sexta-feira, 17 de agosto de 2018

OS MILAGRES DE SÃO GERMANO


      
Texto de Antonio Gallas
             A notícia dos milagres de São Germano correu de boca em boca e rapidamente levou dezenas de pessoas ao povoado de Porto de Areia, pequeno e pacato vilarejo de pescadores no município de Tutóia no estado do Maranhão. A partir daí a vida deste pacato vilarejo passou a ficar mais agitada. As pessoas, dezenas, centenas, iam pedir proteção, bênçãos e graças,  ao santo milagreiro. . Muitos milagres aconteceram. Assim contavam os antigos moradores do lugar...   

                             

    O pescador Florêncio foi quem encontrou o santo. Estava pescando com mais três companheiros quando sentiu algo rijo bater de encontro ao casco da canoa. Olhou para o mar e viu a imagem boiando, trazida pela correnteza. Após recolhê-la, o milagre aconteceu: quando puxaram a rede, esta estava repleta de peixes. Não tiveram que lança-la n’água  outra vez. Tinham peixe suficiente para vender e se alimentarem por vários dias. Felizes e agradecidos pela boa pescaria voltaram para suas casas a fim de contarem a boa notícia aos amigos e à família.

       Florêncio tratou logo de providenciar um altar para o santo, num canto da sala de sua residência.

     E começaram as ladainhas, os terços, as promessas, os leilões e os milagres.

         Contam que uma mulher estava com dificuldades em parir (a criança, segundo a parteira estava atravessada), recorreu a São Germano e teve o parto sem maiores problemas.

    Os devotos aumentavam a cada dia e o pescador resolveu correr uma sacolinha que seria para ajudar nas despesas com flores, velas e cafezinho distribuídos aos fiéis durante as novenas. Planejaram construir uma capela e levar o santo em procissão pelas poucas ruas existentes à época  no povoado.

O ancião, Antônio Martins, que há mais de uma semana sofria com espinha de peixe atravessada na goela, fez promessa a São Germano e, mesmo doente, foi acompanhar a procissão. Em dado momento, empurrado pela multidão, o velho tropeça numa raiz de cajueiro indo esparramar-se no chão. Nesse instante, salta-lhe garganta a fora, a famigerada espinha!
Milagre! Milagre! Milagre!  Mais um milagre de São Germano!

Choros... Gritos de vivas e de glórias, por mais este milagre de São Germano!

Enquanto moradores de Porto de Areia regozijavam-se com seu santo milagreiro, tinha alguém que não estava gostando nadinha desses milagres. Era o vigário da paróquia, Cônego Alteredo, que via, a cada dia, diminuir a frequência dos fiéis em sua Igreja, tendo como consequência a diminuição da féria, ou seja, das ofertas em dinheiro.

Resolveu tirar a limpo essa história dos milagres de São Germano. Foi à casa de Florêncio e chegou no exato momento em que estava sendo rezada uma ladainha.

Furioso, o padre avançou sala adentro chutou o altar, agarrou o santo e bradou em voz alta: - Que diabo de santo é esse, caboclo?

Florêncio surpreso e amedrontado respondeu:

-         É São  Germano, seu padre!

-         Que São Germano que nada! Como é que tu sabes que é São Germano?  Tu já viu São Germano, caboclo?

Eu que sou padre, nunca vi  São Germano!

Como é que tu vais saber que isso aqui é São Germano?

-      Ói ispie aqui seu padre, disse Florêncio segurando a imagem.

Tá no fundim dele. Olhe: Made in Germany. Só pode ser São Germano, não tenho dúvidas!
         O padre sorriu e foi explicar ao Florêncio e aos demais que na realidade a imagem atribuída a São Germano tratava-se de um calunga, fabricado na Alemanha,  provavelmente caído ao mar,  do bordo de algum navio estrangeiro atracado no porto, muito frequente em Tutóia naquela época.
          Mas, como diz o dito popular “a fé é quem cura e não o pau da barca”, muitas pessoas obtiveram graças após recorrerem a São Germano, motivados certamente pela fé naquilo  que é divino.


Nota do autor:
         Este causo faz parte do livro  MEU SOBRINHO PRODAMOR E OUTROS CAUSOS  que publiquei em edição reduzida em 2008 quando concorri pela primeira vez a uma cadeira da Academia Parnaibana de Letras.  Será republicado até dezembro deste ano em edição ampliada, incluindo-se novos causos e crônicas.
         Foi postado neste blog pela primeira vez em 25 de agosto de 2015.


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