O SACERDOTE E O PERU
Até o presente momento este foi o desafio mais difícil de ser cumprido. Reler algo que já havia lido no passado e seguir com as normas do desafio. Rebusquei na memória e imediatamente vieram às enxurradas, textos, livros e romances, bulas de remédio, enfim um turbilhão de mensagens como que a bombardear meus pensamentos, meu cérebro, e nada... Dei uma busca nos alfarrábios porém continuava na mesma, ou seja, na estaca zero. De repente buuumm, aquele estalo...
Quando cursava a Primeira Série do Ginásio no Colégio Demóstenes Avelino, em Teresina, nosso professor de português, Raldir Bastos adotou o livro Língua Pátria de Maximiano Augusto Gonçalves no qual consta um texto do imortal Malba Tahan(*) intitulado O DERVIXE E O GALO. Então para cumprir com o quarto dia deste desafio, vamos então a O SACERDOTE E O PERU:
Padre Gregório resolveu e fazer umas desobrigas pelas freguesias de sua paróquia com finalidade de angariar uns fundinhos a mais para os cofres da igreja. Convidou Meu Sobrinho Prodamor para o acompanhar nessa tarefa. Prodamor, doido para "passar bem" pois sabia que a comida oferecida para as refeições do padre seria de primeira, prontamente aceitou. E assim foram. Seguiram viagem.
Na primeira localidade arrancharam-se na casa do coronel Paulino, fazendeiro rico, abastado, que os recebeu sorridente e feliz.
Passaram-se uma semana, duas, quinze dias, um mês e padre Gregório a desfrutar das benesses do acolhimento de coronel Paulino e esposa Ofélia.
Dona Ofélia já não sportando mais as reclamações da criadagem chama o marido em particular e fala:
—Paulino, diga ao padre que somos muito gratos por ele ter escolhido nossa casa para sua estada nesta freguesia, mas que não podemos ficar com ele nem mais um dia. Diga-lhe que nossos estoques de alimentos esgotaram-se todos.
E assim, depois do jantar coronel Paulino o comunicou: "padre Gregório, sua vinda à nossa casa foi uma benção de Deus. Ficaremos eternamente agradecidos, mas infelizmente tenho que lhe comunicar que todo o nosso estoque de provisões e gêneros alimentícios acabaram-se hoje, portanto, não poderemos mais hospedá-lo nem por um dia.
Padre Gregório com as mãos postas e dedos entrelaçados aquiesceu com a cabeça em sinal de concordãncia. Pediu ao coronel que o acordasse logo ao raiar do dia e ordenou a Prodamor que preparasse os cavalos, pois logo cedo da manhã iriam prosseguir viagem até outra freguesia.
Bem cedinho, Meu Sobrinho Prodamor vai até a estrebaria preparar os cavalos para a partida. Observa então que no pátio em frente ao estábulo tem um peru a rodopiar e a exibir a exuberância das plumas de sua cauda. Prodamor, menino levado como sempre, dá três assobios bem alto. O peru enche-se de ar, estufa o peito e solta um glugluglu bem alto e forte, no mesmo momento em que coronel Paulino avisa: "padre Gregrório, levante que o dia já raiou". Nesse exato momento, o padre a ouvir o glugluglu do peru exclamou: — Ah!, ainda tens um peru. Deve dar para mais dois dias. Pegou a coberta, virou-se para o outro lado da cama e voltou a dormir.
NOTA DO BLOG
A seguir o texto original do escritor Julio César de Melo e Sousa pseudônimo de MALBA TAHAN :
“Conta-se que um dervixe, ao regressar de uma peregrinação, se hospedou na choupana de um camponês que o acolheu com grande cordialidade.
Uma semana depois, a mulher do camponês lhe disse:
- Homem, manda embora esse dervixe (dervixe é um religioso mulçumano). Se ele continuar a comer tanto, deixa-nos na miséria.
Respondeu o marido:
- Não posso fazer tal coisa, mulher; seria pecado expulsar de casa um homem tão santo e virtuoso!
Decorrida outra semana, a mulher voltou a insistir.
-Manda embora o dervixe. Já não há o que comer em casa.
À vista disso, o camponês resolveu-se a despedir o hóspede importuno. Encontrou-o no jardim, descansando em branda relva, absorto em profunda meditação.
Disse-lhe:
- Rendo-te, senhor, graças pela visita que fizeste ao meu humilde tugúrio (cabana). É justo, porém, que outros gozem também de semelhante honra. Já comemos as últimas tâmaras.
O santo homem inclinou a cabeça e respondeu:
-Pois sim, meu filho. Longe de mim a idéia de querer abusar da tua hospitalidade. Acorda-me amanhã ao romper do dia, para continuar a sagrada viagem.
Na manhã seguinte, quando as estrelas se apagavam no céu, o camponês foi despertar o dervixe. Sacudiu-o pelo ombro a fim de arrancá-lo do sono:
- Levanta-te, meu bom amigo, que o galo já cantou!
Exclamou o dervixe:
- Oh! ainda tens um galo!...
E virando-se para o outro lado, continuou a dormir...”
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Moral da estória: ENQUANTO HOUVER UM GALO A SER COMIDO NÃO SE LARGA A RAPADURA
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