terça-feira, 24 de dezembro de 2019

CONTO NATALINO


NOITE FELIZ
Antonio Gallas


PART I - Introdução


Acordara assustado pelo barulho de buzinas de carro e pelo burburinho de vozes das pessoas que transitavam pela calçada onde estivera caído ao chão, dormindo, sabe-se lá por quantas horas.
Levantou-se e caminhou a esmo.  Viu à sua esquerda o Bar Fortaleza, na esquina Praça da Graça com a Rua Riachuelo, de onde fora                   enxotado pelo garçom porque não tinha dinheiro para pagar a dose de bebida que havia consumido.  Olhou em sua frente e viu a praça, as lojas que a circundavam, repletas de luzes coloridas e as pessoas caminhando rumo à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Graça.
Só então se deu conta de que era noite de natal e as pessoas estavam indo para a Missa do Galo e que seria celebrada em poucos minutos pelo bispo de Parnaíba Dom Paulo Hipólito de Souza Libório.


Imagem meramente ilustrativa

Rafael chegara em Parnaíba no final da década de 1960. Oriundo do interior do Maranhão, mais precisamente do vizinho município de Araioses, o mais novo dentre quatro irmãos assim que concluiu o curso primário no Grupo Escolar Luis Viana, do povoado João Peres, comunicou aos pais, o seu desejo de vir morar em Parnaíba para prosseguir nos estudos, pois, segundo ele, não tinha tendências para "trabalhar na roça".
E assim foi feito. Seu Joaquim, pai de Rafael, tinha uma irmã de nome Marfisa   que morava aqui em Parnaíba no Bairro São José. Acertaram com ela aceitar o menino em sua casa para que o mesmo pudesse prosseguir nos estudos. Em troca, seu Joaquim, próspero agricultor e pecuarista, abasteceria mensalmente sua dispensa com os mantimentos necessários à alimentação de todos da casa.
Rafael foi matriculado na Escola Comercial de Parnaíba, onde iniciou o seu curso ginasial. Estudioso e bem-comportado, logo logo ganhou a amizade dos colegas, o respeito e a admiração dos professores, tanto assim que um dos seus professores da escola, o qual também era instrutor no SENAI,  o aconselhou a fazer um curso de mecânica naquela instituição, que ainda hoje é referência nacional.
E assim foi feito.
 Rafael dedicara-se com afinco aos estudos das disciplinas curriculares do ginásio, como também das atividades a serem cumpridas nas oficinas do Centro de Formação Profissional José de Moraes Correia,  em Parnaíba.
Pela sua dedicação passou a ser o monitor da sua turma,  e em menos de dois anos estava concluindo seu Curso Básico de Mecânica de Automóveis.
Feliz, e bem otimista em seus propósitos, foi inicialmente estagiar na oficina de um senhor conhecido por “Riba do Saló”, ali no bairro do Carmo; depois com o “Chico Pato” na Guarita, onde a especialidade era “enrolar” induzidos, o que consistia em fazer uma nova bobina para a peça que acionava a parte elétrica dos automóveis naquela época.
Mas Rafael pensava alto e não queria depender de quem quer que fosse. Já havia terminado o ginásio e planejava abrir sua própria oficina.
Com um pequeno financiamento conseguido através do Banco do Nordeste, com a fiança do seu padrinho, senhor Sebastião Furtado, rico fazendeiro e proprietário de carnaubais no município de Araioses, Rafael comprou então alguns equipamentos tais como compressor, elevador, equipamento hidráulico, solda, máscara e luva para proteção individual, soquetes, carregadores, torno mecânica e outros, que possibilitassem abrir sua própria oficina e trabalhar por conta própria sem depender de terceiros.
E foi assim que surgiu a “Oficina do Rafa” ali na Guarita,  nas proximidades da “Figueira” e da “Beleza da Rosa” região bastante frequentada à noite pelos notívagos, boêmios e mulherengos.

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