sexta-feira, 8 de março de 2019

BLOG DO POETA ELMAR CARVALHO

Professor Amstein


O genial Gervásio Castro fez a magnífica charge do professor Amstein, sem ter conhecido o mestre, já que ele faleceu em 1948, e sem ter acesso a retrato seu. De modo que se baseou apenas nas informações de que ele era um suíço de alta estatura, avermelhado, de bigode e barbas ruivas, e de que era um professor de matemática e desenho, “colega maior e mais velho, barulhento, inconsequente e brincalhão”, como dele disse o ex-aluno Renato Castelo Branco, no seu livro de memórias Peguei um ita no Norte.

Professor Amstein

Elmar Carvalho

Ainda no início de nossa mudança para Parnaíba, em 1975, meus pais, meus irmãos e eu fomos morar no apartamento dos Correios (ECT), na Praça da Graça. Foi na placa da rua, que lhe passa pela lateral externa, que vi estampado pela primeira vez o seu nome: Rua Professor Amstein. Sempre associei-lhe o nome ao do grande físico e gênio Einstein. Por isso mesmo a minha imaginação, às vezes fantasiosa, me levou a acreditar que ele poderia ser um judeu alemão fugitivo dos nazistas. Da janela de um dos banheiros do apartamento, nas madrugadas silentes, eu vi, muitas vezes, uma nesga dessa rua deserta e a placa luminosa da revenda Poncion Rodrigues com o W estilizado da Volkswagen.

Na época em que frequentei a casa do professor Lima Couto, por ser amigo do Paulo de Athayde Couto, seu filho, meu colega de turma no curso de Administração de Empresas (UFPI – Campus Ministro Reis Velloso), ouvi novamente falar em Amstein. Lima Couto, ao me relatar fatos de sua vida, sobretudo de sua experiência magisterial, me contou que o túmulo do velho mestre e engenheiro suíço fora por ele idealizado, tomando como inspiração o túmulo do Soldado Desconhecido.

Ao visitar o Cemitério da Igualdade, em diferentes ocasiões, descobri, por conta própria ou por informações de coveiros, os túmulos da poetisa Luíza Amélia de Queiroz, à sombra de sua frondosa e bela gameleira, o de minha prima Verônica Melo, morta em plena juventude, no apogeu de sua beleza, e o do professor Alfredo Eduardo Amstein.

Nesse campo santo também foi sepultada minha irmã Josélia, falecida aos 15 anos de idade, em cujo túmulo meu pai afixou uma placa de metal com os imortais versos de Da Costa e Silva: “Saudade! Asa de dor do pensamento!” No túmulo de Amstein, consta: “Nasceu em 27 de março de 1887 – Faleceu em 30 de julho de 1948. Homenagem de seus colegas do Ginásio Parnaibano e Escola Normal de Parnaíba.”

Através do Dr. Lauro Correia, diretor do Campus e meu professor no curso de Administração de Empresas, e que foi seu aluno na segunda metade da década de 1930, tomei conhecimento de outros fatos de sua vida, inclusive de que ele morou na Ilha Grande de Santa Isabel, na mesma casa, por sinal, em que nascera Evandro Lins e Silva, ministro do Supremo Tribunal Federal.

Portanto, eu sabia que Amstein, engenheiro suíço, de porte avantajado, de vastos e bastos bigode e barba ruivos, era um tipo bonachão, um grande contador de estórias e fatos anedóticos, em que a fantasia parecia se misturar com a verdade, em que a ficção se mesclava a fatos reais. Tive certeza disso quando li o capítulo O professor Amstein, do livro Tomei um ita no Norte, de Renato Castelo Branco, com quem, em minha juventude, cheguei a me corresponder por cartas. Dessa obra memorialística extraio os seguintes trechos:

