quarta-feira, 21 de outubro de 2020

DESAFIO: escrever por 21 dias

 O SACERDOTE E O PERU


Por Antonio Gallas

Até o presente momento este foi o desafio mais difícil de ser cumprido. Reler algo que já havia  lido no passado e seguir com as normas do desafio. Rebusquei na memória e  imediatamente vieram às enxurradas,  textos, livros e romances, bulas de remédio, enfim um turbilhão  de mensagens como que a bombardear meus pensamentos, meu cérebro,  e nada...  Dei uma busca nos alfarrábios porém continuava na mesma, ou seja,  na estaca zero. De repente buuumm, aquele estalo...
Quando cursava a Primeira Série do Ginásio no Colégio Demóstenes Avelino, em Teresina, nosso professor de português, Raldir Bastos adotou o livro Língua Pátria de Maximiano Augusto Gonçalves no qual consta um texto do imortal Malba Tahan(*)  intitulado O DERVIXE E O GALO. Então para cumprir com o quarto dia deste desafio, vamos então  a O  SACERDOTE E O PERU:

Padre Gregório resolveu e fazer umas desobrigas pelas freguesias de sua paróquia com finalidade de angariar uns fundinhos a mais para os cofres da igreja. Convidou Meu Sobrinho Prodamor para o acompanhar nessa tarefa. Prodamor, doido para "passar bem" pois sabia que a comida oferecida para as refeições do padre seria de primeira, prontamente aceitou.  E assim foram. Seguiram viagem.
Na primeira localidade arrancharam-se na casa do coronel Paulino, fazendeiro rico, abastado, que  os recebeu sorridente e feliz.
Passaram-se uma semana, duas, quinze dias, um mês e padre Gregório a desfrutar das benesses do acolhimento de coronel Paulino e esposa Ofélia.
Dona Ofélia já não sportando mais as reclamações da criadagem chama o marido em particular e fala:
—Paulino, diga ao padre que somos muito gratos por ele ter escolhido nossa casa para sua estada  nesta freguesia, mas que não podemos ficar com ele nem mais um dia. Diga-lhe  que nossos estoques de alimentos esgotaram-se todos.
E assim, depois do jantar coronel Paulino  o  comunicou: "padre Gregório,   sua vinda à  nossa casa foi uma benção de Deus. Ficaremos eternamente agradecidos, mas infelizmente tenho que lhe comunicar que todo o nosso estoque de provisões e gêneros alimentícios acabaram-se hoje, portanto, não poderemos mais hospedá-lo nem por um dia.
Padre Gregório com as  mãos postas  e dedos entrelaçados aquiesceu  com a cabeça em sinal de concordãncia. Pediu ao coronel que o acordasse logo ao raiar do dia e ordenou a Prodamor que preparasse os cavalos,  pois logo cedo da manhã iriam prosseguir viagem até outra freguesia.
Bem  cedinho, Meu Sobrinho Prodamor vai até a estrebaria preparar os cavalos para a partida. Observa então que no pátio em frente ao estábulo tem um peru a rodopiar e a exibir a exuberância das plumas de sua cauda. Prodamor, menino levado como sempre, dá três assobios bem alto. O peru enche-se de ar, estufa o peito e solta um glugluglu bem alto e forte, no mesmo momento em que coronel Paulino avisa: "padre Gregrório, levante que o dia já raiou". Nesse exato momento,  o padre a ouvir o glugluglu do peru exclamou: — Ah!, ainda tens um peru. Deve dar para mais dois dias. Pegou a coberta, virou-se para o outro lado da cama e voltou a dormir.

NOTA DO BLOG


A seguir o texto original do escritor Julio César de Melo e Sousa pseudônimo de MALBA TAHAN :

“Conta-se que um dervixe, ao regressar de uma peregrinação, se hospedou na choupana de um camponês que o acolheu com grande cordialidade.

Uma semana depois, a mulher do camponês lhe disse:

- Homem, manda embora esse dervixe (dervixe é um religioso mulçumano). Se ele continuar a comer tanto, deixa-nos na miséria.

Respondeu o marido:

- Não posso fazer tal coisa, mulher; seria pecado expulsar de casa um homem tão santo e virtuoso!

Decorrida outra semana, a mulher voltou a insistir.

-Manda embora o dervixe. Já não há o que comer em casa.

À vista disso, o camponês resolveu-se a despedir o hóspede importuno. Encontrou-o no jardim, descansando em branda relva, absorto em profunda meditação.

Disse-lhe:

- Rendo-te, senhor, graças pela visita que fizeste ao meu humilde tugúrio (cabana). É justo, porém, que outros gozem também de semelhante honra. Já comemos as últimas tâmaras.

O santo homem inclinou a cabeça e respondeu:

-Pois sim, meu filho. Longe de mim a idéia de querer abusar da tua hospitalidade. Acorda-me amanhã ao romper do dia, para continuar a sagrada viagem.

Na manhã seguinte, quando as estrelas se apagavam no céu, o camponês foi despertar o dervixe. Sacudiu-o pelo ombro a fim de arrancá-lo do sono:

- Levanta-te, meu bom amigo, que o galo já cantou!

Exclamou o dervixe:

- Oh! ainda tens um galo!...

E virando-se para o outro lado, continuou a dormir...”

...................................................................

Moral da estória: ENQUANTO HOUVER UM GALO A SER COMIDO NÃO SE LARGA A RAPADURA







Nenhum comentário:

Postar um comentário