VOCÊ
PODE NÃO ACREDITAR
Antonio
Gallas
“Você
pode não acreditar: mas houve um tempo em que os leiteiros deixavam as garrafinhas
de leite do lado de fora das casas, seja ao pé da porta , seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o
grupo de manhazinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse
roubar aquilo.
Você
pode não acreditar: mas houve um tempo em que os padeiros deixavam o pão na
soleira da porta ou na janela que dava para a rua. A gente passava e via aquilo
como uma coisa normal.
Você
pode não acreditar: mas houve um tempo em que você saía à noite para namorar e
voltava andando pelas ruas da cidade, caminhando displicentemente sentindo cheiro
de jasmim e de alecrim, sem olhar para trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que
as pessoas se visitavam amistosamente. Chegavam
no meio da tarde ou à
noite, contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia e voltavam de bonde às
suas casas.
Você
pode não acreditar: mas houve um tempo em que o namorado primeiro ficava andando
com a moça numa rua perto da casa dela, depois passava a namorar no portão, depois
tinha ingresso na sala da família. Era sinal de que já estava praticamente
noivo e seguro.
Houve
um tempo em que havia tempo.
Houve
um tempo.”
O texto
que acabamos de ler foi uma das questões da prova do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM realizado no último domingo
(6) em todo o país. É de autoria do escritor mineiro Affonso Romano de
Sant’Anna e foi publicado jornal “Estado de Minas” em 05 de maio de 2013. Além de escritor com mais de 40 livros
publicados, Affonso Romano que é
casado com a escritora Marina Colasanti, é professor em diversas
universidades brasileiras e já lecionou em universidades dos Estados Unidos e Europa.
Neste texto, o autor tenta sensibilizar o
leitor sobre o modo de como as pessoas relacionavam-se entre si num tempo mais
aprazível, sem essa violência que hoje enfrentamos, que sequer
temos o direito de sentar à porta de nossas residências para um bate
papo cordial com um amigo porque corremos o risco de sermos molestados, esfaqueados,
baleados por essa gama de mal elementos que se proliferou no país (não estou falando dos políticos!!!), na
maioria menores de idade que são protegidos pelas leis da justiça, dos direitos
humanos etc... etc...
Estamos
presos! Enjaulados nos nossos próprios lares, protegidos (?) por cercas elétricas, câmaras de segurança, cães de
guarda e outros aparatos tecnológicos, mas mesmo assim nossas residências são
invadidas por esses meliantes que cometem as mais escabrosas atrocidades que
vão desde o estupro ao assassinato. E fica por isso mesmo! A impunidade reina
em nosso país.
Você pode não acreditar, você jovem que
nasceu nas últimas décadas do século XX não teve a felicidade de ter vivido
neste tempo em que “éramos felizes e nem sabíamos”! Minha geração viveu.
Gerações anteriores à minha também viveram!
Repetindo
o que escreveu Affonso Romano de
Sant'Anna, você pode não acreditar, mas houve um tempo... Houve um tempo que
gostariamos de vivê-lo novamente...
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