Por Fernando Basto Ferraz *
Crédito imagem: 180 graus.com |
Toda cidade possui seus símbolos que a identificam e lhe dão personalidade. Em Parnaíba o Porto das Barcas é um desses símbolos.
Foi no Porto das Barcas que a cidade de Parnaíba se fez e prosperou a partir do empreendedorismo do português Domingos Dias da Silva, procedente do Rio Grande do Sul, que comercializava seus produtos diretamente com as cidades do Porto e Lisboa, em Portugal, com a autorização da Rainha D. Maria I.
Não importa que o embrião de nossa cidade tenha acontecido no povoado Testa Branca situado próximo ao aeroporto de Parnaíba. Foi no Porto das Barcas que nossa cidade firmou-se com sua pujança econômica.
Ainda é tempo de parabenizar e agradecer ao grupo de parnaibanos que tomaram para si a iniciativa bem sucedida de revitalizar todo o acervo das edificações do patrimônio histórico existente no perímetro do nosso Porto das Barcas que se encontrava abandonado, em ruína.
Toda a polêmica sobre a homenagem que o Governo do Piauí quer prestar à memória do ilustre e empreendedor João Claudino, já falecido, ao dar seu nome ao Porto das Barcas constitui uma agressão a esta cidade, ao seu povo, à sua história rica de empreendedorismo, ousadia, independência, pioneirismo.
Não se discute os méritos do homenageado, que ao longo da vida conquistou o respeito e a admiração dos piauienses como empresário de muitas empresas bem sucedidas no Piauí.
O que tem provocado estranheza, inconformismo, aborrecimento aos parnaibanos com o pretendido ‘Porto das Barcas João Claudino’ é a percepção de que ele não criou vínculos com a cidade de Parnaíba para receber tal homenagem.
João Claudino, ao contrário do que ocorria com frequência em Teresina, sequer era visto nas ruas e eventos sociais desta cidade de Parnaíba. Na verdade, ele passou a ser lembrado, com indignação, por ter demolido o belo prédio da avenida Presidente Vargas, no centro da cidade, onde funcionou o Escritório de Representação da Companhia de Navegação inglesa Booth Line para, no lugar, construir um prédio com formato de caixão, próprio para funcionamento de armazém de secos e molhados, onde instalou uma de suas lojas do Armazém Paraíba.
De positivo, essa demolição, até hoje lamentada na cidade, despertou nos parnaibanos a iniciativa de não mais permitir a destruição do acervo do patrimônio histórico de suas edificações, hoje preservados pelo IPHAN.
Trata-se de mais um mau exemplo de agressão, prepotência de singular astúcia política que poderia ter sido evitada se o Governo do Estado do Piauí tivesse usado o bom senso de previamente ouvir o Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Parnaíba, além da Academia Parnaibana de Letras,como bem lembrou o acadêmico Pádua Marques.
O Piauí tem se destacado nas homenagens que presta a seus filhos ilustres, figuras públicas, quando os imortaliza com nomes de cidades de baixo IDH, com população de no máximo 5.000 habitantes, com o conforto de não ser incomodado com a resistência de uma oposição aguerrida. Já são mais 50 cidades piauienses com nomes de pessoas – versão atual do coronelismo regional que atende aos interesses de projetos de poder que se propõem continuar existindo ‘ad eternum’.
A nós, parnaibanos, cabe o papel de lutar, de resistir contra tal decisão precipitada, inoportuna, descabida, de acrescentar ao Porto das Barcas o nome do respeitado empresário João Claudino que em vida jamais cultivou laços afetivos com Parnaíba e o seu povo.
Convém ser lembrado sempre que o Porto das Bascas permanece sendo o símbolo maior da pujança econômica da cidade de Parnaíba. Por esta razão, convém que permaneça apenas com este nome por melhor harmonizar-se com sua história.
Se, contudo, permanecer a intenção do Governo do Piauí de homenagear João Claudino nesse lugar, que o faça dando seu nome ao Museu do Mar que acaba de criar naquele lugar. A história e os valores da cidade de Parnaíba não se negociam, não podem ser ignorados por seus governantes de ocasião, seja a nível municipal ou estadual, sob pena de perderem o respeito e a legitimidade de suas ações perante a história e a memória de nosso povo.
Viva Parnaíba! Viva a terra de Simplício Dias da Silva, que não se curvou e nem se acovardou perante as agressões e provocações de decisões políticas equivocadas, inoportunas, agressivas de iniciativa daqueles que momentaneamente detinham o poder e a condução de seu destino.
A cidade de Parnaíba e o seu povo exigem respeito!
(*) da Academia Parnaibana de Letras e da Academia Cearense de Cultura
Realmente concordo com a ideia, muito óbvia por sinal, de não batizar o Porto Salgado, vulgo Porto das Barcas, com uma denominação estranha a história e cultura nativa dos parnaíbanos.
ResponderExcluirVale dizer que sou bisneto do senhor (in memória)Joaquim Ferreira dos Santos, que juntamente com outros senhores e senhoras negros, brancos e índios deram a vida, derramaram sangue e, suor - alguns literalmente falando, pela construção do local em tela e manutenção das atividades que ali eram reproduzidas diariamente.
A estes sujeitos cabe o esquecimento eterno e o desconhecimento por parte das autoridades e muitos parnaíbanos e parnaíbanos ? Até quando?
Um artigo muito bem escrito, prefiro não comentar, como dizia o colunista social RUBENS FREITAS, Parnaíba tem história e como tem.
ResponderExcluirParabéns Fernando! Vc foi preciso em suas palavras. É desse tipo de Parnaibano que estamos precisando.
ResponderExcluirEsplêndido texto!
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