Antonio Gallas
José Branco era um garçom do Bar e Restaurante
“Cabana” um dos pioneiros da avenida Beira Rio, hoje avenida Nações Unidas.
Cabana fora fundado pela senhora
Julisa no final da década de 1960 e tinha por especialidade fornecer o
caranguejo-uçá (o caranguejo da nossa região) graúdo e da melhor
qualidade. O próprio cliente escolhia os
caranguejos que queria degustar. Quebrado (toc-toc), feito torta ou ensopado.
Julisa, se não me falha a memória, era esposa do empresário Evandro Madeira.
José Branco, atendia a todos com presteza,
o que o tornou bastante popular entre os frequentadores do referido bar e
restaurante. De baixa estatura, meio
gordo, gostava de usar um chapéu com abas largas. Era assíduo ao trabalho e só
faltava quando no mês de outubro viajava para a cidade cearense de Canindé a fim de
pagar uma promessa feita a São Francisco, do qual era devoto, e tinha alcançado
graça pedida do milagroso santo de
Assis. E foi numa dessas viagens que o Zé Branco, como assim o chamávamos,
morreu!
Naquela época, não tínhamos os
confortáveis ônibus da empresa Guanabara, Yvonetur ou outros, sendo que a vigem
era feita nos famosos caminhões “paus de arara”, muito comuns no nordeste
brasileiro. Ainda hoje este transporte é utilizado por pessoas de baixa renda
em cidades do interior do Maranhão, Piauí e Ceará, que não possuem estradas
pavimentadas, infelizmente.
Os paus de arara são caminhões ou
camionetas do tipo Toyota que sobre suas carrocerias são colocadas tábuas
para assento dos passageiros e uma cobertura de lona ou de plástico bastante espesso, para proteger as
pessoas do sol ou da chuva.
A viagem era, até certo ponto
divertida. Durante o percurso os passageiros chamados de romeiros faziam preces,
rezavam padre nossos, ave Marias e entoavam hinos religiosos dentre os quais a
famosa Oração de São Francisco: “Senhor,
fazei-me instrumento de vossa paz...”
E
foi numa dessas viagens, repito, que o Zé Branco, morreu!
Após cumprir suas obrigações religiosas
na Basílica de São Francisco, e como ninguém é de ferro, nosso amigo garçom
resolveu espairecer e aproveitar um pouco do que aquela cidade localizada
no sertão central do Ceará poderia lhe oferecer.
Sentou-se à mesa de um dos inúmeros bares
estabelecidos nas cercanias da igreja e pediu ao garçom uma Brahma bem
geladinha que seria para matar a sede e amenizar o calor. Pediu
também uma “branquinha” da terra, para
ir dosando com a cerveja.
Hora de retornar a Parnaíba o Zé Branco não
apareceu. O condutor do pau de arara não esperou e nem foi procura-lo. ´
Até hoje não se sabe se o Zé Branco de “cara
cheia” caiu no sono ou se arranjou algum “rabo de saia” (ou será rabo-de saia?) que o
fez perder o transporte que o traria de volta à Parnaíba. O certo é que ele não
veio nessa viagem e o caminhão, ao chegar na guarita, numa curva, tombou e
algumas pessoas morreram.
Não havia nessa época Instituto Médico Legal em
Parnaíba, todavia familiares dos mortos identificaram seus defuntos e
procederam ao sepultamento. Entre os mortos, a família identificou um como
sendo o Zé Branco.
Três dias após seu sepultamento, na hora do
terço, ele aparece na sua residência, na Rua Caramuru nas proximidades da Praça
do Ipase. Ao presenciar aquele
espetáculo, as mulheres rezando o terço, velas acesas, imagens de santos sobre uma mesa, exclamou: - Oxente! Tão rezando terço pra quem?
Foi um corre-corre danado! Apavoradas as mulheres adentraram casa a
dentre rumo ao quintal e ele sorrindo dizia: - voltem aqui! Voltem aqui! Eu tou
vivo... eu tou vivo.
Até hoje não se sabe quem foi enterrado no lugar
dele, mas se naquela época tivesse o recurso do celular e do whatsapp isso não teria acontecido pois
certamente ele teria avisado à família que tinha perdido o transporte. Ou talvez
não, quem sabe...
Canindé possui o maior monumento sacro do mundo. A Estátua de São Francisco das Chagas, inaugurada solenemente no dia 04 de outubro de 2005, tem altura superior a 30 metros de altura. |
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