quarta-feira, 1 de abril de 2020

TÁ LIBERADO! TÁ TUDO LIBERADO!

Por Antonio Gallas
Imagem meramente ilustrativa



Uma multidão comprimia-se em frente ao prédio da Câmara Municipal no final da manha desta quarta-feira,  primeiro de abril de dois mil e vinte. 
Mesmo contrariando as recomendações técnicas do Ministério da Saúde para que aglomerações fossem evitadas, o povo estava lá, ansioso, esperando para ouvir a palavra do prefeito que traria boas novas para a população tão sofrida e privada de seus direitos de liberdade nesse período de Coronavírus,  um "dragão" que ceifou vidas,  devastou a saúde, a economia, causou comoção mundial e ainda promoveu inimizade entre muitos amigos, por divergência de opinião.
Dona Kalú deu uma cotovelada nas costelas da Mariazinha porque a mesma queria passar na frente dela. A pobre estatelou-se no chão  e, quase quase, por pouco,  não foi pisoteada.
Ao lado de um  palanque improvisado, onde se  encontravam uns dois vereadores da ala governista,  uns dois secretários e mais uns três puxa-sacos,  um telão de dois metros quadrados havia sido instalado em um tripé. 





A multidão esperando ansiosa,inquietava-se.

- Ele vai anunciar é por vídeo conferência, que ele não é besta de vir aqui, disse um flanelinha da Praça da Graça.
- É não! Ele vem sim. Tu achas  que ele vai ter medo de um víruzinho  boiola desses?  Depois é só beber água,  -  disse o outro. 
A Banda Simplício Dias executou o Hino da Parnaíba - e logo a seguir  o prefeito sobe ao palanque.
Aplausos, gritos frenéticos, vaias,  e a multidão comprimindo-se, uns querendo passar na frente dos outros para ouvir o que o prefeito iria dizer.
- Pooovo da Paarnaíííba. Estou aqui para lhes anunciar uma boa notícia, hein?  Mas quem vai lhe dizer isso, hein,  pessoalmente não sou eu.
- Minino, abre aí o vídeo.
Então, todos viraram-se para o telão e eis que surge na tela, sabem quem??Momentos de tensão e expectativa. E quem apareceu no telão?  Nada mais, nada menos do que a   imagem do presidente sorrindo e dizendo: Tá liberado! Tá liberado! Tá tudo liberado! Liberado total! E os governadores que se ... que vão pra...
Dito isto foi uma carreira desembestada! Uns querendo passar por cima dos outros. Derrubaram o telão e quase derrubam o palanque com os que estavam lá em cima.


Todo mundo correndo pra ir pros bares, pro Café no Ponto, pros bancos, pras lotéricas. Outros querendo ir pro Pode Ser, pro Álibi,  na estrada de Luis Correia, pro Dallas, para a Casa Sem Reboco ou para o Sítio da Barbie.
Loucura, loucura  total!
Batidas no trânsito, engarrafamento na Presidente Vargas em frente ao Paraíba, na Praça da Graça, na Praça Santo Antonio, na Beira Rio, na Ponte Simplício Dias, na São Sebastião, na Pinheiro Machado, enfim um verdadeiro pandemônio. 
Tudo isso acontecendo e eu ali parado, inerte,  parecendo uma  estátua  ou no dizer do Agildo Ribeiro,   uma "múmia paralítica" a poucos metros  da banca do Louro.  Na correria, muitas pessoas da minha amizade passavam por mim e sequer faziam um aceno ou diziam bom dia. Um daqueles hippies que ficam nas proximidades do Bar Carnaúba deu uma cuspida para o meu rumo que quase atinge o meu rosto. 
Enquanto isso eu continuava ali parado, estático, inanimado. Foi quando os sinos da Catedral começaram a tocar  como que a convidar as pessoas para irem ao templo agradecer a Deus pela Graça alcançada,  em vez de irem para outro lugar qualquer como a maioria estava fazendo. Eu lutava, fazia esforço para sair daquela posição, mas continuava intrêmulo. Foi quando se aproximou de mim um homem fantasiado de palhaço, com uma buzina daquelas que se usa para espantar as pessoas durante o carnaval. Encostou a buzina em meu ouvido e soprou bem alto. Com o susto estremeci e pude me movimentar.


Estava bastante suado. O quarto às escuras e o ar-condicionado desligado. Havia faltado luz (energia elétrica) .

Só então percebi que tudo não passara de um sonho. 


Imagens Google/ domínio público/meramente ilustrativas

4 comentários:

  1. A imaginação foi grande, só para anarquisar o Prefeito e o Presidente, eu acho que o esquerdismo é uma doença incurável que não mata,só perturba de vez em quando. Impressionante.

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