domingo, 26 de dezembro de 2021

O NATAL DA MINHA INFÂNCIA

                      Em Tutóia, época de minha infância não tínhamos enfeites, adornos ou luzes multicoloridas nas praças,  logradouros públicos ou nas lojas da cidade,  como presenciamos hoje  em todas partes do mundo.

                        Poucas famílias  possuíam árvores de natal em seus lares, a não ser as  mais abastadas mas,  mesmo assim,  não eram grandes como as de hoje, com pisca-pisca, efeitos luminosos e tantos outros artifícios que a tecnologia proporciona.

                        Uma que que chamava a atenção de nós meninos da época, era a do farmacêutico Olívio Bessa. Tinha um metro e oitenta centímetros de altura. Seu Olívio contava com a ajuda das filhas para  montar sua árvore enfeitada com  bolas coloridas de diversos tamanhos, anjos, estrelas e os demais adornos que compõem as árvores de natal.Apesar de grande e conter muitos enfeites a árvore ficava pronta em apenas um dia.

                         Na noite do dia 24, para celebrar a vinda do salvador da humanidade, seu Olívio reunia familiares e amigos em sua residência, na Rua de Nazaré, nas proximidades da casa de meus pais, e ao som de músicas natalinas e de outras músicas reproduzidas através de uma eletrola  "standard eletric", por discos de  vinil, comemoravam, confraternizavam-se, na  maior alegria, tudo na mais perfeita harmonia.  Olívio Bessa e José Matos Silva, na minha opinião,  possuíam o maior acervo de discos de vinil de Tutóia à época.



                       As lojas,  poucas ainda na cidade, enfeitavam-se para o Natal. Na Rua Senador Leite, a loja C B Neves, da Sra. Clotildes Brandão Neves,  recebia decoração especial pois ficava aberta na noite do dia 24 para a venda de presentes, até o horário que a Usina Vitorino Freire permitisse a energia elétrica. O bar da tia Dalva e  João Ambrósio que era bem próximo ao cais do porto e o preferido pelos embarcadiços e mais umas outras casas de comércio situadas na Rua Senador Leite e que encerravam seus expedientes às 18 horas. Apenas a C B Neves e os bares ficavam abertos à noite, como disse, até o horário que a usina elétrica permitisse, apesar de que muitos proprietários  utilizavam-se do recurso do petromax para continuarem com seus estabelecimentos abertos enquanto estivessem com clientes.

                        Outra coisa que chamava nossa atenção eram os presépios de dona Zuza Neves, viúva do coronel Paulino Neves (fundador de Tutóia) e das filhas Zelinda e Naíza  Neves Araújo.  Visitávamos todos,  mas  o de dona Naíza era bem grande e  talvez fosse o mais visitado.  Nossa alegria era tocar na cabeça de uma tartaruga (de plástico naturalmente) e vê-lo balançar diversas vezes. A tartaruga ficava em um espelho que representava um rio de águas claras e profundas. Nessa visitação ao presépio de dona Naíza eramos agraciados por seu Araújo, esposo de Naíza,  com biscoitos doces, feitos de maizena, uma espécie de não-me-toque.

                        A expectativa da criançada era o amanhecer do dia 25 e ver qual presente "Papai Noel" havia colocado embaixo da cama ou rede.  Tínhamos que nos contentar com o que recebíamos, pois não existiam brinquedos eletrônicos e se existissem não eram vendidos nas lojas em Tutóia. O que ganhávamos: bola de futebol, o brinquedo mais comum, carrinho, lancha, violão, tambor, pandeiro, gaita, pião,  pistola, etc..., tudo  de plástico e às vezes um quebra-cabeças. Muitas vezes o brinquedo era confeccionado pelos nossos próprios pais, mas não diminuía a nossa alegria, a felicidade de festejar o natal.

                        Quando prefeito, o senhor José Matos Silva instituiu a distribuição de brinquedos para crianças pobres, o que foi seguido por  prefeitos que o sucederam. 

                             À tarde, por volta das 16 horas na calçada de um bar de sua propriedade, também na Rua Senador Leite,  formava aquela fila de crianças, meninos, meninas, e até mesmo os iniciantes na adolescência como eu, e recebíamos os brinquedos das mãos do prefeito José Matos, da sua esposa, a professora Clara, da sua filha Gagaça (Maria da Graças) e de outras pessoas que os ajudavam nessa tarefa de fazer uma criança feliz, muitas das quais os pais sequer podiam comprar um presente para elas.

                        Embora Papai Noel já tivesse me visitado e trazido o meu presente, numa dessas vezes também fui para fila, meio desconfiado, pois o prefeito sabia das condições financeiras de meus pais, entretanto fui muito bem tratado por ele, ganhei uma lancha das cores vermelho, azul celeste e branco e que permaneceu em meus brinquedos por muitos anos. 

                         A tarde desse 25 de dezembro em Tutóia ficou guardada em minha memória e jamais se apagará.

Assim era o Natal em Tutóia durante minha infância, sem luxo, sem requintes mas cheio de paz, de amor de felicidades.

Texto de Antonio Gallas.

Imagens meramente ilustrativas retiradas do google images.


4 comentários:

  1. Muito bom recordar; passou na minha mente como um filme que estava guardado , muito obrigada pelo seu comentario .

    ResponderExcluir
  2. Há lembranças maravilhosas de nossos natais, tudo muito simples, onde o respeito aos mais idosos era fundamental.

    ResponderExcluir
  3. obrigada Gallas pelos elogios que fizestes ao meu pai recordando o natal de nossa casa. relembrei muito nossa infância. abraços a todos e desejo que o ano de 2022 venha com muita saúde, luz e paz.

    ResponderExcluir
  4. Iany.Obrigada gallas PELOS elogios que fizestes ao mueu pai ,recordando o Natan de nossa casa relembri muito minha imfancia.Abraços à todos e desejo que o ANO DE2022 venha com muita saude,ePAZ

    ResponderExcluir