Corria o ano de 1994. Eu, então diretor do Sindicato dos Bancários do Maranhão na Regional de Chapadinha fui a São Luis para uma reunião sindical e simultaneamente um treinamento. Ainda não tínhamos os alojamentos para hospedagem dos associados da entidade.
Localizado na Rua do Sol (Rua Nina Rodrigues) no centro de São Luis, hoje o SEEB-MA dispõe de alojamentos equipados com ar-condicionados, camas beliches, tudo em perfeitas condições de hospedar seus associados em vez de deslocá-los para os hotéis da cidade como era feito anteriormente.
Foi numa dessas idas à capital maranhense que conheci grande astro da musica "soul americana"(jazz e blues) Billy Paul, intérprete de "Me and Mrs. Jones", "July,July,July" e muitas outras que ganharam os primeiros lugares nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e de outros países.
Cá com meus botões pensei: "deve ser alguém metido a besta, daqueles chatos e ainda mais para querer aparecer bota o aviso com a inscrição em inglês.
À tarde recebo a visita do conterrâneo Carlos Antonio Fonseca Soares, até então policial federal, hoje desfrutando as benesses da aposentadoria. Carlos Antonio é casado com a Crisalis, assistente social, sua prima e também prima de minha esposa.
Sentamo-nos, eu e Carlos Antonio, à mesa de uma das cabanas que situadas à borda de uma piscina ao ar livre de onde podíamos ver a beleza do "descampado verde da praia do Maranhão" (Nonato Buzar) denominada de Ponta d'Areia e ainda ouvir nitidamente "le bruit des vages" (o barulho das ondas) do mar até certo ponto distante de onde estávamos, visto a maré ainda não ter atingido a preamar.
Preferimos ficar na cabana em frente ao quiosque a fim de dispensarmos o atendimento do garçom e evitar os dez por cento da gorjeta. A mais ou menos 10 metros de distância de onde estávamos um grupo de rapazes e moças conversavam alegremente e divertiam-se degustando alguma bebida. Em dado momento um dos jovens do grupo dirige-se ao quiosque e fala para a garçonete: "a glass please!" - um copo por favor - e com o indicador apontou para um conjunto de taças que estavam na prateleira ao lado de umas garrafas de bebidas.
A garçonete naturalmente por não saber falar a língua inglesa não entendeu o que dissera o jovem rapaz, passou então a apontar garrafa por garrafa perguntando: "é essa? É essa?" ao que ele respondia balançando a cabeça:" no, no, a glass. A glass please!" Foi então que resolvi interferir e disse à moça: — ele quer um copo. O rapaz sorriu, agradeceu-me e falou: "oh! si, a côpo. Thank you!" Em seguida apresentou-se como sendo integrante da banda musical que acompanharia o show do cantor Billy Paul no Teatro Arthur Azevedo naquela noite de sexta-feira. Convidou-nos para o show e para irmos sentar com eles na cabana onde estavam. Agradeci, mas preferi ficar com o Carlos Antonio onde já estávamos sentados apreciando a beleza do mar, acompanhados naturalmente por uma deliciosa caipirinha.
À noite recebo visita de Romildo Canavieira (cunhado de Carlos Antonio), Bibelô (Antonio Flávio), Covarde (Raimundo Nonato, de saudosa memória) Neto do Belarmino (Raimundo Rodrigues de Almeida Neto) e mais um outro cujo nome me fugiu à memória. De início consumimos todas a "latinhas" e "long neks" (pescoços compridos rsrsrs) existentes no frigobar do apartamento. Pedimos à portaria do hotel que providenciasse um reabastecimento, o que foi feito com precisão, graças também à interferência do Neto do Belarmino que tinha sido funcionário da casa.
Conversa vai, conversa vem, piadas, falatórios da vida alheia etc. e tal, resolvemos sair para darmos uma volta na Avenida Litorânea, ponto máximo da vida noturna ludovicense, onde na barraca do meu amigo José Henrique, neto do coronel Paulino Neves fundador de Tutóia, ou então na Barraca do Deusimar, tomaríamos aquele saboroso caldo de sururu, uma das delícias da culinária maranhense, acompanhado claro, por uma "ceva" super gelada.
Ao descermos para o térreo com propósito de pegarmos um táxi, encontramos no "hall" de entrada do hotel, Billy Paul e sua equipe. Estavam retornando, após o show, para o descanso pois às cinco da matina teriam que pegar um voo para Manaus para uma apresentação, no dia seguinte, naquela importante cidade da região amazônica.
Já com uma "duas na cabeça" aproximei-me e ousei cantar em inglês a primeira estrofe da letra da canção All The Way a qual constava também em seu repertório: "When somebody loves you/It's no good unless he loves you all the way..." Foi o suficiente para que ele se aproximasse, abraçasse-nos um por um e convidou-nos para acompanhá-lo ao apartamento dele ( o que ficava em frente ao meu). Preferi que ficássemos mesmo no qual eu estava.
Foi uma uma algazarra total que fiquei até receoso de sermos repreendidos pela direção do hotel. Mas nada! Foi bagunça , como disse, algazarra total! Alegria mesmo! Em determinado momento, Billy Paul ausenta-se por uns minutos e retorna em seguida com a camisa feita uma espécie de sacola e cheia de latinhas de cervejas. Jogou as cervejas em cima da cama gritando palavras que não as pude compreender. Depois distribuiu autógrafos para todos nós. Do nosso grupo apenas eu falava inglês e tive que servir como intérprete dos demais.
Billy Paul, de tão alegre, encantado que estava conosco, só não perdeu o voo que o levaria à capital manauara porque fora "quase que retirado à força" do nosso apartamento pela equipe que o acompanhava.
Foram momentos, de fato, inesquecíveis esse encontro casual com um dos maiores ídolos do "soul music" americano e que muitas saudades deixou quando em 24 de abril de 2016 foi morar no céu.
Imagem: Google Image |
Que massa! Amei o relato desse Amazing day. E ao ver o seu autógrafo, lembrei dos que eu tinha!
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