O BILHETE DE LOTERIA
“Insista, persista e não desista. Seu dia chegará”!
Assim era o slogan da Loteria Estadual
do Piauí- LOTEPI, que fez a alegria de muitos piauienses e também de muitas
pessoas de estados vizinhos. Os sorteios ocorriam sempre às sexta-feiras e eram
transmitidos pelas rádios Difusora ou Pioneira de
Teresina.
Sonhando
em um dia a sorte bater à sua porta, Sandoval, carroceiro no porto
dos Tucuns, (hoje Bairro São José) comprava toda semana sua “tirinha”, da
LOTEPI, isto é um sexto (1/6) do bilhete total, o que era compatível com suas posses.
Toda
sexta-feira, a partir das 04 horas da tarde, lá estava o Sandoval com seu
“radinho de pilha” coladinho ao ouvido escutando as transmissões do sorteio feitas
pelo Álvaro Lebre (o Al Lebre) da rádio Difusora ou pelo Joel Silva da
Pioneira, diretamente da sede da LOTEPI na Rua Paissandú em Teresina. De vez em quando
“livrava” e tinha direito a outra tirinha.
Mas o Sandoval queria um prêmio maior
do que somente “livrar” a tirinha. Queria o primeiro prêmio. Juntou umas
economias e comprou o bilhete inteiro com as seis tirinhas, por doze
cruzeiros. O bilhete da edição de Natal que trazia uma premiação
maior. Os prêmios eram uma Rural Willys e uma boa quantia de
dinheiro.
Ficou aguardando ansiosamente o dia do
sorteio. Planos e mais planos fluíam-lhe pela cabeça sobre o que fazer com o
dinheiro, caso fosse contemplado com o
primeiro prêmio.
Nesse dia, na hora do sorteio estava ocupando
fazendo uma mudança no Bairro da Guarita. Deixou o bilhete e o radinho para sua
mulher acompanhar o sorteio conferir os números sorteados. Informou também aos
colegas o número do seu bilhete: 001469.
Enquanto trabalhava ouviu alguém dizer:
“o primeiro prêmio saiu pra Parnaíba”!
Logo que termina seu trabalho, e
ansioso por saber o resultado, Sandoval retorna imediatamente à sua casa e ao
chegar à sua casa estava uma festa só...
A mulher, os filhos e os amigos. Todos comemorando. Sandoval havia ganhado o
primeiro prêmio da loteria estadual, edição de natal, daquele ano.
Correu e foi comunicar o fato
ao Delphino, seu patrão, que possuía uma grande mercearia e
padaria na Rua Barão e que este poderia
adiantar-lhe algum dinheiro para as compras de Natal.
Delphino pediu logo o bilhete para
guardar no cofre, pois Sandoval poderia perdê-lo ou alguém lhe roubar.
Adiantou-lhe logo uma boa quantia em dinheiro e colocou também seu automóvel à
disposição do novo rico.
À noite, Delphino convidou Sandoval
para darem uma volta nas “meninas”. Começaram pela Munguba e terminaram no
cabaré do Zé Soldado saboreando a deliciosa panelada do Kaló. Delphino
pagando tudo. Bebidas, mulheres e tudo mais. Até um conjunto de cadeiras de
macarrão já tinha comprado para a casa do Sandoval. E tudo pago à vista, ou
seja, dinheiro em espécie. Nada de cheques ou compra à prestação.
Tudo, dinheiro vivo. Afinal Sandoval era seu empregado e ele, Delphino, por ser
mais “sabido” certamente seria o administrador desse dinheiro, pois sem
ter experiência alguma sobre finanças, Sandoval poderia em pouco tempo dar cabo à sua
fortuna com gastos desnecessários.
Segunda-feira pela manhã foram receber
o prêmio. Entregaram o bilhete ao seu Trasíbulo Melo (o Gago, dono do café
Jotamelo) representante local da Lotepi. Delphino entregou o bilhete dizendo:
“este homem ganhou na loteria; viemos receber o prêmio”.
Seu Trasíbulo, meio desconfiado como lhe era peculiar, pegou o bilhete, conferiu os números e balançando a cabeça afirmativamente exclamou: “ganhou... ganhou sim... mas foi outro bilhete. Este
aqui só fez livrar...”
O número sorteado havia sido 001479 e
não 001469. Devido uma interferência no rádio na hora da transmissão não ouviram
nitidamente os últimos números do bilhete.
Ainda hoje, passados
muitos anos, quando alguém quer vender um bilhete de loteria, rifa, bingo ou
qualquer outro jogo, seu Delphino o enxota com palavras de baixo calão lembrando-se
do prejuízo que teve com o bilhete premiado do Sandoval.
As fotos são meramente ilustrativas from Google images
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