FELICIDADE: SUBSTANTIVO CONCRETO
Benedito Lima (*)
Chegamos ao fim da tarde, quase
crepúsculo. Decidíramos visitá-la juntos — eu, Cajubá e Dorinha — para que a
conversa fluísse amena.
Dona Francinete, minha primeira
professora, mesmo sem ter sido avisada da visita, nos recebeu com carinho.
O passo firme — dados em nossa
direção — contrastava com o corpo magro; a voz potente — ao nos saudar —
contrastava com a idade; o sorriso — estampado nas meninas dos olhos —
combinava com a alegria de nos ver.
— Que surpresa! - Falou.
Levamos pequenos mimos — uma forma de
carinho. Ela os recebeu sem demonstrar emoção e nos pediu para sentar.
Demonstrando lucidez e memória
fantástica — conduziu a conversa —, falou sobre tudo: o tétano que me acometeu
ainda criança; a escola e os castigos a quem não fazia os deveres; o boi do
Hélio Pancho que o acompanhou no cortejo até o cemitério e dançou antes do
enterro, a liderança que ele exercia sobre as outras crianças do bairro e a
falta que ele lhe faz.
Disse-me que o Pituca a havia
visitado há poucos dias e lhe ofertado o meu livro “Experimentos Poéticos”, mas
que o recusara por falta de dedicatória. Na despedida, prometi lhe trazer, no
dia seguinte, às nove horas, o livro com a —reclamada — dedicatória.
Às nove em ponto, cheguei à sua casa.
Ela me recebeu com um sorriso dizendo: — Gostei da pontualidade!
Conversamos menos de cinco minutos —
nem entrei —, tempo suficiente para me emocionar com as suas palavras ao se
despedir.
“Benedito Filho, eu lhe ensinei — no
tempo em que você foi meu aluno — que felicidade é substantivo abstrato —
depende de alguém para existir —, no entanto, penso que me equivoquei, estou
convicta, agora, que felicidade é substantivo concreto. Desde ontem, quando
vocês vieram me visitar, que a felicidade me envolve, me toca, me faz voltar ao
passado, me faz sorrir. A felicidade não depende mais de mim para existir. É
concreta, não se dissipa. Impregnou-se em tudo que me cerca, está em todos os
lugares da casa. Portanto quando ela quiser voltar a ser abstrata, vou lhes
telefonar e pedir para me visitarem: — Prefiro-a concreta.
(*) Benedito Lima é poeta, escritor, auditor fiscal do Ministério do Trabalho e membro da Academia Magalhense de Letras.

Tão singela a felicidade!
ResponderExcluirExcelente. Benezinho, como carinhosamente o trato me surpreendeu de felicidade concreta. É por estas e outras que seu blog é importante. Parabéns. Xikin Carvalho.
ResponderExcluirObrigado amigo. Vou transmitir suas palavras ao Bené.
ExcluirQuerido amigo, obrigado
ExcluirMaravilhoso!!! Vou visitar D Francinete.Não foi minha mas de meus sobrinhos e meu filho.Admiravel mestra.Sempre a encontro no mercado.Sua familia de Araioses onde passei muitas ferias e ela era amiga de minhas tias.Obrigada Benezinho e Xikim Carvalho
ResponderExcluirObrigado, francisca
ExcluirNão foi minha professora mas dos meus e eu concordava com seu método.
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