M Dulcinéa (*)
O que me sustenta são as memórias.
São as histórias contadas por minh'avó
O que me sustenta é o canto das andorinhas sozinhas, sozinhazinhas.
O que me sustenta é meu choro, é o coro dos sabiás, é a saudade.
O que me sustenta é a solidão dos outros, também minha.
O que me sustenta é mergulhar em mim, sem narcisismo.
O que me sustenta é o fogo das paixões, migalhas de esperança, as pequenas alianças, alianças desvinculadas.
O que me sustenta são as palavras em procissão ("uma andorinha só não faz verão"). Verão.
O que me sustenta é a primavera sem flores. Não há chuva.
O que me sustenta não é a fé, mas o fazer crer, o processo, a travessia.
O que me sustenta é minha busca infindável.
O que me sustenta é o pouso interminável da poesia.
O que me sustenta é a insustentabilidade do ser que tudo precisa ser.
O que me sustenta é a mutabilidade do tempo, do agora.
O que me sustenta é a possibilidade de sempre, sempre ser aprendiz.
O que me sustenta é a (qualquer) possibilidade de perspectiva do agora eterno.
O que me sustenta são as páginas em branco e preenchê-las, deixando espaços...
O que me sustenta é olhar o firmamento e as estrelas e, quando é possível vê-las,
Acordar, ver as nuvens brincando, como se fossem carneirinhos de algodão.
O que me sustenta é a linguagem, essa ferramenta sedenta que se apropria do signo para dizer
O dito não dito, a fim de ambiguizar o que se quer e aquilo que não se quer mostrar.
O que me sustenta é a possibilidade da utopia.
Mdsr Rio, 24 de setembro de 2014 - 18 hs.
(*) M Dulcinéa é natural de Tutóia, estudou em Parnaíba no Colégio Nossa da Graça. Residiu no Rio de Janeiro e agora reside em Parnaíba. É mestra em Língua Portuguesa e em Psicopedagogia.
Muito bom!!👏👏
ResponderExcluirQue lindeza!!! E vamos nos sustentando... cada um com suas verdades!
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