terça-feira, 1 de setembro de 2020

OS ENGENHOS DO ARARI


João Francisco Batalha *

As moendas de cana-de-açúcar, em  território do atual município de Arari, superaram  mais de duas dezenas, entre engenhos  bangüês e engenhocas movidos pela atração animal (boi)  e  chegaram  a fabricar cerca de vinte mil arrobas de açúcar por período de moagem. A primeira que se teve noticia foi o Engenho Vera Cruz que ficava no Sítio Velho, distante 27 léguas da capital por vias fluvial e marítima e foi propriedade   de Manoel Beckman, ainda na segunda metade do no século XVII. Na primeira metade do século seguinte, foi a vez do Engenho Grande, que deu origem o povoado do mesmo nome.  Ficava a mais de uma légua da povoação do Arary, à sua montante,  e pertenceu a Bernardo Pereira de Berredo e Castro.

Fabricavam açúcar bruto, o mascavado, obtido pela evaporação da seiva da cana sem aditivos químicos no processo de fabricação e refinamento natural. Pronto, o produto, este era colocado em cofos de palha de babaçu e posto em deflúvio e secagem, onde passava em média três dias para então ser pesado e exportado.

   O Engenho Babilônia, sede da fazenda Nova Austrália, pertencente  ao coronel José Antônio de Oliveira, (foi o segundo mandatário do município de Arari e  pai do Barão de Itapary)  localizava-se  nas Flecheiras, sendo movido a vapor e reputado  como  um dos mais  importantes  engenhos do Maranhão,  onde se produzia um dos melhores açúcar do Estado.                                  

 Com exceção destes e dos engenhos de propriedade  dos senhores José Antônio  Fernandes, que ficava no Carmo; Antônio Filipe Pimenta Bastos, na adjacência da própria  vila do Arari;  Leocádio Antônio Bogéa, no Monteiro;  Ivo Cândido da Silva Batalha, no Barreiros;  Pedro Lima Saraiva que, posteriormente,  pertenceu a Cipriano Ribeiro dos Santos e ficava  na  Baixinha do Ubatuba; Leovegildo Ericeira Pinto, que ficava na Tresidela do Arari; entre outros, também  classificados no quadro dos melhores do município, a maioria eram engenhos bangüês, com técnicas primitivas e moagens movidas  à roda hidráulica,  puxada  a boi.  Moendas de média produção,  com evaporação do caldo  em  grandes tachos,  aquecidos por fogo a vapor gerado a lenha e bagaço da própria cana.   Existiam também,  as engenhocas que produziam cachaça, açúcar e rapadura. Duas cachaças  se sobressaíram no município; a Farra Feliz, produzida no engenho Santa Margarida, do senhor Cipriano  dos Santos  e a São José, fabricada no engenho do Leó Pinto, vendidas na capital e em municípios vizinhos, com engarrafamento próprio, rótulos impressos,  padronizados  e selos de anuência alfandegária. Vale  ressaltar   que era tida como uma das melhores da terra e vendida e consumida, também, em  municípios vizinhos  a Cachaça do Lauzino, lambicada pelo cachacier  João Gualberto, que tinha como auxiliares os filhos João Gordinho  e Piquirito.  A Cachaça  do João Luís era  fabricada no Barreiros e também uma das preferidas dos etilista que valorizam  água que passarinho não bebe e
que tubarão não nada.

