quarta-feira, 12 de junho de 2019

SHORT STORIES

- afogado, enforcado e de cabeça para baixo! - 
Por: Antonio Gallas

Os festejos juninos, Santo Antonio, São João e São Pedro é uma das festas mais alegres e comemorada em todo o Nordeste. No Maranhão, por exemplo, as cidades de todas as regiões do Estado transformam-se em junho numa alegria única. Na capital, São Luis, nem se fala noutra coisa, e pra completar, ainda criaram o Dia de São Marçal,  dia 30, último dia do mês, que é quando se  encerram as festas, na avenida que recebeu o nome do Santo, no Bairro do João Paulo. São Marçal  apesar   não ser um Santo reconhecido pela Igreja,  é venerado pelos brincantes de bumba-meu-boi. E neste dia, sob o som das matracas, orquestras  e pandeirões,   os grupos de bumba meu boi do Maranhão promovem o encerramento oficial dos festejos, marcado pelo grande Encontro dos Batalhões de Bumba Meu Boi que  começa às seis da manhã estendendo-se até a madrugada de 1º de julho. A festa reúne milhares de pessoas todos os anos. 
Boizinho "Precioso" - Tutóia- Maranhão

Mas, o Bumba Meu Boi no Maranhão não termina em 30 de junho. Prossegue o ano todo em todo o Estado. Mas não é sobre São João dos Carneirinhos, São Pedro, o protetor dos pescadores ou sobre São Marçal, o padroeiro dos brincantes do bumba meu boi que pretendo agora escrever. Quero falar sobre Santo Antonio, o chamado "santo casamenteiro" e narrar   um causo que aconteceu comigo e mais outro amigo de Tutóia, no tempo de nossa adolescência. Sobre Santo Antonio, muitas são as simpatias que, não apenas as que já estão no "caritó" ou seja, as solteironas fazem, mas também as novinhas desejosas de casar. Poi bem, vamos ao caso: 
Nessa época, década de 1960, muitas famílias em Tutóia ainda não se davam ao luxo de ter uma geladeira em em suas residência.  A água para o consumo era armazenada em filtros de barro da marca Fiel ou São João ou então armazenada em potes também de barro. E diga-se de passagem, era friinha e deliciosa  chegava até fazer inveja a certos refrigeradores de hoje. 


Eu e meu primo, paquerávamos duas irmãs que moravam na barra, já na beirinha da praia, na rua dr. Paulo Ramos, à época sem qualquer pavimentação. Em suma, as dunas tomavam conta da rua. Essas moças, hoje são casadas e não residem mais em Tutóia.
Sempre aos eu e meu primo as visitávamos na parte da tarde. Depois de uma caminhada de mais ou menos dois quilômetros, chegávamos, ao nosso destino esbaforidos, suados e com muita sede. A primeira coisa que fazíamos era saciar a sede. Como eu já tinha bastante intimidade na casa, eu mesmo enchia os copos d'água,  bebia e trazia para o meu primo. Aconteceu que nesse domingo o filtro estava vazio, não saiu água da torneira. Então, peguei o púcaro, um pequeno recipiente de alumínio com um cabo comprido para se retirar água dos potes  e que muitos chamam "cuco" ou "côko",  e quando o introduzi ao pote notei que batera em algo rijo que provocou um certo barulhinho. Aquilo aguçou minha curiosidade. Então metia mão dentro e pote e sabem o que encontrei? Imaginem: uma   pequena imagem de Santo Antônio de cabeça para baixo, dentro de um copo e  com um cordão dado um nó no pescoço, como se tivesse sido enforcado.

Chamei meu primo, fomos embora, e as meninas ficaram sem falar conosco por um bom tempo.
Pobre Santo Antonio! Afogado, enforcado e de cabeça para baixo!


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