Um grande público atendeu ao convite do Centro Espírito Caridade e Fé para o lançamento do livro "Os Frutos do Cajueiro" - ações espíritas em Parnaíba, de autoria do paulista Cesar Perri.
O evento aconteceu no café-concerto do Sesc Caixeiral e contou com a presença de espíritas, católicos, intelectuais e pessoas gradas da sociedade parnaibana.
A esposa do autor, Sra. Célia Maria abriu a solenidade fazendo, juntamente com todos os presentes, a Oração do Pai Nosso. Em seguida a senhora Zilda Aguiar diretora do Centro Espírita Caridade e Fé fez a saudação e agradecimento às pessoas que ali se encontravam. Dando continuidade às falas, usou da palavra o presidente da Federação Espírita Piauiense, José Lucimar de Oliveira que discorreu sobre o livro ora apresentado à sociedade parnaibana. Por fim, usou também da palavra o presidente da União Municipal Espírita de Parnaíba Samuel Aguiar, que fez eloquente discurso.
Na ocasião a atriz espírita Eline Lima apresentou um monólogo do reencontro de Humberto de Campos com o seu cajueiro, quando de seu regresso a Parnaíba já na idade adulta, uma vez que aos 13 anos separou-se do mesmo porque tivera que retornar para São Luis do Maranhão, fato narrado em seu livro "Memórias" publicado em 1933 e considerado pela crítica literária o mais célebre da sua obra.
Durante todo o evento a maestrina e pianista parnaibana Izabel Teresa brindou a todos com belíssimas páginas musicais, clássicas e populares, incluidas no cancioneiro nacional e internacional.
O livro versa sobre Humberto de Campos que é o patrono da cadeira de nº 12 da Academia Parnaibana de Letras - APAL , atualmente ocupada pela escritora Maria do Amparo Coelho dos Santos. O professor Antonio Gallas, secretário Geral, representou a Academia. O presidente José Luiz de Carvalho encontrava-se ausente da cidade, em viajem para a capital.
Antonio Gallas Secretário Geral da APAL e o escritor Cesar Perri |
Bancário aposentado Marçal Paixão e o autor do livro |
Da esquerda para direita: sra. Célia Maria esposa de Cesar Perri, Cesar Perri, José Lucimar (presidente da FEP) e a médica Carolina Oliveira |
Para ilustrar, reproduziremos a seguir o trecho dos monólogos que Humberto de Campos trava com o cajueiro (ou seriam diálogos?) antes de seguir viagem para São Luis e quando do seu regresso em visita à Parnaíba, citados no livro "Memórias":
"Aos treze anos da minha idade, e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o Maranhão, e ele fica. Na hora, porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco, aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
- Adeus, meu cajueiro! Até à volta!
Ele não diz nada, e eu me vou embora.
Da esquina da rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço verde agitado em despedida. E estou em S. Luís, homem-menino, lutando pela vida, erijando o corpo no trabalho bruto e fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha acompanhando uma carta de minha mãe: "Receberás com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças..."
Há, se bem me lembro, uns versos de Kipling, em que o Oceano, o Vento e a Floresta palestram e blasfemam. E o mais desgraçado dos três é a Floresta, porque, enquanto as ondas e as rajadas percorrem terras e costas, ela, agrilhoada ao solo com as raízes das árvores, braceja, grita, esgrime com os galhos furiosos, e não pode fugir, nem viajar... Recebendo a carta de minha mãe, choro, sozinho. Choro, pela delicadeza da sua idéia. E choro, sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes como ele, para me não afastar nunca, jamais, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?
Volto, porém. O meu cajueiro estende, agora, os braços, na ânsia cristã de dar sombra a tudo. A resina corre-lhe do tronco, mas ele se embala, contente, à música dos mesmos ventos amigos. Os seus galhos mais baixos formam cadeiras que oferece às crianças. Tem flores para os insetos faiscantes e frutos de ouro pálido para as pipiras cinzentas. É um cajueiro moço, e robusto. Está em toda a força e em toda a glória ingênua da sua existência vegetal.
Um ano mais, e parto novamente. Outra despedida; outro adeus mais surdo, e mais triste:
-Adeus, meu cajueiro!
O mundo toma-me nos seus braços titânicos, arrepiados de espinhos. Diverte-se comigo como a filha do rei de Brobdingnag com a fragilidade do capitão Guliver. O monstro maltrata-me, fere-me, tortura-me. E eu, quase morto, regresso a Parnaíba, volto a ver minha casa, e a rever o meu amigo.
- Meu cajueiro, aqui estou!
Mas ele não me conhece mais. Eu estou homem; ele está velho. A enfermidade cava-me o rosto, altera-me a fisionomia, modifica-me o tom da voz. Ele está imenso e escuro. Os seus galhos abraçam coqueiros, afogam laranjeiras que noivam, ou ultrapassam a cerca e vão dar sombra, na rua, às cabras cansadas, aos mendigos sem pouso, às galinhas sem dono... Quero abraçá-lo, e já não posso. Em torno ao seu tronco fizeram um cercado estreito. No cercado imundo, mergulhado na lama, ressona um porco... Ao perfume suave da flor, ao cheiro agreste do fruto, sucederam, em baixo, a vasa e a podridão!
- Adeus, meu cajueiro!"
Foto Web |
Texto e fotos: Antonio Gallas/ Web
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