ESTÓRIAS DE XIKOUSE
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XIKIN CARWALHO (escritor parnaibano) |
Outro dia de anos atrás (favor
não confundir), época de Natal, resolvi que deveria purificar minha sofrida,
chafurdada e penosa alma desvirginada. Livrar-me do mal, amém. Fui então à
procura da salvação.
Peguei meu carango e saindo do
trabalho segui para a Igreja dos Redentoristas, onde às 18h00minh aconteceria
uma “confissão comunitária”. Evento oportuno para quem, como eu, não tem
coragem de contar travessuras sociais psicodramáticas para um Padre.
Chegando ao local do lav’alma,
respirei fundo, tomei goles etílicos de coragem, agarrei minh’alma penada, pra
ela não querer escapar, e adentrei ao recinto religioso. Cantos e mais cantos
eram entoados, numa preparação espiritual de salvação. Então, envergonhado
qu’eu estava, dirigi-me para o canto direito do fundo da Igreja, e, recolhi-me à
minha devota insignificância pecatorial, longe de todos. De tanto ouvir cantos e como no canto estava,
fui cantando as toadas religiosas da salvação, ensaboando assim a minha alma.
O Ministro da Celebração toma
posto no altar e inicia a confissão. E tome reza. De repente, não mais que de
repente, surge uma catinga azeda de “pecado mortal”. O terrível odor advinha da
minha esquerda, trazida pela refrescante brisa litorânea. Virei meu pescoço,
apulumei meus oruburservantes, direcionei meu instrumento cheirador e pude
observar que minha colega Rios Magalhães acabara de adentrar ao recinto. Quase
que não a reconhecia, pois a pecadora portava chapéu, a fim de se esconder das
más línguas. Nossa Loura Azeda chamava a atenção de todos, pois catingava o
ambiente da salvação. Olhei bem e vi que Ela estava GORDA de PECADO. Era uma
mistura pecatorial afrodisíaca de mortal com venial.
Minh’alma desvirginada pelos
preconceitos sociais sorria e alegre ficava, pois sabia que a alma de nossa
colega era peso pesado. Pra lavar só com muita água sanitária, esponja de aço e
sete pingos de soda causticam.
Saindo da Igreja percebi que
estava bem mais leve. Resultado de haver
liberado pecados pesados. Livrei-me do “malamém”. Do “MALAMÉM”?
Naquele tempo, na escolinha, a
professora perguntou para as crianças:
-
do que Vocês têm mais medo?
Mariazinha
respondeu:
-
do Bicho Papão
Zezinho
respondeu:
- do
Lobo Mau.
A mestra então disse: - não tenham medo, pois ambos são personagens de
ficção.
Joãozinho
que havia ficado calado disse:
-
tenho medo do “malamém”.
A
professora pensou, rebuscou seus conhecimentos e como nada detectou, perguntou:
-
que bicho é este?
Joãozinho
respondeu:
-
saber não sei, mas Mamãe toda vez que
reza o Pai Nosso, no final diz: “mas livrai-nos do malamém”.
Pois é, e nossa Loura Azeda não
conseguiu se livrar do malamém, pois saiu da Igreja corcunda de tanto peso
pecatorial. E sabem por quê? É que não teve coragem de contar tudo pro confessor.
É Louraça, o jeito que tem é Você
visitar um Pai de Santo, da macumba de Ôxumpar.
Moral
da estória: “quem nunca pecou que atire a primeira pedra”.
Parnaíba, 15.07.2007
Xikin Karwalho
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