Uma decisão Supremo Tribunal Federal
tornou ilegal a vaquejada no Estado do Ceará. Consequentemente a medida se
estenderá aos demais estados do Nordeste. Assim como a farra do boi em Santa Catarina (que também foi proibida) faz parte
da cultura catarinense, a vaquejada
faz parte da cultura nordestina, só que com uma diferença: na farra do boi o animal
é maltratado até à morte e sua carne não pode ser aproveitada.
E o que dizer das lutas de Box, das
MMAs (artes Marciais Mistas), dos UFCs (campeonatos de combates de luta) que se
espalham por este Brasil afora?
Nessas
competições os competidores não parecem seres humanos, mas sim animais brutos
que batem e apanham, apanham com direito a sangramento e tudo...
A vaquejada é o segundo esporte mais popular do Nordeste.
Só perde para o futebol. Gera emprego e renda. Cerca de 720 mil empregos
diretos e indiretos e movimenta mais de 600 milhões de reais por ano, segundo
as estatísticas. O Tribunal justifica que os animais são maltratados. Todavia, a
Associação Brasileira de Vaquejada com sede em Fortaleza (CE),
defende a prática e alega que as
competições adotaram novas regras para proteger os animais. Os bois usam agora
um protetor nas caudas, é proibido usar chicotes e esporas e qualquer ferimento
no animal, é motivo para desclassificação.
Por
conta dessas notícias sobre a proibição da vaquejada lembrei-me que certa vez
meu sobrinho Prodamor meteu-se numa enrascada durante uma festa que acontecia na
região do Magu, após uma vaquejada. Vamos então ao causo:
O AMANSADOR DE BURROS
Antonio Gallas
Meu sobrinho Prodamor parece ter
nascido fadado a lhe acontecerem causos engraçados. Engraçados e desastrosos.
Seriam trágicos se não fossem cômicos.
Acabo
de lembrar-me de um episódio desastroso que lhe aconteceu num mês de junho
durante uma festa em homenagem a São João, na região do Magu, no sertão
maranhense.
Tudo tinha sido preparado para a grande festa de
São João. O pátio da “Fazenda Boa Esperança” estava todo embelezado com
bandeirinhas coloridas de papel de seda. O pau
de sebo com uma cédula de dez cruzeiros na ponta era a atração maior da
molecada que aguardava ansiosa a hora de disputar o prêmio. Tão logo
anoitecesse seria acessa uma grande fogueira e a festança animada iria começar
ao som de sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro.
Coronel Cazuza, rico fazendeiro da região,
realizava todos os anos essa grande festa em homenagem a São João como paga de
uma promessa feita ao santo. Abatia várias reses gordas para a alimentação dos
convivas. Comida e bebida de graça, não faltava, para todo mundo.
Há tempos bons aqueles! Tempos de muita fartura!
Cedo começaram a chegar os convidados. Gente de
toda redondeza. Desde as encostas do Magu até dos altos sertões do Brejo de
Anapurus.
À tarde a famosa e tradicional vaquejada, onde dois
vaqueiros competidores montados a cavalo tinham que derrubar um boi puxando-o
pelo rabo entre duas faixas de cal, previamente marcadas.
E foi aí que por acaso apareceu o meu sobrinho
Prodamor armado com um grande punhal à cinta e uma pistola de cano longo que
deixava à mostra para que todos a vissem. Começou a meter pinga e a contar
bravatas. Tudo mentira, pois, no fundo no fundo, Prodamor era um frouxo. Mijava
e cagava nas calças de medo.
Mas, o coronel Cazuza que não o conhecia e vendo-o
com cara de bandido e pinta de valentão temeu que ele viesse a formar um sururu e estragar sua festa.
Preparou-lhe então um plano diabólico. Uma cilada.
Existia na Fazenda, o Furacão, um burro indomável. Um
assombro! Tanto pulava, como mordia; dava coices e peidava. Já havia derrubado
experientes e hábeis amansadores de animais. O bicho nem carga aceitava. Jogava
tudo à grande distância. E tome coices e tome dentes... Era o terror da
fazenda!
Coronel Cazuza mandou buscar o burro
e amarrou o bichinho num canto da cerca em frente ao pátio da festa. Enquanto
isso, Prodamor continuava enchendo a cara de pinga, contando suas valentias,
aumentando suas estórias de valentão à medida que iam chegando as caboclas
faceiras, com vestidinhos de chita estampada, com flores no cabelo, para
embelezar a grandiosa festa daquela noite banhada por uma lua de prata
admirável.
Aproveitando um momento em que Prodamor, no centro da latada, cercado
de moças e rapazes, contava suas valentias, Coronel Cazuza aproximou-se e
disse:
- Meus senhores e minhas senhoras. Muita atenção
para o que eu vou dizer: Aqui ao meu lado está o maior amansador de burros do
Magu. É o cabra mais valente e destemido destas redondezas. Botou dez soldados
para correr, e com uma só bofetada, matou uma onça. É como eu disse, o maior
amansador de burros da região, repetiu com ênfase:
-Tragam o mais bravo de todos os burros que eu
mostrarei quem eu sou.
- Seu Fulgêncio, disse o Coronel, traga aquele
burrinho cardão para o seu Prodamor dá uma voltinha aqui no pátio e alegrar
essa gente.
E lá vem o cardão, aparentemente manso.
Prodamor coloca as esporas nos calcanhares, chibata
metida no punho, chapéu de couro preso ao pescoço por um barbicacho, e com um
aceno de mão saudando aos presentes, montou no burro.
Momentos de expectativa. O burro sai caminhando
devagarzinho e na primeira esporada o animal deu três pulos, levantou o rabo,
peidou e num piscar de olhos jogou o pobre coitado do Prodamor ao chão que se
levantou cabisbaixo levando as vaias da plateia.
- Eu só
queria... Eu só queria..., dizia ele, eu só queria saber quem foi esse filho de
uma égua que disse que eu era amansador de burros.
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