Entre as dezenas de produtores de açúcar, mel, melado, cachaça e rapadura, existiram  em solo arariense, o da Saramanta que pertenceu a José Joaquim Batalha; no Sítio, os que pertenceram a Veríssimo de Souza Garros,  Raimundo Bento de Souza  e Zelino de Souza;  na Curva da Mucura, a Julião Boaventura de Souza;  no Bonfim os pertencentes  a Patrocínio Lopes e Nascimento;  na Tresidela do Bonfim, o que pertenceu a Jacinto Antônio Leite e sucessivamente a  Ivo Cândido Batalha,  Raimundo Nonato Batalha e Joaquim José da Costa; no Barreiros que foi propriedade de  Ivo Cândido Batalha e sucessivamente a  Pedro Lima Saraiva, Abraão Salomão, João Nunes Ribeiro e João Luís dos Prazeres; o do Santo Antônio que pertenceu a Ivo Batalha;  os da Tresidela do Arari,  que pertenceram a Thiago Chaves,  Domingos Chaves, Lucas Bogéa e  Leovegildo Ericeira Pinto; os da Rabela, os foram propriedades de Rafael Antônio Fernandes e  Julião Boaventura de Souza; o da  Sapucaia que pertenceu   Ladislau Antônio Sousa; o do Carmo que pertenceu José Antônio Fernandes; o do Quebra-Coco que pertenceu a Francisco  Raimundo Sarmento; o da Ilha Grande que pertenceu a  José Joaquim dos Santos; e  o da Boa Esperança que pertenceu a Francisco Oliveira.  Existiram, também, engenhos fazenda   e  plantações de cana de açúcar no Vassoural,  Curral da Igreja, Patarral, Fazenda do Carmo, Arraial, Manoel João, Macaquiçá os quais não identificamos os nomes dos seus proprietários.   Os proprietários de engenhos gozavam de privilégios perante ao povo e às autoridades.  Os bangüêzeiros, que eram trabalhadores braçais, quando solteiros,  trabalhavam e viviam em alojamentos nos próprios engenhos. Cada qual cumpria sua tarefa. Existiam os  Açucareiros, que eram o Mestres do Açúcar; os Lambedores ou  Lambiscadores especialista no preparo da cachaça; os foguistas, encarregados de tocar fogo na fornalha; os botadores de cana, encarregados de fornecer a moageira;  os bagaceiros, responsáveis pela tirada do bagaço da área interna do engenho;   os cambiteiros que conduziam os carros e tocavam os bois boi;  os plantadores, os cortadores e os transportadores de cana.

Plantio totalmente manual e a variedade da gramínea se concentrava entre   Cana Caiana, Pernambuco, Criola  e Cana Roxa,  por serem as mais resistentes à praga.

Para obter uma boa produção de cana bastava o cultivo  em terra fértil, cuja área  propícia se acentuava nas duas margens do extremo baixo Mearim, em área  do atual município de Arari, do Engenho Grande  ao Vassoural.

Imprescindíveis para os donos de engenho, os carros e as juntas de boi. Carros que  produziam um rangido característico através de uma peça de madeira no eixo a qual  se dava o nome de Cucão.  Existiam também,  os plantadores de cana independentes, fornecedores com quem os proprietários dos engenhos dividiam em meiação o resultado do produto colhido. A matéria prima era transportada para os engenhos em carros de boi, puxados por uma junta de novilhos. Os engenhos eram dotados de potentes apitos que chamavam os trabalhadores para a faina, e, também, os avisavam na hora do almoço e do descanso. O Bangüê era o engenho movido por força animal através de uma engrenagem de madeira com cilindros em base circular  em forma de gangorra, puxado por bois adestrados,  emparelhados por cangas e separados por cambão.

  O ciclo econômico do açúcar em terras arariense prevaleceu entre a segunda metade de século XVIII até  as primeiras décadas do século XX, com ênfase, durante todo o século XIX.

Quando criança, frequentei e me deliciei nos produtos dos engenhos do Senhor Veríssimo Garros, que ficava no Sítio Velho; do Senhor João Luís dos  Prazeres, no Barreiros;  do Senhor Leó Pinto, na Tresidela do Arari e do Senhor Lauzino Souza, que ficava na Rabela do Santo Antônio.

Conheci também, o da Capoeira Grande, era bangüe pequeno. Havia na casa do meu avô Mundico Batalha, uma engenhoca grande, movida  a propulsão humana destinada a extração de garapa para consumo dos  familiares e para todos os trabalhadores que laboravam em volta das atividades da família, também destinado à extração do caldo da cana, através do processo de moagem pela separação da fibra, para fazer vinagre.

            * Presidente da Federação das Academias de Letras do Maranhão.



 

Engenho Santa Margarida

Casa que pertenceu ao pecuarista Cipriano Ribeiro

dos Santos. Foi sede do Engenho Santa Margarida

e centro de decisões políticas do Arari, entre o final

da terceira e início da sexta década de do século XX.

  Crédito fotográfico de João Francisco Batalha.

 


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