O Carango da Quite
Antônio Gallas
Meu sobrinho Prodamor
passou uma temporada no Rio de Janeiro. Pouco mais de um ano, mas foi o
suficiente para aprender um pouco da gíria e da malandragem do carioca. Como
todo nordestino que se preza, Prodamor voltou do Rio, cheio de gírias,
arrastando a voz para imitar o sotaque carioca. Um pouco do que aprendeu na
Cidade Maravilhosa. Antes de retornar, ligou para a família a fim de avisar que
estava de regresso. Quem atendeu ao telefonema foi seu Hipólito, pai do
Prodamor.
“Escuta aí ô coroa, diz Prodamor. Tô batendo esse fio, prá avisar prá patota
que to abrindo no rumo daí. As coisas aqui não tão muito boas, não! Vou pegar o
buzu na Grande Rio, amanhã, bem no cagar dos pintos. Vou de buzu porque a bufunfa tá curta e não dá prá pagar a passagem de asa dura.
Pega o carango e vai me esperar na rodô
da Parná, no sábado pela manhã”.
Seu Hipólito
ouviu, entendeu, mas não gostou. Muitas gírias que ele não estava acostumado a
ouvi-las.
Quando Prodamor
chegou foi aquela festa. Abraços, beijos, todos curiosos para saber que
presentes ele havia trazido.
No Domingo,
Prodamor levantou cedo, preparou um sanduba,
tomou café, esperou seu Hipólito sair dos aposentos e lascou:
“Ô velho, descola aí o carango, que vou
pegar uma praia na companhia de uma minas e depois tomar uns birinaites e como você sabe né broder, não dá prá ir de pevete, só de pé-de-borracha, morou”?
Seu Hipólito
fazendo das tripas coração para não perder a calma e mandar um direto nas fuças
do Prodamor, pacientemente respondeu-lhe:
“Infelizmente, hoje, não posso lhe arranjar
o carango meu filho, pois vai estar à disposição da Quite”.
“Que Quite?”
Indagou Prodamor...
Calmamante, seu Hipólito respondeu: “a qui ti pariu, fela da puta”!!!
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