quarta-feira, 23 de setembro de 2020

NA PANDEMIA, CADA DOIDO COM A SUA MANIA!

Antonio Gallas

 

                                Foto divulgação
É muito conhecido  o jargão que de poeta e de louco todos nós temos um pouco. Mas, acho que muitos têm não apenas de poeta, mas também de  outras profissões.

Há exatos seis meses sem sair de casa por conta da tal pandemia fui obrigado a sair no dia 18, sexta feira,  para resolver um assunto que não seria possível fazê-lo pelo aplicativo. Aliás, antes desse dia, dava pequenas voltas pelas ruas da cidade sem contudo sair do carro. Apenas para ver e observar o movimento.

Como os índices das mortes no Piauí estavam em queda,  ou em estabilidade, nessa sexta, 18 de setembro, e diante dessa  necessidade, pensei: por que não sair? Resolvi sair, afinal de contas desde o dia 20 de março, em prisão domiciliar, fazendo compras, pagamentos e tudo mais pelos aplicativos de computador ou celular (abençoada tecnoligia!),  e pra não dizer que não saía, de quando em vez dava pequenas caminhadas no quarteirão somente em frente à minha residência na Rua Florindo Castro, sendo  que no dia sete de setembro estendi esta caminhada até ao fim da rua de onde pude ver um pouco da solenidade que acontecia no Centro Cívico em alusão aos 198 anos da Independência do Brasil.

Nessa saída do dia 18,   passei na Banca do Louro, fui ao Banco do Brasil, dirigi-me ao beco da Caixa Econômica  até à lanchonete Água na Boca, cumprimentei  e dei uma saudação aos amigos das lanchonetes alí localizadas, em seguida peguei meu carro, passei no Manoelzinho Cabeleireiro e pedi que o mesmo viesse até minha residência para cortar o meu cabelo o qual estava horrível. Imaginem, seis meses sem cortar...

No dia seguinte, sábado 19 fui mais além e parei na lanchonete Sabor do Lanche,  onde funcionou o Mister Lanches, tomei um copo de cerveja com o meu cunhado Sabino, observando claro, as medidas de proteção.  

Mal tinha degustado o primeiro copo da deliciosa e saborosa loura suada,  um cidadão que estava em outra mesa,  também tomando uma cerveja, dirige-se até onde estávamos eu e meu cunhado, cumprimenta-nos com uma cotovelada, fala alguma coisa que não entndi,  diz ser policial e que estava armado com uma pistola 380 mm. E mostrando o volume que aparecia entre o cós da calça e a camisa de meia que usava,  fala para o meu cunhado botar a mão e sentir o tamanho da arma.

Fiquei apavorado! Diante de tantas loucuras que temos visto, crimes cometidos por policiais e bandidos armados, dei uma desculpa e como se diz na gíria capei o gato e fiz sinal para o Sabino também dar no pé, pois o sujeito estava visivelmente embriagado e impossível seria prever-se o que poderia acontecer. Observei entretanto que meu cunhado não arredou o pé de onde estava e aquilo me intrigou.

Quando liguei para o meu cunhado para saber porque ele permaneceu no recinto, disse-me que havia comunicado o ocorrido ao dono da lanchonete e que este havia lhe dito: — se avexe não seu Sabino. Esse aí só ofende o que come! Ele pensa que é um policial  e a arma é um pedaço de papelão que ele usa na cintura entre a calça e a camisa. (risos)

