DONA MARIA DA GLÓRIA
Antônio Gallas
Meu
pai, o comandante Moysés Pimentel, e minha mãe, dona Zilda Galas Pimentel, quando
se aposentaram, ele como oficial da Marinha Mercante e ela, como funcionária
pública do então Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis – DNPVN,
(antiga Comissão de Obras e Estudos do Rio Parnaíba), resolveram morar em
Tutóia, no estado do Maranhão. Compraram uma casa, umas pequenas porções de
terras, algumas cabeças de gado para progredirem na vida nova que estavam
iniciando.
O
Sr. Moysés Pimentel exerceu diversos cargos na vida pública tutoiense, entre
eles o de delegado de polícia por diversas vezes, pois, sempre que ocupava a
função, a exercia com respeito, integridade e acima de tudo com honestidade.
Era um delegado respeitado, tanto assim que recebeu Menção Honrosa que lhe foi
entregue pessoalmente pelo Exmo. Sr. Secretário de Segurança da época, o então
Ministro Cícero de Neiva Moreira.
Meu
pai, observando a inteligência de Prodamor, que nesse tempo veio morar conosco,
arranjou-lhe o emprego de escrivão de polícia, para que com o salário ganho,
ele pudesse comprar suas coisas sem ter que pedir aos outros.
E,
pois não é que o danado do Prodamor saiu-se bem, na função de escrivão?
Caprichoso como era, estudava com afinco a língua pátria para não cometer erros
de português ao redigir certidões, atestados, etc...
Naquela
época não existia Médico legista em Tutóia (hoje, também ainda não existe) e
quando ocorria algum crime que necessitasse ser feito um exame de corpo e
delito, o delegado nomeava uma comissão composta pelo escrivão, pelo chefe da
estatística (IBGE), pelo administrador da mesa de rendas (Receita Federal) e
por mais uma ou duas pessoas idôneas da cidade.
Aconteceu, então, um ato de defloramento ou tentativa de
estupro que foi parar na delegacia. O acusado defendia-se afirmando que não
chegou a consumar o ato. A vítima, Maria da Glória, nada dizia, pois era muda.
Apenas a mãe falava fazendo um grande alarido jogando impropérios no acusado.
O delegado, como de praxe, constituiu a comissão para fazer
o exame e que depois de concluído, meu sobrinho Prodamor apresentou o laudo
pericial com a seguinte redação:
“Vendo e revendo as partes pudendas de dona Maria da Glória,
atestamos que a mesma é virgem na hora. Entretanto, observando-se no alto de
sua “crica” encontrei manchas arroxeadas, que tudo me faz crer, foram “muradas”
de pica.”

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