“... Mas ele era bom e todos gostávamos dele. Não como um professor, a quem se respeita, mas como um colega maior e mais velho, barulhento, inconsequente e brincalhão. // ... Suas histórias, geralmente episódios de sua vida, eram ricas, férteis, cheias de pitoresco e de surpresas. Sentia-se que refletiam a verdade. Mas não apenas a verdade. A parte verdadeira as tornava plausíveis. Mas sentíamos que estávamos sendo mistificados, que Amstein enriquecia suas aventuras, que inventava, que acrescentava fatos, acontecimentos, detalhes imaginários. // Onde terminava a verdade e começava a fantasia? Sabíamos que ele mentia. Mas, como o Taubelman de Michel Deon, não sabíamos quando. Pois ele vivia em um mundo a um tempo real e imaginário, do qual era uma espécie de mágico, a nos deslumbrar. // Até mesmo a maneira como viera esbarrar em Parnaíba tinha esta marca de mistério e meia-verdade. Um dia o Diretor do Ginásio Parnaibano recebera um telegrama de Amstein, declarando-se engenheiro suíço, professor de matemática, e disposto a aceitar o convite para lecionar no Ginásio. O Diretor jamais lhe fizera qualquer convite. Nem tampouco o conhecia. Mas precisava de professor e contratou-o. // Assim chegou Amstein em Parnaíba, a cuja vida se incorporou, enriquecendo sua cultura e seu folclore. Deixou muitos amigos. Mas já chegou montado em uma meia-verdade.”   


Foto extraída da dissertação de mestrado da professora Maria do Socorro Meireles Rodrigues, cujo arquivo em PDF me foi enviado pela professora Juliana Lacet, que desenvolve uma pesquisa sobre a advogada Catarina Moura, que foi esposa de Amstein. Na foto aparece o corpo docente do antigo Ginásio Parnaibano. Acreditamos que Amstein não esteja nessa foto, uma vez que não aparece nenhum professor com bigode e barba.

No livro Cada Rua – Sua História, de Caio Passos, sobre as ruas, avenidas, praças e outros logradouros de Parnaíba, no local apropriado, encontro muitas informações sobre o velho professor Amstein, que corroboram o que sobre ele eu já sabia, além de outras que desconhecia. Entre estas, tomo conhecimento de que ele gostava de cavalgar e de cultivar suas hortas. E de que falava amiúde das belezas de sua pátria, louvando-lhe as belezas naturais, sobretudo “as edelweiss, uma linda flor branca dos Alpes”, que certamente lhe enchiam o peito de saudade e lhe faziam relembrar as níveas neves alpinas.

Dois ou três dias atrás, mediante comentário em meu blogue e de notificação em minha página no facebook, pude fazer contato com a professora e historiadora Juliana Lacet, que me pediu informações sobre Amstein, uma vez que ela está fazendo uma pesquisa sobre a vida de Catarina Moura, que foi sua esposa, de cujo casamento nasceram duas filhas e um filho, falecido aos vinte e poucos anos. Catarina foi uma mulher avançada para sua época. Advogada, escreveu vários artigos em defesa da mulher e de seus direitos. Ela era natural de Paraíba do Norte, hoje cidade de João Pessoa. Amstein era filho do cônsul suíço em Recife. Portanto, não era fugitivo dos nazistas, como a minha imaginação me fizera suspeitar.

Em meados dos anos 1980, creio, comecei a escrever uma série de poemas sobre figuras populares, anedóticas e folclóricas de Parnaíba, que faziam parte do cenário cultural, pitoresco e histórico dessa cidade. Mensalmente esses textos eram publicados, com esmeradas ilustrações de Flamarion Mesquita, no jornal Inovação. Flamarion é, como já disse, uma flama flamejante de talento. Em 2009 reuni esses poemas, que tinham o título geral de PoeMitos da Parnaíba, e os publiquei em livro, com geniais charges policromáticas de Gervásio Castro e um esmerado prefácio de Cunha e Silva Filho. Mas desde o início achei que entre eles deveria constar um sobre o professor Amstein. Não sei ao certo porque não o fiz. Acho que me faltou engenho e arte para retratar o velho engenheiro suíço.

