM OS COMANDANTES!

Manuel Domingos Neto * 

Em 20.05.2021

 O general Pazuello não ocupou o Ministério da Saúde por indicação de uma corrente política. Não foi nomeado por afinidades com a pasta. Sequer foi escolha do Presidente, que, aliás deve o cargo ao amparo assegurado pelas corporações militares, em particular ao comandante do Exército, conforme reconheceu publicamente. 

Pazuello e seus coronéis-acompanhantes foram cumprir missão atribuída por hierarquia superior. Talvez o único momento em que o ex-ministro falou com justeza foi quando explicou a razão de sua demissão: “missão cumprida”. 

Se a missão resultou em tragédia, que os senadores não livrem a cadeia hierárquica. O homem estava de paletó, mas não deixava de ser um general da ativa absolutamente contingenciado por seus superiores.   

Retive o que ouvi no início da tragédia: Pazuello seria o cara certo para levar do jeito certo e na hora certa o que for preciso; era bom em logística; a política do ministério estaria definida, faltando um intendente; enfrentar pandemia seria gerenciar crise e, é preciso alguém que saiba mandar...

Uns pretendem a responsabilização do General-Ministro; outros, a de seu  comandante-em-chefe, o Presidente. 

E os comandantes militares que escolheram Pazuello e sua equipe de oficiais da ativa que ocuparam o Ministério da Saúde? 

O general Pujol assinou a liberação desses homens. No mais, sob seu comando, a Corporação produziu grandes quantidades de remédio ineficaz, esbagaçando recursos públicos.

Para driblar perguntas incômodas, Pazuello dizia: não é responsabilidade minha; não me competia intromissão no caso; isso é problema do corpo técnico; não tenho que considerar ordens emanadas através de redes sociais... Parecia um atendente à distância de uma empresa: “o sistema não reconhece sua pergunta”. O general desapareceu, ficou o burocrata obtuso. 

 Não tive pena de Pazuello quando uma mulher o chamou de mentiroso. E me irritei quando o senador que dirigia os trabalhos pediu calma a sua colega. Ninguém cobrou calma aos outros senadores justificadamente exaltados.

 Mas, de fato, minha curiosidade foi para as reações do cassino, como é designado o restaurante dos oficiais. (A tropa é alimentada no “rancho”). 

Se é duro para aquartelados ver um general ser desmanchado diante de políticos, imagine se a acusação de faltar com a verdade parte de uma mulher!

Que o Senado, intimidado, não se perca pelo acovardamento. Pazuello não é um ator isolado na trama macabra que vitimou milhares de homens e mulheres.


O militar é um servidor público muito bem pago pela sociedade. Que a sociedade, representada pelos parlamentares, cobre suas responsabilidades e o mande de volta aos seus afazeres institucionais.


*Manuel Domingos Neto,  é historiador, professor universitário,  pesquisador. escritor, ex-deputado federal e membro da Academia Parnaibana de letras. 

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