A SENHORA GORDA
Antonio Gallas
Quando a senhora subiu, sabe lá como,
tão gorda era, o ônibus partiu. Sentada ao meu lado, ofegante ela disse:
- Puxa, por pouco não perco este ônibus! Preciso estar no
Pirangí, na casa de meu filho, às cinco... Por favor, que horas são?
- Quatro e meia, respondi!
- Ainda tenho meia hora.
Na estrada
esburacada o ônibus prosseguiu viagem aos solavancos causando mal estar nos
passageiros. Tombos e mais tombos a cada buraco que passava. A reclamação
contra o governo estadual que não mandava consertar a estrada era geral.
À medida que o
tempo ia passando, notava que a senhora gorda sentada ao meu lado, ia ficando
cada vez mais ofegante, respirando com dificuldade. Perguntei-lhe se estava se
sentindo bem e seu poderia fazer algo para ajudá-la. Disse-me que estava apenas
nervosa, pois não costumava andar de ônibus, principalmente em estradas mal
conservadas como aquela. Além do mais, afirmou que tinha de estar às cinco em
ponto no seu destino, e, temia chegar atrasada.
Fiquei curioso
prá saber o que de importante ela iria fazer na casa de seu filho e o motivo da
pontualidade, contudo, detive-me ante a minha curiosidade. O ônibus estava
chegando onde ela iria descer.
Ao descer,
arrastando aquele enorme corpanzil, teve tempo de voltar e dizer para mim:
- Muito obrigado pela companhia e pela solidariedade!
Enquanto a viagem prosseguia eu ia matutando cá com meus botões que ainda existem no mundo pessoas que
agradecem aos pequenos gestos de solidariedade.
Cheguei finalmente ao meu destino e a
imagem da senhora gorda, ofegante sentada ao meu lado, permaneceu em minha
memória por vários dias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário