FUNERAL DE UM VELHO AMIGO
Cícero Veras(*)
Ah, velho monge
Grande, vasto e farto amigo
É doloroso ver-te assim
Assoreado e triste
A procurar passagem
sem contudo, achar!
Passas devagar.
Mesmo assim, insistes
Ante a morte anunciada
Desalmada a dar palpite
Porque ainda teimas, velho amigo?
Porque insistes?
Ah, meu velho Rio
Teus barrancos viraram bancos
A obstruíste o leito
Já desfeito
Teus algozes se riem satisfeitos
Bolsos cheios a te roubarem o jeito
Teu sorriso insatisfeito
Em meio as intrusas ilhas
Que se formam ao tempo
Ao relento a catar teus ventos
Que já não são os mesmos,
Olhos desatentos!
Ah, minha velha fonte
De inspiração constante
Já não és como antes
Teus poetas já não te cantam
Te olham de um canto
Dor no peito e nó na garganta
A desfazer-lhes o encanto
As rimas a transformassem
Em copiosos prantos
A desanimar cantantes
Verso e prosa já nã há,
Que desencanto!
Ah, meu velho amigo
Que agonizas lentamente
O que fazer?
Que remédio, que providência?
Se já não mais te olham
Com olhos de complacência!
Te roubaram a altivez
A dignidade, talvez
A ganância te tirou a cadência
Tua morte é fruto da incoerência,
Da insanidade humana
Que indecência!
Ah, velho monge
Não quero que morras assim
Desanimado e triste
Como uma fênix
Quero ver-te ressurgir
A deixar tuas lavadeiras
Pescadores e poetas a sorrir
Caudalosamente rumo ao mar
Voltes a bramir
Levanta do teu leito e anda
Diria o salvador
Pela mão a te conduzir!
26/12/2017
Cícero Veras dos Santos (*) Natural de Tutóia litoral do Maranhão.
Pastor Sênior da Igreja Evangélica Verbo da Vida - São Luís - MA. Estudou no Colégio Estadual Lima Rebelo-Parnaíba- PI. Foi Correspondente do Jornal Inovação em Brasília - DF (década de 80).
Foi Parceiro Letrista do músico parnaibano Francisco Sampaio. Reside na capital maranhense - São Luis.
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