MORREU DE REPENTE
Por Antonio Gallas
Zuleide morava no Curre e lavava a roupa de
alguns ricos da Parnaíba que residiam no centro da cidade. Os Correia, os
Mavignier, os Pires, os Rodrigues, Athaydes, todos da Praça de Santo Antônio e
imediações.
Nessa
época não existia ainda água encanada na cidade e a água utilizada para os
serviços domésticos e às vezes até para se beber, provinha de poços artesianos
construídos nos quintais das residências ou então compradas dos apanhadores no
Rio Igaraçu e transportada em ancoretas nos lombos de jumentos ou burros.
Na
sua ida para o centro, passava no açougue do Pedro Oião e encomendava
vísceras ou costela de boi para quando voltar no final da tarde, pagar, levar para
casa o que seria o almoço do dia seguinte. As reses para a venda nos açougues eram abatidas no meio da tarde.
Geralmente
quando não terminava o serviço no mesmo dia arrumava a roupa formando uma
grande trouxa e levava para concluir em casa. Passar o ferro ou continuar a
lavagem, pois de onde morava não era longe do rio e também já possuía um poço no seu quintal.
Nesse
serviço era auxiliado pelo seu neto Rodiney, um menino de 10 anos, mas já
bastante taludo. Dizia ele que era forte assim, só de chupar o corredor do boi
para comer o tutano que dava sustança.
O caminho de dona Zuleide
era sempre o mesmo: cruzava a avenida Cel. Lucas, seguia pela Rua Desembargador
Sales, passava na casa do seu João, um amigo conhecido, tomava um
cafezinho, bebia um copo d’água e então seguia ao seu destino cruzando a Avenida Capitão Claro, pegava a rua em frente ao Cemitério da Igualdade e prosseguia
até chegar seu destino, ou seja, a Praça de Santo Antônio. A volta era pelo
mesmo caminho.
Certo dia Rodiney não
acompanhou dona Zuleide e ela teve que voltar sozinha, com uma trouxa de roupas bem
grande e mais pesada. O menino tinha se empapado com tutanos de boi e
adoeceu da barriga.
Apesar de ainda ser uma mulher nova, cansou um pouco com o peso dessa trouxa. Teria que parar em
algum lugar para descansar um pouco e restabelecer as forças.
Durante o trajeto, era comum encontrar pessoas conversando na calçada em frente ao cemitério. Ela as cumprimentava, era
correspondida e seguia seu destino. Nesse dia, dois senhores bem vestidos
estavam a conversar.
Zuleide coloca as trouxas no
chão, deu boa tarde aos senhores e ficou um bom tempo escutando a conversa
animada dos dois. Quando já sentia-se restabelecida fala para o que estava mais
próximo dela: “moço, me ajude a botar essa trouxa na cabeça”, ao que ele
respondeu: “eu não posso, estou muito
fraco, pois morri de caganeira. Peça pra esse aí que morreu de repente...”
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