quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

ESTANTE DE LIVROS

 
CAUSOS E COUSAS 
Antonio Gallas
                 Mais um livro de poemas passa a enriquecer as estantes de nossas bibliotecas.
                Recebi, com dedicação e tudo, o livro “Causos e Cousas – o sobejo do verso” de autoria de João Rolim, que não é outro, senão o médico-poeta baiano-cearense-parnaibano João Rubens Agostinho Rolim. Explico: médico por profissão, poeta por convicção, amor, vocação; baiano por haver nascido na terra de Castro Alves, Gilberto Gil...,  cearense por ter vivido desde sua infância no Ceará (terra de seus pais, de Patativa do Assaré, de Braulio Bessa Uchoa e de muitos outros grandes poetas e repentistas) em Fortaleza e no sertão do Cariri, e parnaibano por ter sido agraciado com o título de Cidadão Parnaibano outorgado pela Câmara Municipal de Parnaíba em 2016.
o médico-poeta João Rolim
 
                O livro editado pela Sieart Gráfica e Editora, que traz ilustrações em xilogravura idealizadas pelo arquiteto Edmo Campos, de Teresina, diagramado por Fabrícia Lopes e revisado pelo próprio autor,   é um misto de poesia clássica (parnasiana), moderna e cordel, como se pode ver nos poemas  abaixo:
 
 
DO QUE É O AMOR
Como a brisa que, livre e em contra-mão,
Vem do mar e ao mar se é saudade,
É tão leve, que passa em floração
E de breve se torna eternidade.
 
Como o risco de luz de uma estrela,
Que, veloz, se é linda e mais linda,
Que o sereno do céu se furta tê-la,
Mas um tenro sorriso faz-se ainda.
 
 
Como creio em certeza em não-dor,
Venha a brisa ou o risco de uma luz,
Já que o amor não se vê, não se traduz.
 
É me crer em palavra que conduz,
Um tão mínimo e só fomentador,
Que o sinto esse eterno, são, amor.
CÉU DE FOGO ARDIDO:
saudade e agonia,
Aperto no espinhaço que bulina.
Todo Coração quando semeia é parasita
E é menino prá sempre menina.
 
NÃO HÁ SECA QUE SEQUE O OCEANO /MEM FEITIÇO QUE ACABE O NOSSO AMOR
Não há lágrima que acabe o meu sofrer,
Nem sentido quer faça ‘ocê voltar.
Não há dúvida do véu deste luar,
Nem mil preces que peça ao bem-querer.
Não há chuva de março ao ver nascer,
Tão simplória e modesta a bela flor.
Dos jardins infinitos, um esplendor
De paixões tão cadentes, tudo insano.
Não há seca que seque o oceano
Nem feitiço que acabe o nosso amor!  
            Como se pode observar temos aí três estilos diferentes de se fazer poesia. O primeiro poema “Do que é o Amor”  é um soneto obedecendo as normas da rima e da métrica, enquanto que  “céu de fogo ardido” não obedece métrica nem rimas, próprio das poesias modernistas. Já o último “não há seca que seque o oceano nem feitiço que acabe o nosso amor”, o poeta utilizou-se de um mote (*) muito comum na literatura de cordel principalmente nos repentes e pelejas dos violeiros.
            Apesar dessa mistura poética onde a tendência maior é para o cordel, os veros do dr. João Rubem direcionam-se para o  lado do mais profundo sentimento do ser humano – o amor – aquilo que está guardado em nossos corações. Mas como disse o médico e acadêmico Gisleno Feitosa na primeira orelha ou orelha esquerda do livro “com a mesma destreza que massageia um coração combalido, o cardio-poeta João Rolim massageia habilmente as palavras despertando sentimentos íntimos e adormecidos”.     
            Assim é o livro “Causos e Cousas (o sobejo do verso) do dr. João Rubem, que nos proporciona uma leitura agradável, desperta nossos sentimentos colocando nossa imaginação a vaguear    e coloca nossa imaginação à toda prova como aconteceu comigo quando lia o poema  
"Pedido” 
Deus fez tudo no mundo e fez o homem,
Que, sozinho, pediu por companhia.
O Senhor fez, então, naquele dia,
Bichos mil, mas que esses não se comem.
Quando caça, os bichos todos somem.
Foi então que chamou Deus p’ruma prosa,
E pediu coisa tão maravilhosa
Que pudesse cheirar, chupar inteira.
Deus, então, fez surgir desta maneira,
Neste mundo, os pés de manga-rosa.
            Causos e Cousas (o sobejo do verso) termina com uma preciosidade em literatura de cordel.  A peleja de um velho vaqueiro aposentado chamado de Manél Prisco com a mais terrível criatura de todos os tempos – dona morte.  Nessa peleja podemos encontrar diversos gêneros da literatura de cordel – do quadrão ao martelo agalopado.
 
            Agradeço ao dr. João Rubens pela gentileza de ter-me enviado um exemplar do seu livro devidamente autografado e recomendo a leitura desta obra que como citei no início será mais uma a enriquecer as estantes de nossas bibliotecas.
( * )  Estrofe que, localizada no início de uma composição poética, é utilizada como razão da obra, desenvolvendo o tema do poema.  A sentença ou frase que serve como base ou tema para uma obra literária.

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