CAUSOS E COUSAS
Antonio Gallas
Recebi,
com dedicação e tudo, o livro “Causos e Cousas – o sobejo do verso” de autoria
de João Rolim, que não é outro, senão o médico-poeta baiano-cearense-parnaibano
João Rubens Agostinho Rolim. Explico: médico por profissão, poeta por
convicção, amor, vocação; baiano por haver nascido na terra de Castro Alves, Gilberto
Gil..., cearense por ter vivido desde sua infância no Ceará (terra de seus pais,
de Patativa do Assaré, de Braulio Bessa Uchoa e de muitos outros grandes poetas e repentistas) em Fortaleza
e no sertão do Cariri, e parnaibano por ter sido agraciado com o título de
Cidadão Parnaibano outorgado pela Câmara Municipal de Parnaíba em 2016.
o médico-poeta João Rolim |
O livro
editado pela Sieart Gráfica e Editora, que traz ilustrações em xilogravura idealizadas pelo arquiteto Edmo Campos, de
Teresina, diagramado por Fabrícia Lopes e revisado pelo próprio autor, é um misto de poesia clássica (parnasiana), moderna e cordel, como se
pode ver nos poemas abaixo:
DO QUE É O AMOR
Como a brisa que, livre
e em contra-mão,
Vem do mar e ao mar se é
saudade,
É tão leve, que passa em
floração
E de breve se torna
eternidade.
Como o risco de luz de
uma estrela,
Que, veloz, se é linda e
mais linda,
Que o sereno do céu se
furta tê-la,
Mas um tenro sorriso
faz-se ainda.
Como creio em certeza em
não-dor,
Venha a brisa ou o risco
de uma luz,
Já que o amor não se vê,
não se traduz.
É me crer em palavra que
conduz,
Um tão mínimo e só
fomentador,
Que o sinto esse eterno, são, amor.
CÉU DE FOGO ARDIDO:
saudade e agonia,
Aperto no espinhaço que bulina.
Todo Coração quando semeia é parasita
E é menino prá sempre menina.
NÃO HÁ SECA QUE SEQUE O OCEANO /MEM FEITIÇO
QUE ACABE O NOSSO AMOR
Não há lágrima que acabe o meu sofrer,
Nem sentido quer faça ‘ocê voltar.
Não há dúvida do véu deste luar,
Nem mil preces que peça ao bem-querer.
Não há chuva de março ao ver nascer,
Tão simplória e modesta a bela flor.
Dos jardins infinitos, um esplendor
De paixões tão cadentes, tudo insano.
Não há seca que seque o oceano
Nem feitiço que acabe o nosso amor!
Como
se pode observar temos aí três estilos diferentes de se fazer poesia. O primeiro
poema “Do que é o Amor” é um soneto
obedecendo as normas da rima e da métrica, enquanto que “céu de fogo ardido” não obedece métrica nem
rimas, próprio das poesias modernistas. Já o último “não há seca que seque o
oceano nem feitiço que acabe o nosso amor”, o poeta utilizou-se de um mote (*)
muito comum na literatura de cordel principalmente nos repentes e pelejas dos
violeiros.
Apesar
dessa mistura poética onde a tendência maior é para o cordel, os veros do dr.
João Rubem direcionam-se para o lado do
mais profundo sentimento do ser humano – o amor – aquilo que está guardado em
nossos corações. Mas como disse o médico e acadêmico Gisleno Feitosa na
primeira orelha ou orelha esquerda do livro “com a mesma destreza que massageia
um coração combalido, o cardio-poeta
João Rolim massageia habilmente as palavras despertando sentimentos íntimos e
adormecidos”.
Assim
é o livro “Causos e Cousas (o sobejo do verso) do dr. João Rubem, que nos
proporciona uma leitura agradável, desperta nossos sentimentos colocando nossa
imaginação a vaguear e coloca nossa imaginação à toda prova como
aconteceu comigo quando lia o poema
"Pedido”
Deus fez tudo no mundo e
fez o homem,
Que, sozinho, pediu por
companhia.
O Senhor fez, então,
naquele dia,
Bichos mil, mas que
esses não se comem.
Quando caça, os bichos
todos somem.
Foi então que chamou
Deus p’ruma prosa,
E pediu coisa tão
maravilhosa
Que pudesse cheirar,
chupar inteira.
Deus, então, fez surgir
desta maneira,
Neste mundo, os pés de manga-rosa.
Causos
e Cousas (o sobejo do verso) termina com uma preciosidade em literatura de
cordel. A peleja de um velho vaqueiro
aposentado chamado de Manél Prisco com a mais terrível criatura de todos os
tempos – dona morte. Nessa peleja
podemos encontrar diversos gêneros da literatura de cordel – do quadrão ao
martelo agalopado.
Agradeço
ao dr. João Rubens pela gentileza de ter-me enviado um exemplar do seu livro devidamente
autografado e recomendo a leitura desta obra que como citei no início será mais
uma a enriquecer as estantes de nossas bibliotecas.
( * ) Estrofe que,
localizada no início de uma composição poética, é utilizada como razão da obra,
desenvolvendo o tema do poema. A sentença ou frase que
serve como base ou tema para uma obra literária.
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