domingo, 17 de abril de 2016

CAUSOS DO PRODOMOR


O CIRCO

Texto de: Antônio Gallas

 

O circo sempre exerce um grande fascínio sobre as crianças. O meu sobrinho Prodamor por exemplo,  extasiava-se  com a performance dos artistas, mesmo  eles pertencendo a  uma companhia mambembe.
Quando garoto, para garantir sua entrada nos espetáculos do “Circo Teatro Água Doce” que constantemente estava em Tutóia no Maranhão, acompanhava, juntamente com um bando de outros meninos, o palhaço “Pirulito” que através de um megafone anunciava as atrações da noite.

“- Hoje tem espetáculo?

 - Tem sim sinhô!

 - Tem marmelada?

 - Tem sim sinhô!

 - E o palhaço o que é?

 - “É ladrão de mulher...” E cantarolando:

“- oh dona Mariquinha, meu cachorro entrou aí?

 - “entrou, entrou e tá  difícil de sair...”

“- Rodei na copa do meu chapéu?

 - “mulher buchuda não vai pro céu...”

 - E arrooocha negraaada!! Arrooocha!

À noite lá estava o Prodamor sentado no “poleiro”, a dar espalhafatosas gargalhadas com as piadas e palhaçadas de Pirulito e Chupetinha. Absorto acompanhava com os olhos o vai e vem dos trapezistas a balançarem-se nos trapézios num aquecimento ao tradicional “voo da morte” e ao “salto triplo” sem as redes de proteção. Extasiava-se com os jogos malabares e embevecia-se com rebolar das cadeiras de Rosa Morena, uma dançadeira de rumba que levava a plateia masculina ao delírio, gingando e rebolando ao som de El Cumacheiro, Ave Maria Lola, Siboney e outras rumbas.

Fascinado com tudo isso, Prodamor desejou ser, um dia, artista de circo. Queria ser trapezista, malabarista, mágico ou palhaço. Queria brilhar na ribalta. Correr o mundo... Conhecer cidades, ser famoso.

Desapontado pelo incidente na casa da namorada, (episódio narrado em edição anterior deste jornal) Prodamor foi esbarrar numa pequena cidade no interior o Maranhão onde encontrou armado um circo. Foi assistir a um espetáculo e lembrou-se de seu tempo de moleque quando gritava o palhaço pelas ruas de Tutóia. Decidiu falar com o gerente e pedir emprego. Logo revelou suas aptidões artísticas e em pouco tempo era o principal astro daquela companhia. O gerente, um velho baixo e gordo, cognominado Juan Pablo, disse que o  nome  Prodomor não soava bem artisticamente e que a partir daquele momento ele seria chamado de Régis Bitencourt em vez de Prodamor.

Para aumentar o faturamento do circo, o gerente promoveu um espetáculo em homenagem à dona Gertrudes, Primeira Dama do município. O prefeito por sua vez bancou o espetáculo daquela noite franqueando entrada para todo mundo.

Casa lotada, o gerente morto de feliz!, anuncia o ponto alto do espetáculo: - Senhoras e senhores, em homenagem à dona Gertrudes, primeira dama deste município, Régis Bitencourt vai dar um “salto triplo” seguido pelo voo da morte, sem as redes de proteção.

Aplausos e mais aplausos, Prodamor, ou melhor, Régis Bitencourt, trajando uma surrada calça de fio-helanca, tão comum  à época,  colada ao corpo e uma camisa de malha tipo regata começa as evoluções no trapézio, quando num momento ao girar por sobre o próprio corpo ouve-se RÁÁÁÁÁÀÀPPPPPP. A calça, de tão velha que estava rasgou na costura do fundo deixando todos os documentos do meu sobrinho à mostra, ou seja, pendurados.

Prodamor, que  até então, não gostava de usar cuecas, a partir deste trágico episódio não dispensa uma “underpents” (cueca)  mesmo que sejam das  do  tipo “samba Canção”.

  


Do livro “Meu Sobrinho Prodomor e outros Causos”.

 

 

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