Manuel Domingos Neto (*) |
Aos dez anos de idade, conhecí Fernando, que morava em Itapiúna, interior do Ceará, num lugarzinho onde o único carro que circulava era o jipe de meu pai.
Fernando montava carneiros e jumentos, dava saltos incríveis no açude, pegava cobra com as mãos, conhecia os ruídos da caatinga, era incrível na baladeira, que os cariocas chamam de estilingue. Fernando era o máximo!
Consegui levá-lo para passar uma semana em minha casa, em Fortaleza. Que surpresa! O pobre se amedrontava com os carros.Tinha medo de andar na calçada. Não sabia usar vaso sanitário, nunca tinha visto um garfo nem conseguia dormir em cama. Apavorado, repetia: “medo monstro”!
É a expressão que me ocorre quando o STF reconhece o direito de Lula de conceder entrevista aos jornalistas Florestan Fernandes e Mônica Bergamo.
O poderoso delegado da Polícia Federal que custodia Lula e é subordinado ao poderosíssimo ministro da Justiça amarelou. Pretendeu selecionar jornalistas de confiança para monitorar o trabalho de Florestan e Mônica. O STF disse: isso não se faz!
O líder popular condenado sem prova falará, depois de mais de um ano de cárcere. Sua voz rouca chegará aos quatro cantos do mundo. Seus cabelos brancos emocionarão muita gente. Sua condição de prisioneiro político estará ainda mais escancarada.
Alguns lembrarão Cecília Meireles: “Toda vez que um justo grita, um malvado o faz calar, quem não presta fica vivo, quem é bom mandam matar”.
Gostemos ou não, há brasileiro mais importante que Lula?
Pense no medo monstro dos que estão mandando no Brasil!
Manuel Domingos Neto é historiador, professor universitário, pesquisador, político, escritor e membro da Academia Parnaibana de Letras -APAL.
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