sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ISABEL DE MELO SOUSA



Na manhã desta sexta-feira recebemos com tristeza a notícia do falecimento da senhora Isabel de Melo Sousa, ocorrido no início da noite de quinta-feira, 24 de setembro, em Teresina, capital do Estado.

Dona Isabel, como  assim a chamávamos, era uma pessoa bastante querida e estimada pelos parnaibanos. Por muitos anos, laborou diariamente em sua loja Armarinho Santa Fé, localizada na Rua Almirante Gervásio Sampaio nas imediações da Praça Coronel Jonas. 

Lamentando a morte da distinta senhora, a Academia Parnaibana de Letras - APAL emitiu a seguinte nota: 

NOTA DE FALECIMENTO

A ACADEMIA PARNAIBANA DE LETRAS - APAL pesarosamente cumpre o dever de comunicar o falecimento da Sra. Isabel de Melo Sousa, ocorrido ontem, 24/09/2020 às 18:50 ha, no Hospital da Unimed Primavera em Teresina-PI.

A senhora Isabel, que completaria 94 anos em novembro próximo, é mãe do acadêmico Danilo de Melo Sousa, membro desta Academia, cadeira de nº 22.  O corpo está sendo trasladado para Parnaíba – PI, onde será velado na funerária PAX UNIÃO, na avenida Alvaro Mendes.

Ao confrade Danilo de Melo e aos demais membros da família de dona Isabel, os mais profundos votos de pesar em nome de todos que compõem este sodalício.

Parnaíba, 25 de setembro de 2020.

José Luiz de Carvalho                                                        Antonio Gallas Pimentel

          Presidente                                                                      Secretário-Geral

Na edição de nº 71 do Almanaque da Parnaíba referente ao ano de 2018, às páginas 83/85,  a homenageia com a crônica que publicaremos a seguir: 

Dona Isabel, Rainha de nossas vidas

Por Danilo de  Melo Sousa*

Vejo minha Rainha de 91 anos e ela é a nossa mãe. Penso os dias que passamos... a nossa família... em torno do generoso terraço, a grande sala, o velho poço de água salobra, o velho pé de sapoti... bem próximo, a grande praça e as velhas igrejas, a dos brancos de 1776 e a igreja dos pretos de não sei de quando, meu Deus!

Todo o orvalho dos dias infinitos da infância no palco alegre da velha casa que nunca nos pertenceu, com o seu assoalho lindo, bem escovado e encerado pelas mãos perfumadas de todos nós. As mãos que constroem a civilização.

Vejo as mãos aveludadas de nossa mãe Isabel. Nossa redentora e maternal senhora de tantos talentos, de quais que sejam, dentre tantos, o de fazer o de comer de cada dia, de alimentar o espirito com tanta reza que não é mais terço, é inteiro amor das flores, das grinaldas e enxovais de noivos e

crianças pagãs.

Onde aprendeste esses ofícios de agasalhar uma família tão ruidosa e inquieta?

Vejo minha mãe no rosto apaixonado do meu pai que tanto exclama: “Isabel! Vamos para o Coqueiro que a água salgada do mar em mar se farta”. Vejo que não passaram os anos, pois quem envelhece não é lembrança. Só envelhece quem aprende, outros, apenas passam.


Lembro da minha mãe na Semana Santa com os bolos e pães e toda iguaria sacra. Lembro de acompanhar a bela senhora na missa de domingo em jejum para comungar... a comunhão com as pessoas, parentes, irmãos, agregados, vizinhos e tantos.

Fico imaginando de onde surgiu tanto bordado, babado, plissado, pistilo, costurado e moldado. Mãos de mãe, acolhendo tudo e provendo o porvir.

Dona Isabel, que nasceu na Ilha Grande de Santa Isabel, fez da sua vida um continente povoado de tanta luta e alegria. Uma mãe sensível e sonora que sempre gostou de cantar e contar as suas histórias... é espiritualmente uma rocha sobre a rocha  em Santa Fé... o armarinho seu e de quem costurava amanhãs. Católica, apostólica, romana e, em essência, parnaibana!

Isabel que escreve memórias (que rendeu um livro de capa vermelha e letras douradas – lembrando a velha bíblia da família) e que canta músicas para distrair a vida (que virou um

disco com três pérolas da juventude) é, também, a caprichosa mãe de todos nós, 9 filhos vivos e 20 netos, três bisnetas e duas tataranetas. Mulher multiplicada no infinito.

Isabel alegre cuidando das plantas do quintal e de tudo o quanto abraça, em canto e pranto, os dias inesquecíveis da nossa história.

De quem és mais devota? Do marido, dos filhos, dos netos, dos santos?

Tem um Santo Antônio de Lisboa no santuário de madeira negra que vem dos seus bisavôs, que poderia ter sido talhado pelo Tio Cristino Santeiro, ou descrito em parnasiana poesia pelo Totonho, irmão querido. 

Isabel Vital de Melo e Isabel de Melo Souza e dona Bebel, Bererêu, Belinha, tem vários nomes. Nome de beleza, há muito, bela mulher da nossa existência feliz. Beleza branca com a alvura da porcelana importada da Casa Inglesa. Nobre no estilo, na elegância, na alegria suave da boa nova. Minha mãe que não envelhece, apenas se torna uma nova e delicada flor que, no fundo, sempre foi toda nossa esperança, toda nossa sorte, todo nosso amor.

Por isso, reina na infância, na juventude, e nestes anos generosos que Nosso Senhor Jesus Cristo nos concede, à querida mãe desta família enorme, que se expande na sua graça e amorosidade.

Lembro das velhas lembranças da catequese em que ensinavas a amar as coisas boas do mundo e “adorar” apenas a Deus. Mas Deus haverá de perdoar a todos que adoram as suas mães. Por isso, te adoro, do verbo sagrado adorar, no pretérito, no presente e no futuro.

Um filho.

*Danilo Melo de Sousa - cadeira 22 da Academia Parnaibana de Letras

5 comentários:

  1. JUSTA e MERECIDA HOMENAGEM. Um Testamento de Reconhecimento, Admiração, Gratidão, Apreço escrito com maestria e Sapiência. PARABÉNS!!!

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  2. Conheci, muito boa gente, por muitos anos lideraram o comercio de rendas e demais acessórios para recém-nascido, muito amiga da minha Querida mãe.

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  3. Um verdadeiro poema de amor que o Danilo dedicou à dona Isabel.

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  4. Pessoa maravilhosa que tive a feliz oportunidade de conviver por alguns anos, que o Senhor da Vida lhe receba de braços abertos e em festa no seu reino, para família meus sinceros sentimentos de pesar.

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  5. Oh dona Isabel.Que Deus a tenha ainda mais inspiradora de poemas.
    Meus sentimentos.Abracos em todos da familia

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