sexta-feira, 25 de setembro de 2020

ESTÓRIAS DA ILHA REBELDE

 Miguel!... Miguelito!...

Antonio Gallas 

Foto meramente ilustrativa


Esta quem me contou foi o dr. Raimundo Machado (in memoriam) quando ocupava o cargo de Secretário na Prefeitura de São Bernardo, na administração do então prefeito Coriolano Coelho de Almeida, seu cunhado.

Casado com uma irmã de Coriolano, consequentemente também  cunhado do imortal escritor Bernardo Coelho de Almeida,Raimundo Machado era uma pessoa alegre, descontraída e onde quer que estivesse irradiava uma alegria que contagiava a todos.

E foi degustando umas loiras suadas, no Cai N'agua às margens do Rio Buriti em São Bernardo, Maranhão,  que ele contou-me  a  estória que narro a seguir:

Em São Luis, décadas atrás, as apresentações dos bumbas bois, durante todo o mês de junho,  antes de serem apresentadas na Vila Palmeira e nos diversos  arraias da ilha, acontecia na Praça Deodoro, depois transferidas para o Parque do Bom Menino, na avenida Alexandre Moura.

 O São João do Maranhão, continua sendo a maior festa popular do estado, tanto pelo brilho nas apresentações, como pelo luxo das indumentárias dos brincantes e pela beleza das índias guerreiras que encantam os corações masculinos e porque não dizer, e também femininos.

Januário Quaresma não perdia uma noite no arraial do Parque do Bom Menino. Gostava de ver as apresentações do Boi da Maioba, do Diamante,  Boi de Pindaré,  Boi de Axíxá, Boi de Morros, era inclusive amigo pessoal de dona Maria Izabel Lobato, a matriarca da família Lobato fundadora do boi  de Morros. 

Quaresma, funcionário público federal aposentado, ganhava bem, fisicamente bem afeiçoado,  era metido a conquistador, uma espécie de don juan.  Não podia ver um rabo de saia que já ia  passando cantada. Nessa época não estava em vigor  o tal crime por  assédio sexual, apesar de já existir um Decreto Lei assinado pelo então presidente Getúlio Vargas em 1940. Então os homens podiam dirigirem-se às mulheres sem qualquer sobrosso de serem levados à justiça e ter que cumprir uma pena ou pagar uma indenização em dinheiro.

Quaresma ficou fascinado por uma  morena,  índia guerreira, bailarina de um do grupos que se apresentou  e que  chamou a atenção de todos por sua desenvoltura e beleza exuberante. Levantou muitos aplausos e também muitos risos.

Nosso personagem conseguiu que a moça, após sua apresentação, fizesse companhia a ele,  na mesa onde estava a degustar  uma geladíssima e a saborear um caldo de sururu, uma das delícias da culinária maranhense. Perguntou o que ela desejava beber e obteve a resposta de que seria cuba libre,  rum com coca-cola, muito em voga na época.

Depois  de umas e outras, conversa vai, conversa vem, resolveram sair para um encontro mais íntimo, a fim de se conhecerem melhor, e quem sabe entabular um romance.

À época não existiam motéis, apenas uns poucos chatôs (chateaus),  vandevús ou randevús (do francês rendez-vous, encontro,compromisso)no bairro do Turu. Como ficava um pouco distante e devido o adiantado da hora, Quaresma disse que iriam para uma pensão na Rua 28 de Julho no centro da cidade, onde permaneceriam até a manhã do dia seguinte para depois  irem à praia da Ponta D'areia uma vez que já era domingo. 


Adentraram então ao confortável aero Willys 64, painel de jacarandá,  e que o nosso personagem, ou seja,  o Quaresma, por ser solteiro e ganhar bem,  não se  importava em gastar dinheiro na manutenção do seu automóvel. 



Rapidamente chegaram à pensão onde foram muito bem atendidos por dona Lavina  a proprietária, uma senhora de idade,  procedente das bandas da Tutóia.

No  centro do quarto, no qual passariam o restante da noite,  havia uma cama bem arrumada, protegida por um mosquiteiro;  em um canto uma mesinha com uma jarra cheia de água, uma saboneteira com sabonete, um pedaço de sabão de coco e embaixo da mesa uma bacia esmaltada. 

Eram os equipamentos de asseios para depois de um ato sexual.

Muita gente sente-se envergonhada quando pela primeira vez vai realizar um ato sexual com um desconhecido. Então a bela morena pediu que o seu parceiro apagasse a luz do quarto, no que foi prontamente atendida.

Beijos na boca, cheiros no cangote, amassos e tudo mais estimulado pelo calor inebriante do sexo e da bebida antes consumida deixaram o nosso amigo Quaresma no ponto de bala quando de repente sente algo diferente roçar em sua coxa. Espantou-se,  rapidamente, deu um pulo da  cama, acendeu a luz,  e foi então que viu os documentos da bela bailarina.

 "Oche", - exclamou! "Diabeisso mermão? Como é teu nome?"

Calmamente a  bailarina responde: __Miguel!...Miguelito!... e num sotaque espanhol complementa: __ mas puede llamarme Carmen...Carmencita...




4 comentários:

  1. Belíssimo texto, dr Machado muito simpático esse fato foi veridico como engracado,e o sr. Um exímio contista de escol, meus parabénfaz a pessoa se alegrar e ficar feliz.Teodoro Peres.

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  2. Muito bom!🤣🤣🤣 Parabéns!👏🏽👏🏽👏🏽

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