terça-feira, 13 de outubro de 2020

SHORT STORIES

 MORREU DE REPENTE 



Por Antonio Gallas

               Zuleide morava no Curre e lavava  a roupa de alguns ricos da Parnaíba que residiam no centro da cidade. Os Correia, os Mavignier, os Pires, os Rodrigues, Athaydes, todos da Praça de Santo Antônio e imediações.

                Nessa época não existia ainda água encanada na cidade e a água utilizada para os serviços domésticos e às vezes até para se beber, provinha de poços artesianos construídos nos quintais das residências ou então compradas dos apanhadores no Rio Igaraçu e transportada em ancoretas nos lombos de jumentos ou burros.

                Na sua ida para o centro,  passava no açougue do Pedro Oião e encomendava vísceras ou costela de boi  para quando voltar no final da tarde,  pagar,  levar para casa o que seria o almoço do dia seguinte.  As reses para a venda nos açougues  eram abatidas no meio da tarde.

                Geralmente quando não terminava o serviço no mesmo dia arrumava a roupa formando uma grande trouxa e levava para concluir em casa. Passar o ferro ou continuar a lavagem, pois de onde morava não era longe do rio e também já possuía um poço no seu quintal.

                Nesse serviço era auxiliado pelo seu neto Rodiney, um menino de 10 anos, mas já bastante taludo. Dizia ele que era forte assim,  só de chupar o corredor do boi para comer o tutano que dava sustança.

O caminho de dona Zuleide era sempre o mesmo: cruzava a avenida Cel. Lucas, seguia pela Rua Desembargador Sales, passava na casa do seu João, um amigo conhecido, tomava um cafezinho,  bebia um copo d’água e então  seguia  ao seu destino cruzando a Avenida Capitão Claro, pegava a rua em frente ao Cemitério da Igualdade e prosseguia até chegar seu destino, ou seja, a Praça de Santo Antônio. A volta era pelo mesmo caminho.

Certo dia Rodiney não acompanhou dona Zuleide e ela teve que voltar sozinha, com uma trouxa de roupas bem grande e mais pesada. O menino tinha se empapado com  tutanos de boi e adoeceu da barriga.

 Apesar de  ainda ser  uma mulher nova,  cansou um pouco com o peso dessa trouxa. Teria que parar em algum lugar para descansar um pouco e restabelecer as forças.

Durante o  trajeto, era comum encontrar pessoas conversando na calçada em frente ao cemitério. Ela as cumprimentava, era correspondida e seguia seu destino. Nesse dia, dois senhores bem vestidos estavam a conversar.

Zuleide coloca as trouxas no chão, deu boa tarde aos senhores e ficou um bom tempo escutando a conversa animada dos dois. Quando já sentia-se restabelecida fala para o que estava mais próximo dela: “moço, me ajude a botar essa trouxa na cabeça”, ao que ele respondeu: “eu não posso, estou muito fraco, pois morri de caganeira. Peça pra esse aí que morreu de repente...”


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