Fazendo hoje, 25 de fevereiro, uma leitura detalhada das mensagens recebidas nos e-mails da Academia Parnaibana de Letras, encontrei esta preciosidade da infância de um menino que guarda na lembrança a saudade de um tempo feliz que só mesmo quem viveu naquela época pode relatar. João Bosco dos Santos, é membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, é poeta, escritor, parnaibano, nascido no dia 5 de Novembro de 1944. Após concluir o curso médio de nível técnico, em Fortaleza, Ceará, transferiu-se para a cidade de Santo André, São Paulo, onde está radicado desde o ano de 1961. Em 1964 diplomou-se em Técnico de Contabilidade, na antiga Escola Técnica de Comércio Santo André. Posteriormente; cursou a Faculdade de Comunicação Social, do Instituto Metodista de Ensino Superior (atual Universidade Metodista de São Paulo), concluindo em 1978. Obteve o título de Mestre em Comunicação e Mercado, no ano de 2001, pela Faculdade de Comunicação Cásper Líbero. Dedicou-se ao ensino superior, lecionando em cursos de graduação e pós-graduação. Foi fundador e primeiro presidente do Rotary Club de Santo André-Alvorada; ex- presidente da Associação dos Amigos do Museu de Santo André; é portador da comenda “Paul Harris”, de Rotary International; é portador da Medalha Cívica “Regente Feijó”, no grau de “Cavaleiro”, outorgada pela Câmara Brasileira de Cultura. Membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, desde 2002, onde ocupa a Cadeira 28. Caso alguém queira estreitar um relacionamento com ele, segue seu email: jboscoescritor@gmail.com
REMINISCÊNCIAS
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INFÂNCIA PARNAIBANA
João Bosco dos Santos
Relembrei, hoje, saudoso
A cidade onde nasci
Na qual, menino tinhoso
Muita alegria vivi.
Corria da ventania
Que a areia soprava
Brincava na calmaria
Depois que a chuva parava.
Olhava pro fim da rua
E o antigo cruzeiro
Quando estava cheia a lua
Era o nosso paradeiro
Recordo a “Marc Jacob”
Onde meu pai trabalhava
Era a loja maior
Que Parnaíba abrigava.
Me lembro da Casa Inglesa
Foi “Paulo Inglês” quem fundou
Seu prédio era uma beleza
E James Clark a comprou.
Curtume Adolfo Quirino
Que exalava um mau cheiro
Pra mim, ainda menino
Era como um vespeiro
Na União Caixeiral
Meu velho pai estudou
Fez um esforço anormal
Mas, afinal, se formou
Lembro do Porto Salgado
Dos seus velhos casarões
Alinhados, lado a lado
Muitos deles oitentões
Mirocles Veras, doutor
Era quem nos consultava
Ao menor sintoma ou dor
Mamãe logo o visitava
Quintino Cunha, o poeta
Cearense, meu pai lia
E ria como um pateta.
Como ele se divertia!
Vô Manoel, que pescava,
Ia pro Igaraçu
E, com o côfo voltava
Com peixes, menos pacu
Pescador, cheio de manha,
Nunca se preocupou
Até que uma piranha
Um dedo lhe decepou
Amigos, eu poucos tinha
Nunca em grupos andei
Pois, eu era o caçulinha
E logo me acostumei
Quando ia à escola
Na minha infância primeira
Corria, chutava bola
Era tudo brincadeira.
Meu berço natal amado
Foste o começo da vida
Eternamente lembrado
Ó, Parnaíba querida!
Quando me vens à memória
Às vezes, me surpreendo
Relembrando a minha história
Sou feliz e compreendo
E minha compreensão
Me leva a imaginar
E ao meu pedaço de chão
Não sei se vou retornar
Parti muito pequenino
Como faz qualquer migrante
Hoje, sigo o meu destino
Mas não me tornei um errante
Me lembro do cajueiro
(Humberto de Campos plantou)
Do passeio domingueiro
Ao Morro do Gemedor
À Praia de Amarração
No trem, a Luiz Correia
Descalço, de pé no chão
Onde nada aperreia.
Nos ombros, acomodado
Papai me levava ao mar
E eu, muito apavorado
Desandava a chorar.
E, lá na Pedra do Sal
Onde sopra forte o vento
A diversão era tal
Que quase não me aguento.
D’uma lenda assustadora
Contada, tintim por tintim
A mais apavoradora
Falava sobre o Crispim
Era o Cabeça de Cuia
Que assustava a moçada
Que de pavor e mucuia
Fugia em disparada.
Certa vez, na correria
Caí na cacimba, poço
Que no quintal de casa havia
Oh, Meu Deus, quanto alvoroço!
No tempo da minha infância
Eu era muito feliz
Nada tinha importância
E eu tive tudo o que quis.
Tudo o que me contentava
E me trazia alegria
Era o que meu pai montava
Era o que papai fazia
Petecas de verde palha
De pau eram os cavalinhos
Forquilha era a cangalha
Os chicotes, barbantinhos
No fundo do quintal tinha
Também mangueira e umbuzeiro
Quando eu, da escola vinha
Comia o dia inteiro
Tinha um forno de barro
Lá, vovó assava o pão
E eu achava bizarro
Reparti-lo com facão
Quando levou a mordida
De uma cobra coral
Vovó estava encolhida
No meio do matagal
Causada pela demora
Que o socorro levou
Em pouco mais de uma hora
A venenosa a cegou
De Parnaíba saí
Com sete anos de vida
Mas eu jamais esqueci
A minha infância querida.
Ao Criador rogarei
Que me dê disposição
E, à Parnaíba irei
Com toda a minha emoção!
Santo André, 25 de fevereiro de 2020
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