domingo, 23 de outubro de 2016

CAUSOS DO PRODAMOR


            Uma decisão Supremo Tribunal Federal tornou ilegal a vaquejada no Estado do Ceará. Consequentemente a medida se estenderá aos demais estados do Nordeste. Assim como a farra do boi em Santa Catarina (que também foi proibida) faz parte da cultura catarinense, a vaquejada faz parte da cultura nordestina, só que com uma diferença: na farra do boi o animal é maltratado até à morte e sua carne não pode ser aproveitada.

            E o que dizer das lutas de Box, das MMAs (artes Marciais Mistas), dos UFCs (campeonatos de combates de luta) que se espalham por este Brasil afora?

Nessas competições os competidores não parecem seres humanos, mas sim animais brutos que batem e apanham, apanham com direito a sangramento e tudo...

            A vaquejada é o segundo esporte mais popular do Nordeste. Só perde para o futebol. Gera emprego e renda. Cerca de 720 mil empregos diretos e indiretos e movimenta mais de 600 milhões de reais por ano, segundo as estatísticas. O Tribunal justifica que os animais são maltratados. Todavia, a Associação Brasileira de Vaquejada com sede em Fortaleza (CE),

defende a prática e alega que as competições adotaram novas regras para proteger os animais. Os bois usam agora um protetor nas caudas, é proibido usar chicotes e esporas e qualquer ferimento no animal, é motivo para desclassificação.

            Por conta dessas notícias sobre a proibição da vaquejada lembrei-me que certa vez meu sobrinho Prodamor meteu-se numa enrascada durante uma festa que acontecia na região do Magu, após uma vaquejada. Vamos então ao causo:

 

 

O AMANSADOR DE BURROS

Antonio Gallas

 

 

            Meu sobrinho Prodamor parece ter nascido fadado a lhe acontecerem causos engraçados. Engraçados e desastrosos. Seriam trágicos se não fossem cômicos.
                                                                                                                                                                   Acabo de lembrar-me de um episódio desastroso que lhe aconteceu num mês de junho durante uma festa em homenagem a São João, na região do Magu, no sertão maranhense.

Tudo tinha sido preparado para a grande festa de São João. O pátio da “Fazenda Boa Esperança” estava todo embelezado com bandeirinhas coloridas de papel de seda. O pau de sebo com uma cédula de dez cruzeiros na ponta era a atração maior da molecada que aguardava ansiosa a hora de disputar o prêmio. Tão logo anoitecesse seria acessa uma grande fogueira e a festança animada iria começar ao som de sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro.                                                                                                                                                                    

Coronel Cazuza, rico fazendeiro da região, realizava todos os anos essa grande festa em homenagem a São João como paga de uma promessa feita ao santo. Abatia várias reses gordas para a alimentação dos convivas. Comida e bebida de graça, não faltava, para todo mundo.

Há tempos bons aqueles! Tempos de muita fartura!

Cedo começaram a chegar os convidados. Gente de toda redondeza. Desde as encostas do Magu até dos altos sertões do Brejo de Anapurus.

À tarde a famosa e tradicional vaquejada, onde dois vaqueiros competidores montados a cavalo tinham que derrubar um boi puxando-o pelo rabo entre duas faixas de cal, previamente marcadas.

E foi aí que por acaso apareceu o meu sobrinho Prodamor armado com um grande punhal à cinta e uma pistola de cano longo que deixava à mostra para que todos a vissem. Começou a meter pinga e a contar bravatas. Tudo mentira, pois, no fundo no fundo, Prodamor era um frouxo. Mijava e cagava nas calças de medo.

Mas, o coronel Cazuza que não o conhecia e vendo-o com cara de bandido e pinta de valentão temeu que ele viesse a formar um sururu e estragar sua festa. Preparou-lhe então um plano diabólico. Uma cilada.

            Existia na Fazenda, o Furacão, um burro indomável. Um assombro! Tanto pulava, como mordia; dava coices e peidava. Já havia derrubado experientes e hábeis amansadores de animais. O bicho nem carga aceitava. Jogava tudo à grande distância. E tome coices e tome dentes... Era o terror da fazenda!

            Coronel Cazuza mandou buscar o burro e amarrou o bichinho num canto da cerca em frente ao pátio da festa. Enquanto isso, Prodamor continuava enchendo a cara de pinga, contando suas valentias, aumentando suas estórias de valentão à medida que iam chegando as caboclas faceiras, com vestidinhos de chita estampada, com flores no cabelo, para embelezar a grandiosa festa daquela noite banhada por uma lua de prata admirável.

                                                                                                                                                     Aproveitando um momento em que Prodamor, no centro da latada, cercado de moças e rapazes, contava suas valentias, Coronel Cazuza aproximou-se e disse:

- Meus senhores e minhas senhoras. Muita atenção para o que eu vou dizer: Aqui ao meu lado está o maior amansador de burros do Magu. É o cabra mais valente e destemido destas redondezas. Botou dez soldados para correr, e com uma só bofetada, matou uma onça. É como eu disse, o maior amansador de burros da região, repetiu com ênfase:

-Tragam o mais bravo de todos os burros que eu mostrarei quem eu sou.

- Seu Fulgêncio, disse o Coronel, traga aquele burrinho cardão para o seu Prodamor dá uma voltinha aqui no pátio e alegrar essa gente.

E lá vem o cardão, aparentemente manso.

Prodamor coloca as esporas nos calcanhares, chibata metida no punho, chapéu de couro preso ao pescoço por um barbicacho, e com um aceno de mão saudando aos presentes, montou no burro.

Momentos de expectativa. O burro sai caminhando devagarzinho e na primeira esporada o animal deu três pulos, levantou o rabo, peidou e num piscar de olhos jogou o pobre coitado do Prodamor ao chão que se levantou cabisbaixo levando as vaias da plateia.

- Eu só queria... Eu só queria..., dizia ele, eu só queria saber quem foi esse filho de uma égua que disse que eu era amansador de burros.

 

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