O LOCUTOR DE RÁDIO
Antônio Gallas
Envergonhado,
Prodamor viu ir por terra a sua carreira de artista. Não mais brilharia nos
palcos nem nos picadeiros. Mas ele não desistia, era um bravo! Descobriu que
tinha a veia artística e não seria um simples incidente que o faria desistir de
um dia ser famoso, conhecido e aplaudido por multidões.
Foi
tentar a vida em outra cidade. Desta feita não em um circo, mas numa potente
emissora de rádio que tinha a maior audiência na região.
Baseado
na sua experiência de locutor de amplificadora de subúrbio, apresentador em
circo, e confiante na poderosa voz que possuía, Prodamor submeteu-se a um teste
de locução e foi aprovado. Inicialmente faria apenas a leitura das notícias,
dos comerciais, das notas de utilidade pública e dos avisos para o interior, um
serviço de grande utilidade prestado pelo rádio antes da proliferação dos
telefones.
Estava
progredindo na nova carreira. Estimado pelos colegas e pelo chefe, e também
elogiado pelos ouvintes, apresentaria brevemente um programa de disc-jóquei que
seria audiência total nas tardes da emissora.
Mas
aí, vocês nem podem imaginar o que aconteceu... Quando tudo ia bem, o destino
prega-lhe mais uma daquelas... Vejam bem: as notas e os avisos para serem lidos
no rádio eram recebidos na portaria em manuscritos e para facilitar seu
trabalho de leitura, Prodamor os datilografava, todos, um por um.
Vai
que, certo dia, quando datilografava uma nota de falecimento, alguém o
interrompeu, desviando sua atenção daquilo que estava fazendo. Ao retornar à
tarefa, em vez de pegar o papel da nota de falecimento, pegou o de um convite
de festa. E no rádio, saiu assim, para o espanto de todos:
“Nota de Falecimento:
A
família de Fulano de Tal dos Anzóis Pereira comunica a parentes e amigos o seu
falecimento ocorrido na manhã de hoje e convida a todos para seu sepultamento
às 17 horas no cemitério da igualdade. “Haverá sorteio de uma caixa de cerveja
e uma galinha assada aos que comparecerem a esta animadíssima festa.”

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