NOITE FELIZ
Antonio Gallas
PART I - Introdução
Acordara assustado pelo barulho de buzinas de carro e pelo
burburinho de vozes das pessoas que transitavam pela calçada onde estivera
caído ao chão, dormindo, sabe-se lá por quantas horas.
Levantou-se e caminhou a esmo. Viu à sua esquerda o Bar Fortaleza, na
esquina Praça da Graça com a Rua Riachuelo, de onde fora enxotado pelo garçom porque
não tinha dinheiro para pagar a dose de bebida que havia consumido. Olhou em sua frente e viu a praça, as lojas
que a circundavam, repletas de luzes coloridas e as pessoas caminhando rumo à
Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça.
Só então se deu conta de que era noite de natal e as pessoas
estavam indo para a Missa do Galo e que seria celebrada em poucos minutos pelo
bispo de Parnaíba Dom Paulo Hipólito de Souza Libório.
Imagem meramente ilustrativa |
Rafael chegara em Parnaíba no final da década de 1960.
Oriundo do interior do Maranhão, mais precisamente do vizinho município de
Araioses, o mais novo dentre quatro irmãos assim que concluiu o curso primário
no Grupo Escolar Luis Viana, do povoado João Peres, comunicou aos pais, o seu
desejo de vir morar em Parnaíba para prosseguir nos estudos, pois, segundo ele,
não tinha tendências para "trabalhar na
roça".
E assim foi feito. Seu Joaquim, pai de Rafael, tinha uma
irmã de nome Marfisa que morava aqui em
Parnaíba no Bairro São José. Acertaram com ela aceitar o menino em sua casa
para que o mesmo pudesse prosseguir nos estudos. Em troca, seu Joaquim,
próspero agricultor e pecuarista, abasteceria mensalmente sua dispensa com os
mantimentos necessários à alimentação de todos da casa.
Rafael foi matriculado na Escola Comercial de Parnaíba, onde
iniciou o seu curso ginasial. Estudioso e bem-comportado, logo logo ganhou a
amizade dos colegas, o respeito e a admiração dos professores, tanto assim que
um dos seus professores da escola, o qual também era instrutor no SENAI, o
aconselhou a fazer um curso de mecânica naquela instituição, que ainda hoje é
referência nacional.
E assim foi feito.
Rafael dedicara-se
com afinco aos estudos das disciplinas curriculares do ginásio, como também das
atividades a serem cumpridas nas oficinas do Centro de Formação Profissional
José de Moraes Correia, em Parnaíba.
Pela sua dedicação passou a ser o monitor da sua turma, e em
menos de dois anos estava concluindo seu Curso Básico de Mecânica de
Automóveis.
Feliz, e bem otimista em seus propósitos, foi inicialmente
estagiar na oficina de um senhor conhecido por “Riba do Saló”, ali no bairro do Carmo; depois com o “Chico Pato”
na Guarita, onde a especialidade era “enrolar” induzidos, o que consistia em
fazer uma nova bobina para a peça que acionava a parte elétrica dos automóveis
naquela época.
Mas Rafael pensava alto e não queria depender de quem quer que
fosse. Já havia terminado o ginásio e planejava abrir sua própria oficina.
Com um pequeno financiamento conseguido através do Banco do
Nordeste, com a fiança do seu padrinho, senhor Sebastião Furtado, rico fazendeiro
e proprietário de carnaubais no município de Araioses, Rafael comprou então
alguns equipamentos tais como compressor, elevador, equipamento hidráulico,
solda, máscara e luva para proteção individual, soquetes, carregadores, torno
mecânica e outros, que possibilitassem abrir sua própria oficina e trabalhar
por conta própria sem depender de terceiros.
E foi assim que surgiu a “Oficina do Rafa” ali na Guarita, nas proximidades da “Figueira” e da “Beleza da Rosa” região bastante
frequentada à noite pelos notívagos, boêmios e mulherengos.
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