quinta-feira, 16 de novembro de 2023

ESTÓRIAS QUE O POVO CONTA

 Traz uma geladinha aí Jairo!

Costumeiramente,   antes de pegar no sono,   procuro ler alguma coisa.  Na noite de ontem, quarta-feira, 15 de novembro, escolhi o livro Seleta em Verso e Prosa  do consagrado professor e poeta parnaibano Alcenor Rodrigues Candeira Filho.

 


Em Seleta em Verso e Prosa, lançado em 2010, Alcenor apresenta textos sobre fatos da história da Parnaíba, dos autores e livros parnaibanos, exercícios de metalinguagem, além de nos apresentar belos poemas de sua autoria.

Ao folear a página 199 encontro o poema SANBDOVAL(*) no qual o poeta homenageia um flanelinha que ficava a vigiar os carros dos alunos e professores do Campus Ministro Ris Velloso, pertencente então à  Universidade Federal do Piauí. 

Sandoval, como o poeta afirma em um dos seus versos era um pretinho velho e bom. Gozava da estima, consideração e respeito de todos.

Ao ler o poema de Alcenor, me veio à memória o Bodão, cujo nome verdadeiro era Domingos, porém o sobrenome,  não lembro no momento. Bodão era flanelinha e ficava a vigiar e lavar  carros em frente à Caixa Econômica Federal. Tal qual o Sandoval,  também era estimado e respeitado por todos que o conheceram. Ficou um bom tempo vigiando e lavando carros em frente ao Hotel Cívico na Avenida Chagas Rodrigues, até que, neste período de pandemia veio a falecer. Usava uns calções bem folgados que quando abaixava-se para lavar ou enxugar as calhas dos pneus dos automóveis e por não usar cuecas,  os testículos  ficavam a mostra, provocando sorrisos a todos que por lá  passavam, principalmente pelas pessoas do sexo feminino.

Dizem que era titular de  uma das grandes contas de poupança da Caixa Econômica.

Habitualmente, por volta do meio dia, dirigia-se à Discolândia de propriedade do senhor Jairo Medeiros, situada à Rua Pires Ferreira,  para tomar uma Coca-Cola e aliviar o calor. Jairo tinha por costume, quando alguém pedia uma cerveja, ao abrir a garrafa colocava primeiramente em sua caneca de alumínio, maior que o copo americano, aí então servia ao freguês. Claro que ele só fazia isso porque todos que lá frequentavam eram seus amigos.

Um certo dia Bodão chegou no horário habitual e disse:

Traz aí uma bem geladinha Jairo!

Atendendo o pedido, o pedido, Jairo fez o procedimento de costume e colocou a garrafa e um copo no balcão onde Bodão estava sentado  em um banco quase da mesma altura do balcão.

O flanelinha olhou para a cerveja, ficou desconfiado, aguardou alguns minutos e em voz alta (aliás só falava em voz alta) e bradou:

 Jairo, eu tou com pressa. Me traz aí uma geladinha.

Jairo Medeiros  apontou para a garrafa e o copo e disse:

— Tu tá cego? Taí tua cerveja.

Bodão respondeu: "tu sabes que eu não tomo cerveja. Só bebo Coca-Cola. Jairo colocando as duas mãos na testa cobrindo os olhos,  exclamou:

— Oh!, meu fí duma é... não faz isso comigo não, rapaz!

O que aconteceu entre Domingos e Jairo Medeiros SÃO ESTÓRIAS QUE O POVO CONTA...

Jairo Medeiros, Waldick Soriano, Luze (o menino não identifiquei
e o jornalista Batista Leão



(*) SANDOVAL


Que estranho mistério é esse, Sandoval, 

que te leva a guardar os automóveis, 

a servir aos automóveis, 

que são feitos para servir ao homem?

Parece que amas o automóvel

como se o automóvel te amasse.

Uma Carona pelo amor de Deus,

 é isso que te satisfaz?

Dez cruzeiros, por noite adormida

 é isso que te satisfaz?


Sandoval, pretinho velho e bom,

que te esperas de teus automóveis?





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