O CIRCO
Texto de: Antônio Gallas
O
circo sempre exerce um grande fascínio sobre as crianças. O meu sobrinho
Prodamor por exemplo, extasiava-se com a performance dos artistas, mesmo eles pertencendo a uma companhia mambembe.
Quando garoto, para
garantir sua entrada nos espetáculos do “Circo Teatro Água Doce” que constantemente
estava em Tutóia no Maranhão, acompanhava, juntamente com um bando de outros
meninos, o palhaço “Pirulito” que através de um megafone anunciava as atrações
da noite.
“- Hoje tem espetáculo?
- Tem sim sinhô!
- Tem marmelada?
- Tem sim sinhô!
- E o palhaço o que é?
- “É ladrão de mulher...” E cantarolando:
“- oh dona Mariquinha, meu cachorro
entrou aí?
- “entrou, entrou e tá difícil de sair...”
“- Rodei na copa do meu chapéu?
- “mulher buchuda não vai pro céu...”
- E arrooocha negraaada!! Arrooocha!
À
noite lá estava o Prodamor sentado no “poleiro”, a dar espalhafatosas
gargalhadas com as piadas e palhaçadas de Pirulito e Chupetinha. Absorto
acompanhava com os olhos o vai e vem dos trapezistas a balançarem-se nos
trapézios num aquecimento ao tradicional “voo da morte” e ao “salto triplo” sem
as redes de proteção. Extasiava-se com os jogos malabares e embevecia-se com
rebolar das cadeiras de Rosa Morena, uma dançadeira de rumba que levava a plateia
masculina ao delírio, gingando e rebolando ao som de El Cumacheiro, Ave Maria Lola,
Siboney e outras rumbas.
Fascinado com tudo isso, Prodamor
desejou ser, um dia, artista de circo. Queria ser trapezista, malabarista,
mágico ou palhaço. Queria brilhar na ribalta. Correr o mundo... Conhecer
cidades, ser famoso.
Desapontado pelo incidente na casa da
namorada, (episódio narrado em edição anterior deste jornal) Prodamor foi
esbarrar numa pequena cidade no interior o Maranhão onde encontrou armado um
circo. Foi assistir a um espetáculo e lembrou-se de seu tempo de moleque quando
gritava o palhaço pelas ruas de Tutóia. Decidiu falar com o gerente e pedir
emprego. Logo revelou suas aptidões artísticas e em pouco tempo era o principal
astro daquela companhia. O gerente, um velho baixo e gordo, cognominado Juan
Pablo, disse que o nome Prodomor não soava bem artisticamente e que a
partir daquele momento ele seria chamado de Régis Bitencourt em vez de
Prodamor.
Para
aumentar o faturamento do circo, o gerente promoveu um espetáculo em homenagem
à dona Gertrudes, Primeira Dama do município. O prefeito por sua vez bancou o
espetáculo daquela noite franqueando entrada para todo mundo.
Casa
lotada, o gerente morto de feliz!,
anuncia o ponto alto do espetáculo: - Senhoras e senhores, em homenagem à dona
Gertrudes, primeira dama deste município, Régis Bitencourt vai dar um “salto
triplo” seguido pelo voo da morte, sem as redes de proteção.
Aplausos e mais aplausos, Prodamor, ou
melhor, Régis Bitencourt, trajando uma surrada calça de fio-helanca, tão comum à época, colada ao corpo e uma camisa de malha tipo
regata começa as evoluções no trapézio, quando num momento ao girar por sobre o
próprio corpo ouve-se RÁÁÁÁÁÀÀPPPPPP.
A calça, de tão velha que estava rasgou na costura do fundo deixando todos os documentos
do meu sobrinho à mostra, ou seja, pendurados.
Prodamor, que até então, não gostava de usar cuecas, a partir
deste trágico episódio não dispensa uma “underpents” (cueca) mesmo que sejam das do tipo
“samba Canção”.
Do livro “Meu
Sobrinho Prodomor e outros Causos”.
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