domingo, 13 de junho de 2021

TE PEGO LÁ FORA!

Por Carlos Pontes *








Nos tempos colegiais e durante os recreios vez em quando rolava um desentendimento entre os alunos. Muitas vezes começava mesmo na sala de aula. Olhares irados, ameaças e outros. Quando éramos conduzidos aos recreios, ameaçavam-se mutuamente. Muitas vezes era preciso a intervenção de um professor, inspetor ou bedel para apartar as desavenças. Findo o recreio, retorno às salas, esqueciam um pouco. No entanto ficava a "marcação". Passavam dias, semanas. No entanto quando um cismava com o outro as ameaças aumentavam. E tem aqueles dias que desmantelam ambos. Se olham feio na sala, no recreio... eis que num dado momento dão aquela peitada na porta do banheiro e se "armam" para os bofetes. Começa a gritaria e logo a coordenação vai saber do que tá rolando. Em meio ao sangue quente, camisas manchadas e uma até rasgada nas mangas, a fala de um deles:

- Te pego lá fora! Te pego lá fora!

Findo o começo de conflito são encaminhados à direção. São chamados à atenção, a família comunicada. Suspensão de uma semana para ambos.

Findo o tempo do afastamento, voltam meio cabisbaixo, sendo que os "colegas" brigões sequer olham um para o outro. 

Término de semestre. Rotina de aulas encerram. 

Férias, férias... 

Circunstancialmente em cidades do interior as pessoas se encontram mais facilmente. E um desses dias e momentos os dois brigões cruzam-se numa rua estreita de bicicleta. Quis o destino amargo que as bicicletas se cruzassem e batessem uma na outra. 

Nesse caso ninguém precisou ameaçar um ao outro: te pego lá fora!

Te pego lá fora! 

Afinal de contas estavam literalmente "lá fora"...

O resto da história eu deixo por conta do leitor.

 *Carlos Pontes, natural de Juazeiro do Norte-CE, é poeta, violeiro, autor,  editor e um grande incentivador da cultura literária de Parnaíba.


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