Texto de Antonio Gallas
A notícia dos milagres de São Germano correu de boca em
boca e rapidamente levou dezenas de pessoas ao povoado de Porto de Areia,
pequeno e pacato vilarejo de pescadores no município de Tutóia no estado do Maranhão.
A partir daí a vida deste pacato vilarejo passou a ficar mais agitada. As
pessoas, dezenas, centenas, iam pedir proteção, bênçãos e graças, ao santo milagreiro. . Muitos milagres
aconteceram. Assim contavam os antigos moradores do lugar...
O
pescador Florêncio foi quem encontrou o santo. Estava pescando com mais três
companheiros quando sentiu algo rijo bater de encontro ao casco da canoa. Olhou
para o mar e viu a imagem boiando, trazida pela correnteza. Após recolhê-la, o
milagre aconteceu: quando puxaram a rede, esta estava repleta de peixes. Não
tiveram que lança-la n’água outra vez.
Tinham peixe suficiente para vender e se alimentarem por vários dias. Felizes e
agradecidos pela boa pescaria voltaram para suas casas a fim de contarem a boa
notícia aos amigos e à família.
Florêncio tratou logo de providenciar um altar para o santo, num
canto da sala de sua residência.
E começaram as ladainhas, os terços, as promessas, os leilões e os milagres.
Contam que uma mulher estava com dificuldades em parir (a
criança, segundo a parteira estava atravessada), recorreu a São Germano e teve o
parto sem maiores problemas.
Os
devotos aumentavam a cada dia e o pescador resolveu correr uma sacolinha que seria para ajudar nas despesas
com flores, velas e cafezinho distribuídos aos fiéis durante as novenas. Planejaram construir uma
capela e levar o santo em procissão pelas poucas ruas existentes à época no povoado.
O ancião, Antônio
Martins, que há mais de uma semana sofria com espinha de peixe atravessada na
goela, fez promessa a São Germano e, mesmo doente, foi acompanhar a procissão.
Em dado momento, empurrado pela multidão, o velho tropeça numa raiz de cajueiro
indo esparramar-se no chão. Nesse instante, salta-lhe garganta a fora, a
famigerada espinha!
Milagre! Milagre! Milagre! Mais um milagre de São Germano!
Choros... Gritos de
vivas e de glórias, por mais este milagre de São Germano!
Enquanto moradores
de Porto de Areia regozijavam-se com seu santo milagreiro, tinha alguém que não
estava gostando nadinha desses milagres. Era o vigário da paróquia,
Cônego Alteredo, que via, a cada dia, diminuir a frequência dos fiéis
em sua Igreja, tendo como consequência a diminuição da féria, ou seja, das
ofertas em dinheiro.
Resolveu tirar a
limpo essa história dos milagres de São Germano. Foi à casa de Florêncio e
chegou no exato momento em que estava sendo rezada uma ladainha.
Furioso, o padre
avançou sala adentro chutou o altar, agarrou o santo e bradou em voz alta: - Que diabo de
santo é esse, caboclo?
Florêncio surpreso
e amedrontado respondeu:
- É São Germano, seu padre!
- Que São Germano que
nada! Como é que tu sabes que é São Germano? Tu já viu São Germano,
caboclo?
Eu que sou padre, nunca vi São Germano!
Como é que tu vais saber que isso
aqui é São Germano?
- Ói ispie aqui seu padre, disse Florêncio segurando a imagem.
Tá no fundim dele. Olhe: Made in Germany. Só pode
ser São Germano, não tenho dúvidas!
O
padre sorriu e foi explicar ao Florêncio e aos demais que na realidade a imagem
atribuída a São Germano tratava-se de um calunga, fabricado na Alemanha, provavelmente caído ao mar, do bordo de algum navio estrangeiro atracado
no porto, muito frequente em Tutóia naquela época.
Mas, como diz o dito popular “a fé é
quem cura e não o pau da barca”, muitas pessoas obtiveram
graças após recorrerem a São Germano, motivados certamente pela fé naquilo que é
divino.
Nota do autor:
Este
causo faz parte do livro MEU SOBRINHO PRODAMOR E OUTROS
CAUSOS que publiquei em edição reduzida em 2008 quando concorri pela primeira vez a uma cadeira da Academia Parnaibana de Letras. Será republicado até dezembro deste ano em edição ampliada, incluindo-se novos causos e crônicas.
Foi postado neste blog
pela primeira vez em 25 de agosto de 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário