O velho e bom São João já não é mais o mesmo!
Pádua Marques
Quem
é mais antigo há de se lembrar dessa época do ano em tempos idos quando o mês
de junho era o mais esperado do ano, depois do Natal. Mas o Natal é festa de
família e o São João é festa de rua, de povo no meio da rua e de muita alegria.
Está aí a diferença entre os dois. Naquele tempo parecia que uma energia
invadia as casas, as pessoas, as árvores, os postes de lâmpadas, os passarinhos
e até as muriçocas.
Havia
alegria de todos os tamanhos. E a gente era só começar o mês já estava com
aquele sorriso de orelha a orelha, calculando aonde ia ter uma quadrilha e a casa
onde vinha dançar o bumba meu boi. Na escola a gente ficava imaginando dentro
de mais uns dias o início das férias. Adeus livros, tarefas, olho duro da
professora e os enfadonhos exercícios de dever de casa. Agora tudo era São
João.
E
a gente largava a procurar dentro de casa e na casa de nossos amigos alguma
coisa para fazer o nosso boi. E as meninas por sua vez iam arrumando um lugar e
as vestimentas para as quadrilhas. Tudo era uma bagunça que acabava dando certo
e até ficava bonito.
Os
meninos, as crianças envelheceram, os tempos passaram, o viço da infância e da
juventude foram embora. Vieram os filhos, os netos, mudaram os costumes, a
brincadeiras se transformaram e a gente foi para dentro de casa e sentados no
sofá na frente da televisão. Fomos e tivemos que nos acostumar com outros
costumes, costumes de terras distantes e desconhecidas.
O
mês de junho nunca mais será o mesmo de nosso tempo. Hoje ninguém solta mais
fogos de artifício, os traques, as famosas bombas de quinhentos, que a gente
colocava debaixo de uma lata somente para ver o impulso no rumo de cima.
Ninguém passa e nem pula mais fogueira, vira compadre, afilhado, padrinho ou
madrinha. Agora a televisão é quem manda em nosso dia e na nossa noite de São
João.
Tudo
hoje em dia aborrece, faz mal a fumaça, incomoda o estampido dos traques aos
cães, aos idosos e agora às pessoas com síndrome autista. O mundo ficou um poço
de aborrecimentos. Santo Antonio, o primeiro homenageado e tido como
casamenteiro, anda é na fila do seguro desemprego. São João, o mais querido e
lembrado, anda escondido com medo dos ecologistas. E finalmente o velho e
rabugento São Pedro, o do final do mês, esse deve estar com dengue no fundo de
uma rede.
Pádua Marques é poeta, jornalista, escritor e membro da Academia Parnaibana de Letras - cadeira 24.
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