A NOVA E ENCANTADORA GARÇONETE
Da minha amiga e conterrânea Lígia Bessa, residente em Fortaleza-CE e casada com o Afrânio, funcionário aposentado do Banco do Brasil, recebo via whatsapp uma postagem com o título de ENTREVISTA MUSICAL que começa da seguinte forma:
1- QUANDO VOCÊ NASCEU ?
Eu nasci há dez mil anos atrás. E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais. ( Outra vez )
2- ONDE VOCÊ MORA ?
Moro num país tropical, abençoado por Deus,e bonito por natureza... Que beleza !...
Essa postagem me fez lembrar de um fato que aconteceu comigo quando residia em São Luis, capital do Maranhão que possui também toponímios de "Ilha Rebelde" "Ilha do Amor" "Cidade dos Azulejos" etc..
Assim motivei-me a escrever ESTÓRIAS DA ILHA REBELDE, sendo esta a primeira, que recebe o título de
A NOVA E ENCANTADORA GARÇONETE
Imagem meramente ilustrativa google images |
Costumeiramente, às sexta-feiras, após o expediente da repartição na qual trabalhava, dirigia-me ao Bar e Lanchonete Aconchego, localizado na Rua do Passeio ao lado do cinema que levava o mesmo nome da rua - Cine passeio, para saborear o que já era tradicional na casa - açaí com farinha de puba e camarão torrado.
Nessa época eu era funcionário público do estado do Maranhão, lotado na Secretaria de Interior e Justiça, em emprego que me fora arranjado pelo sr. Cícero de Neiva Moreira, influente político da época e um dos primeiros Conselheiros do Tribunal de Contas do Maranhão instalado em 1947 pelo então interventor Saturnino Bello.
Cícero Neiva e meu pai Moysés Pimentel eram compadres. Ele, então Ministro do Tribunal de Contas do Estado e Secretário do Interior e Justiça nos governos José Sarney e Pedro Neiva de Santana, arranjou-me o emprego no cargo de Auxiliar de Administração com um salário até certo ponto alto comparando com o trabalho por mim executado.
A Secretaria ficava na Rua Grande (Rua Osvaldo Cruz) ao lado da Mercearia Neves, a menos de 500 metros para a Rua do passeio, desta forma que, na sextas-feiras ao término do expediente ao dirigia-me ao Aconchego saborear a especialidade da casa - açaí (jussara) com farinha de puba e camarão torrado . Às vezes acompanhavam-me também o Benito Neiva jornalista e funcionário da repartiçao, filho do Ministro e irmão do então deputado Wilson Neiva, o Zacarias, "bom de cana" assim como eu, e irmão do professor Inácio Castro, conceituado professor da Escola Técnica Federal do Maranhão, o "seu" Caiçara, motorista da repartição e mais algum que não lembro agora.
Quando o Benito nos acompanhava eu acahava bom, tendo em vista que ele pagava toda a despesa.
O Bar a Restaurante Aconchego, de aconchegante não tinha nada. Era um corredor grande, de aproximadamente 10 ou 15 metros de comprimento por 3 ou 4metros de largura e no final do corredor um banheiro não muto bem cuidado como é a maioria dos banheiros de certos bares e em seguida, a Caixa Registradora numa espécie de meia parede que servia como balcão onde ficava seu Miguel, um português gordo e bigodudo que tinha também uma venda de caldo de cana num box do abrigo da Praça João Lisboa. A cozinha ficava logo atrás do local onde seu Miguel se postava.
As mesas eram dispostas encostadas às paredes de um lado e do outro de modo que apenas três pessoas tinham acesso sentadas à mesa. Ao centro uma passarela para o trãnsito dentro do estabelecimento. Os dois ventiladores de teto existentes, não eram suficientes para dirimir o calor existente no local, mas este logo logo era esquecido depois de alguns goles da Cerma* bem gelada, outra especialidade da casa - cerveja super gelada.
Diziam os antigos que quem tomava açaí não podia beber cerveja. Mito! Apenas mito! Açaí e cerveja casam muito bem, pelo menos para mim, nunca fez mal.
Naquela sexta-feira fui sozinho ao Aconchego. Sentei-me na primeira mesa à esquerda após a porta de entrada. Tenho por hábito sempre sentar-me na mesma mesa de quando visitei um bar, lanchonete, ou restaurante pela primeira vez, se esta não estiver ocupada, naturalmente.
Ao observar o movimento do bar percebi que a Judite, a garçonete que sempre nos atendia não se encontrava no recinto, mas sim outra, por sinal muito faceira e sorridente.
Judite era uma preta carrancuda, não sorria pra ninguém embora atendesse a todos com distinção, pois no fundo era uma alma boa.
Quedei então a imaginar o que poderia ter acontecido a Judite. Será que seu Miguel despachou a menina porque ela tratou mal algum freguês? Será que adoeceu? Já estava acostumada com ela apesar de que o charme e a elegância da nova garçonete estivesse mexendo com meus miolos, isto é, estava me atraindo.
Absorto em meus pensamentos fui surpreendido quando a nova e encantadora garçonete, com um sorriso de fazer inveja a Monalisa ou a Afodite, e com uma elegância ímpar aproximou-se da minha mesa e sem pronunciar qualquer palavra entregou-me um pedaço de papel acompanhado de um lápis com a indicação de que eu escrevesse alí o meu pedido.
A nova garçonete foi o alvo de todos os olhares masculinos nesse dia! Quando transitava no atendimento às mesas, parecia bailar segurando a bandeja com a mão esquerda, e a direita com o dorso na cintura, sem perder o charme e o equilíbrio. Ao voltar à minha mesa para pegar o pedido não resisti e perguntei o seu nome e de onde ela era. Foi então que ela estendendo a mão direita como quem queria alisar meu rosto e com um vozeirão mais pra Caruzo do que pra Gal cantou parodiando a música do marinheiro só ou marinheiro sou:
Eu não sou daqui
Não sou não senhor
Eu sou da Bahía
E o meu nome é amor.. (bis)
Ô marinheiro marinheiro...
A nova e encantadora garçonete não passava de um travesti, ou seja um qualira ou coalira como se chama em São Luis.
*CERMA - Cerveja fabricada no Maranhão pela Cervejaria Maranhense S/A
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