Agora, muitas décadas depois, motivado pelos fatos acima relatados, escrevi esse desejado poema sobre o inesquecível professor Amstein, que segue abaixo (e que integrará doravante os meus PoeMitos da Parnaíba), como uma homenagem a essa instigante e fulgurante figura humana, humana no melhor e mais completo sentido da palavra:

       AMSTEIN

Elmar Carvalho

O professor Amstein,
com seu vasto bigode
e densa barba ruiva,
alto, forte, avermelhado,
chegou a Parnaíba montado
no árdego Pégaso da mistificação.
Assumiu emprego no
Ginásio Parnaibano e na Escola Normal.
Professor de desenho geométrico e matemática,
fazia suas métricas e matemágicas
em suas fantásticas e fantasiosas histórias.
Engenheiro e da Suíça, era um verdadeiro
canivete suíço: polivalente, pau para toda obra,
homem de sete ou mais instrumentos, substituía
qualquer dos professores faltosos.
Novo Barão de Munchausen
recheava suas aulas e recreios
com seus anedóticos e mirabolantes “causos”,
menino grande entre os demais meninos,
“barulhento, inconsequente e brincalhão”,
no dizer do ex-aluno Renato Castelo Branco.
Para sempre restou em sua mente a saudade
de Edelweiss, a divina e linda nívea flor dos Alpes.
Postado por Blog do poeta Elmar Carvalho em 07/03/20119.

quinta-feira, 7 de março de 2019

O COLIBRI E A ROSA





Texto de Antonio Gallas

"Fica sempre, um pouco de perfume
nas mãos que oferecem rosas..."(Alberto Costa)
As rosas sempre foram fonte de inspiração para os poetas, seresteiros, menestréis...
Alfredo da Rocha Viana Filho , o Pixinguinha,  inspirado nas rosas, escreveu um poema que hoje tornou-se uma das  belíssimas páginas do cancioneiro romântico e popular de nosso país:



"Tu és divina e graciosa 
Estátua majestosa
Do amor, por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor 
De mais ativo olor
Que na vida é preferida 
Pelo beija-flor..."




Agenor de Oliveira,  o não menos famoso Cartola, compôs outra belíssima peça que denominou de "As Rosas Não Falam"
"...Queixo-me às rosas

Que bobagem

As rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti..."


E assim, como disse, as rosas, sejam vermelhas, brancas, amarelas, sempre foram e continuarão sendo fonte de inspiração aos poetas,e a todos aqueles  que têm a sensibilidade de apreciar a beleza de uma rosa, seja ela uma rosa  flor ou uma rosa mulher. 
Na poesia parnaibana as rosas não deixaram de  retratadas. O poeta  Alcenor Candeira Filho, membro das Academias Parnaibana e Piauiense de Letras,  também inspirou-se em rosas, tanto assim que, em 1976 publicou um livro de poemas intitulado "Rosas e Pedras". É dele Alcenor, o poema abaixo (acredito ser inédito) que traz o nome de 



R O S A 
.
 hoje ganhei uma rosa
 bem cedinho de manhã
 formosa flor das rosáceas
“mimosa purpúrea flor”

 flor de pétala de lã
 odor de bala de hortelã
sabor de bolo de maçã
cor de madura romã

Como não dura qual rocha
como não dura qual osso
porquanto somente flor
pu-la em vaso de prata
 com potável água clara
 logo logo de manhã

ganhei uma bela rosa
 em vaso de prata posta
rosa de múltiplas pétalas
 flor de corola dobrada
 rosa rosa rosa rosa
- purpúrea flor da manhã 

O ex-presidente da Academia Parnaibana de Letras, poeta,advogado e contista Antonio de Pádua Ribeiro dos Santos, escreveu o poema SEDUÇÃO que foi publicado no livro VIRAÇÃO lançado em 1985. Nesse poema Pádua Santos relata a luta de um beija-flor para conquistar sua flor, que depois de possuída abre-se toda em perfume e entrega-se ao seu algoz como acontece também na conquista do homem pela mulher. Eis o poema Sedução ou, O COLIBRI E A ROSA



Ele chega pertinente,
veloz, inteligente,
 da rosa se aproxima.

Raios de sol nascente
 nas suas asas refletem
 belos matizes de cor.

De par com o sol vem o vento
que em leve movimento
faz o balanço da  flor.

Ela aproveita o embalo
vermelha, unida ao talo
defende-se do beija-flor

Ele sempre persistente,
ataca novamente
contagiando-a de amor.

O vento torna a soprar
Fazendo a flor se afastar
Daquele bico sedento.

