segunda-feira, 14 de outubro de 2019

GESTA DA ÁGUA

O poeta parnaibano Diego Mendes de Sousa escreveu uma série de poemas começando com a palavra GESTA, que na realidade  significa uma composição poética, em forma de canção, que narra um fato real ou fictício.  Está aí então a primeira delas:

GESTA DA ÁGUA
Nesta grandíssima manhã de primavera, 
as portas 
da minha casa 
estão abertas 
para a visita
fluida da beleza.

Altair é a susana da minha poesia 
e da minha vida.

A solidão habitava o feiume 
dos meus gestos e
querençoso eu esperava 
o tempo.

Hoje caminho tardo pelo vento oeste.

Meu coração vagueia 
no mapa das ruínas e
infesto o campo dos silêncios.

Cada ruído pressentido, 
diz da alma.

Cada rastro revelado, 
diz da vidência, essa alegria 
a se eternizar.

Mancham os céus de um cinza cruel 
e morrem 
os oceanos 
em mim.

Eu que sempre 
fui água, 
mansidão 
de peixes 
e de siris.

Ser líquido 
na chuva, 
rio no mar naufragado.

Eu que sempre 
fui água, 
a escorrer 
pelo sangue das marés.

Ó manhã 
devastada no belo! 
Assim é a ceia farta 
dos maremotos escondidos!

Queda,
quebra,
estrondo

elegia da natureza 
encantada,
sou água!


Poema de Diego Mendes Sousa 
Fotografia de Chico Rasta 
sobre a Praia do Coqueiro, litoral do Piauí.

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