João Francisco Batalha *
As moendas
de cana-de-açúcar, em território do
atual município de Arari, superaram mais
de duas dezenas, entre engenhos bangüês e
engenhocas movidos pela atração animal (boi) e
chegaram a fabricar cerca de
vinte mil arrobas de açúcar por período de moagem. A primeira que se teve
noticia foi o Engenho Vera Cruz que ficava no Sítio Velho, distante 27 léguas
da capital por vias fluvial e marítima e foi propriedade de
Manoel Beckman, ainda na segunda metade do no século XVII. Na primeira metade
do século seguinte, foi a vez do Engenho Grande, que deu origem o povoado do
mesmo nome. Ficava a mais de uma légua
da povoação do Arary, à sua montante, e
pertenceu a Bernardo Pereira de Berredo e Castro.
Fabricavam
açúcar bruto, o mascavado,
obtido pela evaporação da seiva da cana sem aditivos químicos no processo de fabricação e refinamento natural. Pronto,
o produto, este era colocado em cofos de palha de babaçu e posto em deflúvio e
secagem, onde passava em média três dias para então ser pesado e exportado.
O Engenho Babilônia, sede da fazenda Nova
Austrália, pertencente ao coronel José
Antônio de Oliveira, (foi o segundo mandatário do município de Arari e pai do Barão de Itapary) localizava-se nas Flecheiras, sendo movido a vapor e
reputado como um dos mais importantes engenhos do Maranhão, onde se produzia um dos melhores açúcar do
Estado.
Com exceção destes e dos engenhos de
propriedade dos senhores José
Antônio Fernandes, que ficava no Carmo;
Antônio Filipe Pimenta Bastos, na adjacência da própria vila do Arari; Leocádio
Antônio Bogéa, no Monteiro; Ivo Cândido
da Silva Batalha, no Barreiros; Pedro
Lima Saraiva que, posteriormente, pertenceu
a Cipriano Ribeiro dos Santos e ficava na
Baixinha do Ubatuba; Leovegildo Ericeira Pinto, que ficava na Tresidela
do Arari; entre outros, também
classificados no quadro dos melhores do município, a maioria eram engenhos bangüês, com técnicas primitivas
e moagens movidas à roda
hidráulica, puxada a boi. Moendas de média produção, com evaporação do caldo em
grandes tachos, aquecidos por
fogo a vapor gerado a lenha e bagaço da própria cana. Existiam
também, as engenhocas que produziam cachaça,
açúcar e rapadura. Duas cachaças se
sobressaíram no município; a Farra Feliz, produzida no engenho
Santa Margarida, do senhor Cipriano dos Santos
e a São José, fabricada no engenho do Leó Pinto, vendidas na capital e em
municípios vizinhos, com engarrafamento próprio, rótulos impressos, padronizados e selos de anuência alfandegária. Vale ressaltar que era tida como uma das melhores da terra e
vendida e consumida, também, em municípios vizinhos a Cachaça do Lauzino, lambicada pelo
cachacier João Gualberto, que tinha como
auxiliares os filhos João Gordinho e
Piquirito. A Cachaça do João Luís era fabricada no Barreiros e também uma das
preferidas dos etilista que valorizam água
que passarinho não bebe e
que tubarão não nada.
