O céu está iluminado como se
fossem relâmpagos e trovões em noites chuvosas. A sirene soa alto, para que
todos escutem a tempo de se abrigarem em refúgios subterrâneos. Mais uma vez, a
paz que tanto buscamos parece distante — quase impossível. É uma guerra que
parece nunca ter fim.
Mas por que isso acontece?
A resposta não está apenas
nas manchetes de jornais ou nas análises políticas. Essa história é muito mais
antiga. Ela começa há milhares de anos, com um homem e uma promessa divina que
mudaria para sempre o destino da humanidade. Esse homem era Abraão. E Deus lhe
disse claramente:
"Sai da tua terra, da
tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrarei. Farei
de ti uma grande nação e te abençoarei" (Gênesis 12:1-2).
Essa promessa teve efeitos
profundos e duradouros, que ecoam até hoje em cada explosão, cada ataque, cada
conflito. O que realmente aconteceu com os filhos de Abraão para que, até os
dias de hoje, suas descendências travassem ferozas batalhas?
Vamos começar a contar essa
história — uma história de guerra e separação que atravessa milênios.
O Início da Divisão
Deus prometeu a Abraão um
filho, dele surgiria uma grande nação. Mas o tempo passou, e nada acontecia.
Sara, sua esposa, era estéril e já tinha idade avançada. Com o tempo, vieram as
dúvidas, e com as dúvidas, a ansiedade e o desespero. Sara, então, tomou uma
decisão precipitada: ofereceu sua serva egípcia, Agar, a Abraão. Dessa união nasceu
Ismael, cujo nome significa "Deus ouve".
Ismael, fruto de uma escolha
humana e apressada, não fazia parte do plano original de Deus. Sem perceber,
Abraão e Sara plantaram uma semente de divisão que ainda hoje germina em
guerras e tensões.
Agar fugiu das perseguições
de Sara e encontrou-se com o anjo do Senhor, que disse sobre Ismael:
"Ele será como um
jumento selvagem; sua mão será contra todos, e a mão de todos contra ele; e
habitará diante da face de todos os seus irmãos" (Gênesis 16:12).
O destino de Ismael foi
marcado por sobrevivência, resistência e conflito. Embora vivesse sob os olhos
de seu pai Abraão, ele crescia à sombra de uma promessa que não lhe pertencia.
O Filho da Promessa
Havia algo no ar — uma
sensação de que Ismael não era o filho da aliança definitiva. E então, contra
toda lógica humana, Deus cumpre Sua promessa. Abraão com 100 anos e Sara com 90
anos, tornam-se pais de Isaque, o verdadeiro herdeiro.
Com o nascimento de Isaque,
a alegria inundou a casa de Abraão. Mas também plantou-se ali a semente de uma
grande tensão: duas crianças com destinos diferentes. O coração de Abraão
dividia-se entre o amor natural por Ismael, seu primogênito, e a clara direção
divina que apontava Isaque como o escolhido.
“Tu, porém, guardarás o meu
concerto, tu e a tua semente depois de ti” (Gênesis 17:9).
A casa de Abraão estava
dividida: Isaque, o filho da promessa, protegido pelo favor divino; e Ismael, o
filho do deserto, lutando silenciosamente contra a rejeição.
Deus, então, intervém
novamente:
“Não te pareça mal aos teus
olhos acerca do moço e da tua serva; em tudo o que Sara te diz, ouve a sua voz,
porque em Isaque será chamada a tua descendência” (Gênesis 21:12).
Com o coração pesado, Abraão
despede Agar e Ismael, marcando o início de uma separação permanente — dois
irmãos divididos não apenas pela distância física, mas por destinos espirituais
e promessas distintas.
Israel e os Filhos do
Deserto
Isaque permanece como
herdeiro da aliança eterna. Dele vem Jacó, depois chamado Israel, pai das doze tribos
e do povo judeu — a nação escolhida para carregar a revelação divina ao mundo.
Por outro lado, Ismael
também prospera. Torna-se pai de doze príncipes, multiplicando-se em diversas
nações árabes que se espalharam ao redor de Israel.
A bênção de Deus acompanhou
Ismael em termos de prosperidade, mas a aliança espiritual — o pacto eterno —
permaneceu com os descendentes de Isaque. Essa pequena diferença se tornou, com
o tempo, uma gigantesca divisão entre nações irmãs.
