sábado, 2 de julho de 2016


ESTÓRIAS DE XIKOUSE

XIKIN CARWALHO (escritor parnaibano)
 LIVRAI-ME    DO   MALAMÉM

 
 

                Outro dia de anos atrás (favor não confundir), época de Natal, resolvi que deveria purificar minha sofrida, chafurdada e penosa alma desvirginada. Livrar-me do mal, amém. Fui então à procura da salvação.

                Peguei meu carango e saindo do trabalho segui para a Igreja dos Redentoristas, onde às 18h00minh aconteceria uma “confissão comunitária”. Evento oportuno para quem, como eu, não tem coragem de contar travessuras sociais psicodramáticas para um Padre.

                Chegando ao local do lav’alma, respirei fundo, tomei goles etílicos de coragem, agarrei minh’alma penada, pra ela não querer escapar, e adentrei ao recinto religioso. Cantos e mais cantos eram entoados, numa preparação espiritual de salvação. Então, envergonhado qu’eu estava, dirigi-me para o canto direito do fundo da Igreja, e, recolhi-me à minha devota insignificância pecatorial, longe de todos.    De tanto ouvir cantos e como no canto estava, fui cantando as toadas religiosas da salvação, ensaboando assim a minha alma.

                O Ministro da Celebração toma posto no altar e inicia a confissão. E tome reza. De repente, não mais que de repente, surge uma catinga azeda de “pecado mortal”. O terrível odor advinha da minha esquerda, trazida pela refrescante brisa litorânea. Virei meu pescoço, apulumei meus oruburservantes, direcionei meu instrumento cheirador e pude observar que minha colega Rios Magalhães acabara de adentrar ao recinto. Quase que não a reconhecia, pois a pecadora portava chapéu, a fim de se esconder das más línguas. Nossa Loura Azeda chamava a atenção de todos, pois catingava o ambiente da salvação. Olhei bem e vi que Ela estava GORDA de PECADO. Era uma mistura pecatorial afrodisíaca de mortal com venial.

                Minh’alma desvirginada pelos preconceitos sociais sorria e alegre ficava, pois sabia que a alma de nossa colega era peso pesado. Pra lavar só com muita água sanitária, esponja de aço e sete pingos de soda causticam.

                Saindo da Igreja percebi que estava bem mais leve.  Resultado de haver liberado pecados pesados. Livrei-me do “malamém”. Do “MALAMÉM”?

                Naquele tempo, na escolinha, a professora perguntou para as crianças:

- do que Vocês têm mais medo?

Mariazinha respondeu:

- do Bicho Papão

Zezinho respondeu:

- do Lobo Mau.

                A mestra então disse: -  não tenham medo, pois ambos são personagens de ficção.

Joãozinho que havia ficado calado disse:

- tenho medo do “malamém”.

A professora pensou, rebuscou seus conhecimentos e como nada detectou, perguntou:

- que bicho é este?

Joãozinho respondeu:

- saber  não sei, mas Mamãe toda vez que reza o Pai Nosso, no final diz: “mas livrai-nos do malamém”.

                Pois é, e nossa Loura Azeda não conseguiu se livrar do malamém, pois saiu da Igreja corcunda de tanto peso pecatorial. E sabem por quê? É que não teve coragem de contar tudo pro confessor.

                É Louraça, o jeito que tem é Você visitar um Pai de Santo, da macumba de Ôxumpar.

 

Moral da estória: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”.

 

 

Parnaíba, 15.07.2007

 

Xikin Karwalho

 

 

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