Foi então que nos lembramos de quando moravamos em São Luís conhecemos o professor Sócrates ( o nome dele era Elias) que andava sempre impecável  de paletó preto  e gravata,  frequentava a Câmara dos Vereadores dizendo ser vereador, ou carregando vários livros de direito,  frquentava aulas na Faculdade de  Direito da UFMA sem ser aluno,  e conversava muito bem sobre política (sempre na defesa da família Sarney), contudo sem dirigir qualquer ofensa a quem quer que fosse, tanto asim que as pessoas não o maltratavam, apenas divertiam-se de suas sandices.  Tinha ainda, uma senhora, que vestida com um hábito de freira, postava-se à frente da igreja da Sé, e mesmo sem saber ler fingia estar lendo as passagens bíblicas e aconselhando o povo a seguir os passos de Jesus Cristo. E o Flautista de Alcântara, que foi retratado na crônica e inspirou o título do livro do jornalista e escritor maranhense Ribamar Fonseca? Sem ser músico e com uma flauta feita de cano de PVC  que sequer emitia qualquer som, postava-se entre os músicos de uma banda, e ,  como narra o cronista,  pela perfeição da mímica que sempre faz nas serestas, imitando um flautista, o intrigou,  porque não Fonseca  conseguia ouvir o som da flauta,   até  descobrir que  o músico era apenas mais um desses que se arvoram de personagens famosas e passam a nos divertir.

Quem em Parnaíba,  não lembra da prefeita Hosana, do Major, do Marechal, da Jibóia, Maria da Onça, Maria das Cabras e de muitos outros? Em Teresina o Manelão que dizia ser um avião e voava da Ponte João Luiz Ferreira até se atirar às águas do Rio Parnaíba?  A prefeita Hosana, vestida com uma roupa de marinheiro e carregando uma bolsa branca a tiracolo adentrava às reprtições públicas de Parnaíba  como Câmara de Vereadores, Prefeitura, Forum, Capitania dos Portos  etc... e passava a dar ordens aos titulares dessas repartições.  Chegou até demitir do cargo um secretário de administação municipal como ele próprio narrou em sua página do facebook: 


Eessas pessoas, sem dúvida, merecem o nosso respeito, tendo em vista a sua condição de saúde, seu comportamento insano, que de certa forma nos transmitem alegria, portanto devemos respeitá-los e até eternizá-los na memória de nossa cidade, como assim o fez,  o poeta, escritor e acadêmico Elmar Carvalho em Poemitos da Parnaíba, no qual homenageia alguns dos que viveram em Parnaíba no século passado: 


 

As ilustrações são do artista plástico parnaibano Gervásio Castro

13 comentários:

  1. Muito interessante, são personagens pitorescos da nossa cidade,que de uma forma ou de outra contribuem culturalmente para nossa história

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  2. O belissimo texto de autoria do professor A. Gallas,narra com muita beleza os tipos característicos existentes nas cidades,com seus trejeitos e modus operandi que a comunidade apoia e deixa o tempo passar a fim de conviver harmonicamete.

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    1. Mesmo sem ter sua identificação, agradeço suas palavras, assim como agradeço também aos demais que compartilham com seus comentários elogiosos.

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  3. Parabéns querido confrade amigo Teodoro Peres

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  4. O comentario foi meu,por não saber manejar bem fcou sem o nome Teodoro Peres.

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  5. Muito interessante o seu texto, amigo Gallas. Parabéns! Imortalizar esses tipos pitorescos que existem em todos os lugares é também um meio de resgatar a história das comunidades.

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  6. Sobre o Professor Sócrates, lembrei de um episódio do período em que Sarney era Presidente da República e o professor foi à Brasília e resolveu visitar o Presidente, que ele proclamava a todo mundo ser seu padrinho. A guarda do palácio, não dando crédito ao infeliz, lhe impediu o acesso. Sócrates, então, esperou uma distração do guarda e conseguiu finalmente adentrar no prédio. Mas, infelizmente, terminou sendo descoberto e já estava sendo compulsoriamente conduzido para fora do palácio quando a sorte lhe sorriu: José Sarney, que estava chegando naquele momento, vislumbrou a figura reconhecendo-a de imediato e levou o homem para dentro. Parece que chegou mesmo a providenciar-lhe uma passagem de avião. E Sócrates retornou a São Luís alardeando ter sido nomeado Assessor do Presidente para Assuntos Especiais, ou algo assim. Kkkkkkkk

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  7. Li sobre esse episódio. Nessa época eu já não estava mais em São Luis. Estava em São Bernardo, terra do imortal Bernardo Almeida. Eu trabalhava na agência do Banco do Brasil daquela cidade.

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  8. Excelente texto da vida real e ao mesmo tempo imaginária dos doentes mentais...Esses seres são de uma pureza inacreditável...

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