Um Conflito Muito Além da
Geopolítica
As sementes plantadas
naquela separação dolorosa ainda hoje produzem frutos amargos. Para muitos, os
conflitos entre Israel e seus vizinhos parecem ser apenas disputas territoriais
ou diferenças políticas. Mas a verdade mais profunda é que essa guerra não é
apenas humana: é espiritual.
As Escrituras já haviam
antecipado esse cenário:
“Ó Deus, não te cales; não
te emudeças, nem fiques impassível, ó Deus. Pois eis que teus inimigos se
alvoroçam e os que te odeiam levantam a cabeça. Formam astuto conselho contra o
teu povo” (Salmo 83).
Desde o Egito até os dias
modernos, Israel esteve cercado por inimigos. A raiz disso é a luta por
identidade espiritual e legitimidade da herança.
A Terra Prometida e o Peso
da Aliança
No centro de todos os
conflitos, uma pequena terra — mas com significado imensurável. A terra que
Deus jurou dar a Abraão:
“Porque toda essa terra que
vês, eu a darei a ti e à tua descendência para sempre” (Gênesis 13:15).
Jerusalém tornou-se o ponto
mais sensível da tensão. Cada grão de areia disputado carrega o peso de um
pacto feito por Deus. Por isso, esse conflito não será resolvido por tratados.
A raiz é mais profunda: quem é o herdeiro legítimo da promessa?
A História Não Terminou
A Bíblia mostra que Israel
enfrentaria muitos inimigos ao longo dos séculos: egípcios, filisteus,
amalequitas, moabitas, assírios, babilônios, e, mais tarde, Roma — que destruiu
o templo e dispersou o povo judeu. Mas Israel não desapareceu. Em 1948, voltou
a existir como nação.
Desde então, guerras como a
de 1948 (Independência), 1967 (Seis Dias), 1973 (Yom Kippur) e conflitos
intermináveis com grupos armados reafirmam que a luta de Israel não é apenas
pela sobrevivência, mas por uma promessa antiga.
A pergunta que ecoa é: por
que tamanha resistência contra um país tão pequeno?
A resposta está na promessa:
Isaque carrega o selo da aliança, e Ismael carrega a luta por reconhecimento.
Ambos têm um destino — e ele ainda está por se cumprir.
Um Dia, a Paz Virá
A Bíblia aponta para um
tempo em que essa guerra entre irmãos terminará. Não por acordos políticos, mas
por algo muito maior: o governo do Príncipe da Paz.
“E converterão suas espadas
em enxadões e suas lanças em foices... não aprenderão mais a guerra” (Isaías
2:4).
Nesse dia, as duas
descendências subirão juntas para Jerusalém para adorar o único Deus
verdadeiro. Lágrimas serão enxugadas por Aquele que pode reconciliar o
irreconciliável. A paz virá — a paz do Messias.
Deus nunca rejeitou Ismael;
Ele apenas o colocou fora da aliança principal. Mas o plano de redenção é para
todos os povos, inclusive os filhos do deserto.
A Cruz: O Lugar da
Reconciliação
O apóstolo Paulo revelou o
mistério escondido por séculos:
“E, se sois de Cristo, então
sois descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gálatas 3:29). Com
isso, toda divisão histórica é superada. Em Cristo, judeus, árabes, israelitas
e ismaelitas podem ser reconciliados.
A guerra começou em Gênesis, mas a reconciliação foi anunciada em Jesus.
No fim, haverá um só
rebanho, um só pastor, um só povo.
Conclusão
A história de Isaque e
Ismael não é apenas uma lição do passado. É um espelho do presente e uma janela
para o futuro. Hoje, enquanto sirenes soam e multidões se levantam contra
Jerusalém, muitos perguntam: por que tanta guerra? A resposta está na
origem — no dia em que dois irmãos foram separados, e uma promessa foi selada
com uma aliança.
Mas o Deus que chamou Abraão
ainda reina. Ele ainda fala. Ele ainda cumpre o que prometeu.
E Ele está preparando o
retorno do verdadeiro herdeiro, o Filho que trará reconciliação entre os povos,
justiça entre as nações e paz sobre toda a Terra.
“E o Senhor será rei sobre
toda a terra; naquele dia, um será o Senhor, e um será o seu nome” (Zacarias
14:9).
21 de junho de 2025 às 16h45min.
Walbert Pessoa é maranhense, natural de Colinas, Graduado em Licenciatura Plena em História pela UESPI e Pós-graduado em Psicopedagogia Hokemãh.
Nenhum comentário:
Postar um comentário