quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

MUDANÇA DE TERRA: vida e morte de Joaquim Silvério dos Reis


MUDANÇA DE TERRA: vida e morte de Silvério dos Reis em São Luís do Maranhão (1809/1819)

Por Euges Lima *
Há 201 anos, em fevereiro de 1819, morreu aqui em São Luís o famoso delator da Conjuração Mineira, Joaquim Silvério dos Reis. Porém, ainda existiam certos equívocos ou dúvidas sobre a data exata de sua morte. Na verdade, a vida desse personagem da história do Brasil aqui em São Luís, ainda é muito desconhecida e pouco estudada.
Ano passado, nos 200 anos de sua morte, aproveitei para tentar esclarecer essa questão, então busquei o Arquivo Publico do Estado do Maranhão, pois sabia que o seu Assento de Óbito deveria estar por lá. Esse documento havia décadas que não era consultado. Para nossa sorte, o encontramos e pudemos verificar nesse documento, lavrado pela Catedral da Sé que o Coronel de Milícias Joaquim Silvério dos Reis Montenegro, natural da freguesia da Sé da Cidade de Leiria, Patriarcado de Lisboa, faleceu no dia 17 de fevereiro de 1819, em São Luís e que foi sepultado na Igreja de São João Batista, pondo fim, assim, a qualquer dúvida a esse respeito.
Joaquim Silvério dos Reis é uma figura histórica controvertida e polêmica, até pela forma como ele passou para história como um “delator”, um anti-herói, virou “persona non grata” da história do Brasil e sinônimo de traição, mas também é um personagem histórico pouco estudado, carente de biografias e esclarecimentos sobre passagens de sua vida e atuação na “Inconfidência Mineira”.
O túmulo de Silvério dos Reis que durante muito tempo foi identificado por uma lápide na Igreja de São João, localizada no Centro de São Luís, devido a reformas ocorridas no Templo em décadas passadas (1934) que não observaram a importância histórica desse sepultamento, acabou desaparecendo, sem deixar vestígios e não sabemos atualmente o paradeiro dos seus remanescentes mortais.
Silvério dos Reis viveu na cidade de São Luís do Maranhão, durante os últimos 10 anos de sua vida, entre 1809 e 1819, quando faleceu com 63 anos. Provavelmente, retornou ao Brasil com a vinda da Família Real em 1808, vindo para o Maranhão no ano seguinte, pois, devido sua “delação premiada” ao movimento da Conjuração Mineira, ficou sem ambiente no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, nesse sentido, se deslocou para o norte, a província do Maranhão, região distante de onde ocorreram esses acontecimentos e que tinha uma grande colônia portuguesa que o acolheu.
Em São Luís, Silvério viveu como membro da elite portuguesa local, como Comandante do Regimento de Milícias. Conforme registros em Assentos de Batismos, Silvério dos Reis teve dois filhos em São Luís com sua esposa D. Bernardina Quitéria dos Reis, o Luiz, nascido em 1811 e o José, nascido em 1814, este, teve como padrinho o Doutor Físico-Mor do Maranhão Antônio José da Silva Pereira e madrinha, D. Vicência Rosa, casada com o Tenente Coronel de Milícias Isidoro Rodrigues Pereira, influente e rico comerciante, político que depois de viúvo, iria casar-se com Ana Jansen.

Ao se mudar para o Maranhão, Silvério do Reis, assina, acrescentando Montenegro, como já havia fazendo desde 1795 em Campos do Goitacazes no Rio de Janeiro. Já no Maranhão, Silvério dos Reis, em requerimento, encaminhado a D. João VI, então Príncipe Regente, expõe seus problemas de saúde e velhice e a condição de habitante em terra estranha e sem bens, alegando que não teria mais muitos anos de vida, solicita então a sua Majestade que após sua morte, mantenha para sua mulher e filhos, a pensão anual de 400 mil réis que recebia do Tesouro do Maranhão, pedido recusado pelo Príncipe de próprio punho.
(*) Euges Lima é natural de Tutóia -Ma. Professor, historiador, ex-presidente e atual vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão - IHGMA. É sócio correspondente da Academia Parnaibana de Letras em São Luis - MA.

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