quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Vou abrir uma fábrica de abanos e vou ficar rico!

 



Pádua Marques*

        Estava eu aqui em casa depois do almoço, como dizia o velho português caolho Luiz Vaz de Camões, posto em sossego, nesse calor do Saara e deitado numa rede vermelha, quando mais que de repente tive uma ideia. E essa ideia chegou depois de ter visitado hoje pela manhã o Mercado da Caramuru e lá visto numa banca um objeto que me recordou a infância. E tudo que me lembra a infância me aguça a imaginação.

        Vi um abano! Fazia tempo que eu não via esse objeto tão familiar. Estava lá entre tantos outros objetos, raladores, cordas, ganchos de tirar balde de fundo de poço, armadores de redes, grelhas, canecos de alumínio, quartinhas e potes de barro, focinheira pra cachorros, chicotes, baladeiras pra caçar rolinha, enfim, aquilo que um dia foi útil pra muitas pessoas e hoje até viraram peças de decoração.

        Pois o abano de palha de carnaúba estava lá naquele meio. Vi e guardei na memória. Uma hora dessas vai ser útil. E aí eu naquele antes de um prolongado cochilo ocorreu a ideia de abrir uma fábrica de abanos. Sim senhor, uma fábrica de abanos, com aquele galpão imenso cheio de operárias lá na Ilha de Santa Isabel, perto dos imensos carnaubais. Coisa de atravessar a ponte velha enquanto a nova não vem e estar na maior indústria de abanos de todo o Piauí.

            Uma fábrica de abanos. Nada mais interessante e com grande capacidade de ganhar mercado no mundo inteiro, América do Norte, Central, alguns países da América do Sul, África, a Ásia com a China, a Índia, a Tailândia, Filipinas, Emirados Árabes, Jordânia, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Karadecão, Nepal, a Europa inteira, a Oceania, São Raimundo Nonato, Picos, Cocal de Telha, o Principado de Mônaco e o de Bom Princípio, Canárias e Tabuleiro Islands.

        Produção de abanos pra sair de quinze em quinze dias, dois e até três caminhões abarrotados até o telhado indo direto pra o porto de Luiz Correia. Esse porto é pra ser de início um porto pesqueiro, mas eu vou mexer meus pauzinhos pra colocar meus abanos na rota. Agora eu fico aqui imaginando aquelas pessoas, aquelas mulheres lindas pelo mundo inteiro, assim na praça do Vaticano, em Milão, Califórnia, em Time Square, nos Champs-Élissés, em Madri, no Korre Dakih International Aiport na Coreia do Norte se refrescando com os famosos Abanos Caramuru!

        E  me vem essa ideia justo em um momento de grande apreensão sobre o clima, as queimadas, um calor insuportável que não tem ninguém que dê mais jeito. Abanos feitos de palha de carnaúba. Finalmente aqueles carnaubais de Ilha Grande de Santa Isabel, que até hoje só deixaram aquela região com cara de terra abandonada, que antes só serviam pra os xexéus e os anuns fazerem seus ninhos, finalmente terão uma utilidade.

E eu que antes estava pensando em pedir um financiamento bancário pra abrir uma fábrica de cacos de assar castanha, agora estou propenso a entrar no ramo de abanos ecológicos. Não gastam energia, são portáteis, elegantes. Vou fabricar em vários modelos, cara do Mickey Mouse, Coração, Celular, Borboleta, Nossa Senhora, Papagaio, o Tradicional. E se Deus quiser eu vou encher a burra!!

Pádua Marques* Escritor, romancista, contista, membro da Academia Parnaibana de Letras e do Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de Parnaíba.

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