Manoel Garcia dos Santos Marques, 1º Sargento da da Polícia Militar do Maranhão, fora transferido para uma pequena cidade do interior do estado na região dos Lençóis Maranhenses.
Naquele tempo, as cidades interiorioranas possuiam no máximo três ou quatro policiais militares, e dois ou três civis, sendo que um desses, era o escrivão. Na a maioria das vezes, o policial militar de maior patente era quem exercia o cargo de delegado de polícia, na ausência do titular civil, que sempre apadrinhado por um político influente na capital, era nomeado para a função sem ter qualquer conhecimento jurídico. Assim, o Sargento Garcia, como era conhecido na cidade, no exercício do cargo, passava o dia inteiro na delegacia, ou então em viagens diligenciais por povodos vizinhos à sede do município.
Sua esposa, a senhora Isabel Allende Marques (dizia ela que seu nome tinha sido em homenagem a escritora chilena Isabel Allende de quem seu pai era grande admirador), católica fervorosa, preenchia as horas de solidão com os afazeres domésticos e em orações na igreja matriz que ficava próxima à sua residência.
Certa feita, numa manhã de sexta-feira, dona Isabel vai à feira fazer as compras para preparar o almoço, quando depara-se com uma jovem bastante simpática que também estava a fazer compras. Em seu ombro estava um papagaio.
A ave, no ombro da moça, observava tudo. De vez em quando suspendia a cabeça abria o bico e pronunciava: louvado seja nosso senhor Jesus Cristo... para sempre seja louvado!. Pai nosso que estais no céu... santificado seja o teu nome... Ave Maria cheia de graça... rogai por nós os pecadores... que Deus te abençoe minha filha!!!
Ao ouvir essas palavras dona Isabel encantou-se pela ave! Dirigiu-se à senhorita e perguntou: — minha filha, você não gostaria de me vender este papagaio? Ao que a moça respondeu: "não minha senhora. Ele é quem faz a minha alegria, todos os dias." Minha filha, disse dona Isabel "eu lhe pago bem. Quanto você quer por ele?" a moça replicou: — minha senhora, ele não está à venda, e não há dinheiro que pague... "eu lhe dou 200 cruzeiros", insistiu e dona Isabel. A jovem hesitou um pouco, pensou e disse: — está bem, pode levar. É seu...
E assim dona Isabel partiu radiante para sua casa. Tratou a ave com todo carinho. Alimentou-a com frutas e sementes...
Neste dia, o Diácono, como assim dona Izabel o batizou, ficou triste e cabisbaixo, não falava nada. Talvez por conta da mudança do ambiente no qual estava acostumado a ficar, porém no dia seguinte, ao raiar do dia, lá estava a ave a caminhar de um lado para outro na comeeira da casa e pronunciar as orações. Dona Isabel, satisfeita com o que havia adquirido, foi à rua e convidou as amigas para um café no final da tarde, pois iria lhes apresentar o Diácono.
O papagaio ficou até mais ou menos às 09 horas repetindo as orações; depois desceu, aquietou-se em uma janela interna da casa e passou a alimentar-se do que lhe era servido.
À tarde, por volta das 16 horas, o sol já esfriando, volta para comeeira. Foi quando as convidadas de dona Isabel estavam chegando para o café. Observando-as chegarem uma por uma, o papagaio corria de um lado para outro da cumeeira, esfregando o bico no telhado dizia: este é o cabaré mais animado da paróquia... tem mulher da bu... pelada e da bu... cabeluda e uma Fo... é 10; e continua repetindo: este é o cabaré mais animado da paróquia... tem mulher da bu.. pelada da bu... cabeluda e uma Fo... é 10...
Dona Isabel não acreditando no que estava ouvindo, envergonhada diante de suas amigas da igreja, correu na delegacia, contou ao sargento Garcia o que estava acontecendo, e ele, imediatamente ao chegar em casa, chegou pegou seu revólver "Tauros 32", apontou em direção ao Diácono e disparou: puuummm, errou o tiro; de pronto papagaio balançou a cabeça para um lado e para outro, suspendeu o pescoço e exclamou: — eita! briga no cabaré! f** e não pagaram!
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