Entre as dezenas de produtores de açúcar, mel, melado, cachaça e
rapadura, existiram em solo arariense, o da Saramanta
que pertenceu a José Joaquim Batalha; no Sítio, os que pertenceram a Veríssimo de Souza Garros, Raimundo Bento de Souza e Zelino de Souza; na Curva da Mucura, a Julião Boaventura de
Souza; no Bonfim os pertencentes a Patrocínio Lopes e Nascimento; na Tresidela do Bonfim, o que pertenceu a Jacinto Antônio Leite e sucessivamente a Ivo Cândido Batalha, Raimundo Nonato Batalha e Joaquim José da Costa;
no Barreiros que foi propriedade de Ivo
Cândido Batalha e sucessivamente a Pedro
Lima Saraiva, Abraão Salomão, João Nunes Ribeiro e João Luís dos Prazeres; o do
Santo Antônio que pertenceu a Ivo Batalha; os da Tresidela do Arari, que pertenceram a Thiago Chaves, Domingos Chaves, Lucas Bogéa e Leovegildo Ericeira Pinto; os da
Rabela, os foram propriedades de Rafael Antônio
Fernandes e Julião Boaventura de Souza;
o da Sapucaia que pertenceu Ladislau
Antônio Sousa; o do Carmo que pertenceu José
Antônio Fernandes; o do Quebra-Coco que pertenceu a Francisco Raimundo Sarmento; o da Ilha Grande que
pertenceu a José Joaquim dos Santos; e o da Boa Esperança que pertenceu a Francisco
Oliveira. Existiram, também, engenhos fazenda
e plantações de cana de açúcar no Vassoural, Curral da Igreja,
Patarral, Fazenda do Carmo, Arraial, Manoel
João, Macaquiçá os quais não identificamos os nomes dos seus proprietários. Os proprietários de engenhos gozavam de
privilégios perante ao povo e às autoridades. Os bangüêzeiros, que eram trabalhadores braçais,
quando solteiros, trabalhavam e viviam em
alojamentos nos próprios engenhos. Cada qual cumpria sua tarefa. Existiam os Açucareiros, que eram o Mestres do Açúcar; os Lambedores
ou Lambiscadores especialista no preparo
da cachaça; os foguistas, encarregados de tocar fogo na fornalha; os botadores
de cana, encarregados de fornecer a moageira; os bagaceiros, responsáveis pela tirada do
bagaço da área interna do engenho; os cambiteiros
que conduziam os carros e tocavam os bois boi;
os plantadores, os cortadores e os transportadores de cana.
Plantio totalmente manual e a variedade da gramínea se concentrava entre Cana Caiana,
Pernambuco, Criola e Cana Roxa, por serem as mais resistentes à praga.
Para obter uma boa produção de cana bastava o cultivo em terra fértil, cuja área propícia se acentuava nas duas margens do
extremo baixo Mearim, em área do atual
município de Arari, do Engenho Grande ao
Vassoural.
Imprescindíveis para os donos de engenho, os carros e as juntas de boi. Carros
que produziam um rangido característico
através de uma peça de madeira no eixo a qual
se dava o nome de Cucão. Existiam
também, os plantadores de cana independentes,
fornecedores com quem os proprietários dos engenhos dividiam em meiação o
resultado do produto colhido. A matéria prima era transportada para os engenhos
em carros de boi, puxados por uma junta de novilhos. Os engenhos eram dotados
de potentes apitos que chamavam os trabalhadores para a faina, e, também, os
avisavam na hora do almoço e do descanso. O Bangüê era o
engenho movido por força animal através de uma engrenagem de madeira com
cilindros em base circular em forma de
gangorra, puxado por bois adestrados,
emparelhados por cangas e separados por cambão.
O ciclo econômico do açúcar em terras arariense prevaleceu entre a
segunda metade de século XVIII até as
primeiras décadas do século XX, com ênfase, durante todo o século XIX.
Quando criança, frequentei e
me deliciei nos produtos dos engenhos do Senhor Veríssimo Garros, que ficava no
Sítio Velho; do Senhor João Luís dos
Prazeres, no Barreiros; do Senhor
Leó Pinto, na Tresidela do Arari e do Senhor Lauzino Souza, que ficava na
Rabela do Santo Antônio.
Conheci também, o da Capoeira
Grande, era bangüe pequeno. Havia na casa do meu avô Mundico Batalha, uma
engenhoca grande, movida a propulsão
humana destinada a extração de garapa para consumo dos familiares e para todos os trabalhadores que
laboravam em volta das atividades da família, também destinado à extração do caldo
da cana, através do processo de moagem pela separação da fibra, para fazer
vinagre.
* Presidente da Federação das
Academias de Letras do Maranhão.
Engenho Santa Margarida
Casa que
pertenceu ao pecuarista Cipriano Ribeiro
dos Santos.
Foi sede do Engenho Santa Margarida
e centro
de decisões políticas do Arari, entre o final
da
terceira e início da sexta década de do século XX.
Crédito fotográfico de João Francisco Batalha.
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