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| Fonte: O Pensador/Google |
LÍNGUA INCULTA E BELA
Valério Chaves – Des. inativo TJPI.
Sabemos que as expressões das culturas humanas são transmitidas através de linguagens escritas ou orais para manifestar uma forma de sentir, uma maneira de pensar e identificar as sutilezas da língua e as coisas do mundo em diferentes épocas.
Dentro dessa perspectiva, há de se compreender que a intensificação do contato entre diferentes culturas ao redor do mundo possibilitou a interpretação de algumas expressões com diferentes significados simbólicos, históricos e até sentimentais como as que se extrai do célebre poema “Língua Portuguesa”, de autoria de Olavo Bilac (1865-1918), um dos mais importantes poetas brasileiros.
Da análise semântica do verso de abertura, observa-se que o poeta, talvez querendo enfatizar a beleza e o amor pelo idioma de Camões, recorre à metáfora“Última flor do Lácio inculta e bela”, para designar que foi a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar, ou seja, aquele que as classes inferiores habitantes da região do Lácio, na Itália, usavam para se comunicar.
Na concepção do poeta parnasiano, o fato de ser originária de uma linguagem inculta, não deixava de ser bela. Daí a metáfora: “inculta e bela” inserida no soneto.
Além dessa metáfora usada por ele no primeiro verso, há também um paradoxo no segundo: “És, a um tempo, esplendor e sepultura”.
Observadores mais atentos dão a seguinte explicação para estas expressões de linguagem: “Esplendor”, porque uma nova língua (o português) estava nascendo, ascendendo, dando continuidade ao latim.“Sepultura” porque, a partir do momento em que a Língua Portuguesa vai sendo usada e se expandindo pelo mundo, o latim vai caindo em desuso, morrendo.
Portanto, levando em conta que o nosso idioma continua sendo o traço principal de união entre o Brasil, Portugal e outros países com os quais mantemos relações de amizades, políticas, comerciais e econômicas, é importante que procuremos preservar nossa identidade nacional: a língua portuguesa, ou como expresso nos versos de Bilac:
“Ultima flor do Lácio inculta e bela
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...”
Teresina-PI, março/2017

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