DIÁRIO
[Dia
dos Pais]
Elmar
Carvalho
09/08/2020
Apesar
da quarentena por causa da covid-19, peguei uma tosse e uma espécie de gripe ou
resfriado, de modo que ainda estou um pouco convalescente, mas posso dizer que
com saúde. Fiz exame para detecção do novo coronavírus, mas o resultado foi
negativo. Logo cedo fui parabenizado pela Fátima pelo Dia dos Pais.
Meu
maior presente foi estar com saúde, ao lado de minha mulher e meus filhos,
Elmara e João Miguel, que veio do Amazonas passar uns dias de folga conosco.
Meu outro presente foi um café da manhã reforçado, saboroso e variado, que foi
pedido pelo sistema delivery. Acompanhava os quitutes um bonito cartão, enviado
pela empresa, mas cuja ilustração era uma fotomontagem elaborada pela Elmara.
Design criado por Elmara Carvalho |
Estive
propenso a nada escrever, e simplesmente postar em meu blog minha crônica
memorialística Retrato de meu pai, mas em virtude de que ela ainda me causa
alguma tristeza, por causa da morte posterior de papai, resolvi fazer a sua
republicação virtual no próximo ano, na data de seu aniversário ou no Dia dos
Pais. De qualquer sorte esse texto já se encontra disponível na internet.
Não
posso deixar de recordar que, quando infante, fui assistir a filmes,
espetáculos circenses e partidas de futebol, levado por meu pai. Fui também a
umas poucas pescarias conduzido por ele, ocasião em que aproveitava para tomar
um gostoso banho de água doce. E uma vez fui de trem, de Campo Maior a
Piripiri, passar um final de semana nesta cidade, onde residiam alguns parentes
maternos e paternos. Já não recordo se a locomotiva era uma velha e fuliginosa
maria-fumaça, que vi algumas vezes em minha infância, ornada por sua cabeleira,
feita de vento e fumaça.
Neste
ponto evoco o grande poeta Manuel Bandeira, que em Itinerário de Pasárgada faz
inúmeras referências a seu pai, numa das quais diz: “Quando meu pai era vivo, a
morte ou o que quer que me pudesse acontecer não me preocupava, porque eu sabia
que pondo a minha mão na sua, nada haveria que eu não tivesse a coragem de
enfrentar. Sem ele eu me sentia definitivamente só. E era só que teria de
enfrentar a pobreza e a morte.”
Sem
dúvida, ele pensava em sua condição de tísico e de
solitário, solitário sobretudo no sentido de que nunca constituiu
família. Ele tinha muito apego ao pai, pela cumplicidade afetiva que sempre
existiu entre ambos, e pelos cuidados e quase devoção que o pai lhe dispensava.
Por isso mesmo, no “Poema de Finados”, ele escreveu estes versos pungentes,
refinados e elegíacos:
“Amanhã
que é dia dos mortos
Vai
ao cemitério. Vai.
E
procura entre as sepulturas
A
sepultura de meu pai.
Leva
três rosas bem bonitas.
Ajoelha
e reza uma oração.
Não
pelo pai, mas pelo filho:
O
filho tem mais precisão.”
Mas
deixemos de tristeza, que já não estou triste. Estou alegre em estar vivo,
saudável, esperançoso, confiante, apesar da pandemia, e ao lado de minha mulher
e de meus filhos, em paz e em harmonia. E creio ser isto o de que mais
necessitamos. O mais virá por acréscimo.
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