- non... maricon, non -
Por Antonio Gallas
Quando o presidente Jair Bolsonaro recentemente chamou o povo brasileiro de "maricas" um turbilhão de lembranças afloraram à minha memória.
Àquela época, eram frequentes os desentendimentos entre estivadores e "gringos", como assim eram chamados os estrangeiros.
A palavra gringo, já adicionada ao vocabulário da língua portuguesa para designar indivíduo estrangeiro residente em, ou de passagem pelo país, surgiu no século XIX durante a guerra entre os Estados Unidos e o México, e, quem desejasse ver um desses estrangeiros ofendido, fulo da vida, que o chamasse de maricon.
Durante a guerra entre Estados Unidos e México, quando nos campos de batalha, os soldados americanos costumavam cantar a canção popular "green grows the lilacs" - os lilás (rosas) crescem verde, e quando a ouviam, os mexicanos bradavam: "a puestos porque allá vienen los gringos", que em português significa "preparem-se porque lá vêm os gringos"...
Gringo é a junção da pronuncia de green grow. Daí a palavra atravessou os mares e chegou ao Brasil.
Mas voltando ao caso maricas, adjetivo que qualifica o homem efeminado, homossexual, o vocábulo vem se modificando através dos tempos e recebe denominações próprias dependendo de cada região.
Aprendi ainda quando criança, que o homem que tinha atração por meninos era um pederastra. Depois, virou viado, bicha, baitola, qualira, traveco, gay e assim vai...
Nosso presidente parece gostar do significado dessa palavra, pois de vez em quando nas suas entrevistas impetuosas e sem pensar lasca um desses seus sinônimos, como aconteceu em recente visita que fez ao Maranhão, e ao saborear o delicioso "sonho cor-de-rosa de todas as crianças" - assim era a propaganda do guaraná Jesus nas décadas de 1960 e 1970 - Bolsonaro afirmou: "Agora virei boiola igual maranhense, é isso?" "É cor-de-rosa do Maranhão aí, ó!" Em seguida o presidente ainda referindo-se ao refrigerante fala outras palavras, quais, por respeito aos leitores não as publicarei, embora tenham sido citadas nos mais diferentes meios de comunicação do país, inclusive no jornal "O Globo".
O bar da minha tia Dalva Cerveira era parada obrigatória para quem desembarcava no Porto e Tutóia e apreciava tomar uma cerveja bem geladinha ou um refresco de Murici, fruta abundante nas várzeas do Salgado e no Mato do Cemitério.
Localizado na Rua Senador Leite, a poucos metros do cais, contava com o bom atendimento e a simpatia do casal Dalva e João Ambrósio, ele conferente de cargas e nas horas vagas barbeiro, que hoje chamam de cabeleireiro.
A cerveja, Brahma, Antarctica ou Malzebier, era gelada em refrigeradores Consul ou Gelomatic alimentadas à base de querosene Jacaré, pois naquela época, quando dava certo, a energia elétrica só estaria disponível à noite, no horário das 18 às 22 horas.
Era quase final da tarde . Um gringo, tripulante de um navio estrangeiro ancorado no Porto estava a deliciar-se com as geladas do bar da minha tia Dalva. Em sua companhia estava o parnaibano poliglota Souza Lima, interprete e funcionário da Botth, também um grande apreciador das geladas.
Apaixonado pela língua inglesa, como sempre fui, estava eu a escutar o diálogo entre os dois, tentando entender o que falavam, quando passa na rua, pela calçada do bar, o cabo da Marinha, Expedito Gonçalves, e bem frente à porta, grita com aquela sua voz grave e bem alto: - maricooon!
Ao ouvir o grito do Expedito, o estrangeiro que já estava meio zonzo, pois havia deglutido umas tantas beers, levantou-se bruscamente exclamando: "non, maricon non!" E ao tentar correr para alcançar seu desafeto, talvez para dar-lhe uns tabafes, tropeçou em suas próprias pernas, indo estatelar-se de cara no chão. Foi socorrido pelo Souza Lima e por outras pessoas que estavam no bar.
À essa altura, o Expedito já estava lá no armazém do "seu" Dácio Neves, morrendo de rir, na companhia do Maneco Xeiroso, Moacir Lima e Domingos Leal, funcionários da Capitania dos Portos.
Bebida exclusivamente maranhense |
Nota do blog: as imagens são meramente ilustrativas.
Tempo bom.Lembro da geladeira a querozene e de um comentário do meu avo:"Como pode algo gelar com fogo?" Kkkkkk
ResponderExcluirExcelente narrativa.
ResponderExcluirVocê me fez viajar nos bons tempos aqui vividos durante minha adolescência.
ResponderExcluirParabéns amigo 👏👏
João Veloso - Tutóia - MA