A fome? – fome, talvez!
lhe traz de volta outra vez
à  rosa ao desalento.

Sorrateiro e veloz,
Aquele pequeno algoz
Coloca-se contra o vento.

Então se acaba a defesa
E a bela flor com nobreza
A ele toda se entrega.

Bem mais ligeiro e feliz,
ele ao conseguir o que quis,
 se recolhe aos costumes.

 Ela já possuída,
 perde a vergonha da vida,
 se abrindo toda em perfumes.

É que ele – macho, filho das matas,
Lhe bebe, beija, maltrata,
Fazendo dela o que quer.

Ela – sempre preferida,
Com ele não se exalta.
É a doce Rosa da Vida,
De todas a mais querida.
 Mais bela, mais flor – a mulher.

 Ilustração: Airton Marinho

terça-feira, 5 de março de 2019

ARTIGO


Euges Lima(*)
(*) Euges Lima é natural de Tutóia, historiador e professor de História. Foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. Atualmente é o  vice-presidente.

segunda-feira, 4 de março de 2019

SHORT STORIES

- de pijamas no clube -

                    Segunda feira de Carnaval. O ano nem lembro mas deve ter sido pelos idos de  1980.  Tínhamos chegado do "carnaval do Barro Duro" que foi criado pela família Canavieira Conceição e apoiado por  um grupo de amigos que passava férias e carnaval em Tutóia. Nessa época não tínhamos os trio elétricos, e,  muito menos  os barulhentos paredões. As Marchinhas "me dá um dinheiro aí" não era considerada assalto, "você tem que me dar seu coração"   também não era crime passional, "vou beijar-te agora" hoje é  assédio sexual,  "o teu cabelo não nega"  agora é racismo "olha a cabeleira do Zezé" homofobia,  e assim vai.  Essas leis, tiraram parte da beleza do carnaval, infelizmente.
                    O carnaval de Tutóia sempre teve muita animação nos clubes durante a noite  e na praia no domingo e na terça-feira durante o dia, porém,  na segunda-feira,  ficava aquele vazio na cidade. Foi então que o meu compadre Nonato  Canavieira tio da minha esposa e também irmão de dona Marina Fonseca e de minha sogra Zézé Conceiçao,   teve a ideia de instalar umas caixas de som com amplificadores potentes no FIAT 147 GTL do Junior Conceição (até então não era prefeito, apenas funcionário do Banco do Brasil) . Nonato, conhecido em São Luis por Canavieira (o nome da família soa forte!) é um técnico abalizado, muito competente em eletrônica.
                     Instalado o som no carro rumamos para o Barro Duro com objetivo de tomarmos banho na ponte velha e nos divertirmos. A cada ano crescia o número de pessoas que nos acompanhava na segunda-feira neste carnaval que começava ao meio dia. A brincadeira era na ponte velha nos fundos do quintal da residência do ex-prefeito José Matos Silva, no bar do Manoel Patrício. Depois da inauguração da estrada asfaltada mudamos para a ponte nova ao lado do sítio e bar do Régis, (não é o Régis Conceição, mas o Régis do Barro Duro) onde permanece até hoje.
Imagens Blog do Antonio Amaral - Tutóia


                     O Carnaval do Barro Duro é hoje uma das maiores atrações turísticas do município, perdendo apenas para os festejos juninos. Foi emancipado pelo poder público municipal na administração do prefeito Bebeto (Luis Alberto Galvão de Caldas), um dos fundadores da festa. A partir daí, nenhum prefeito pode deixar de realizar a festa, pois a mesma já está integrada ao Calendário Turístico do Município.
                     Pois bem: tínhamos chegado do Carnaval do Barro Duro, eu Cisa minha esposa, e os meninos Anselmo e Andrezza, ainda crianças. Cansados da folia procuramos descansar um pouco para mais tarde irmos ao baile no Nautico Club que fora fundado pelo "bon vivant" Antonio José Neves Rodrigues, quando prefeito de Tutóia. Eu tinha exagerado um pouco nas "louras suadas" e a  Cisa cansada do dia,  resolveu não ir ao baile.  Também não me deu o vale " vale night" e trancou todas as roupas no guarda roupa do apartamento do Hotel do Manelão onde  estávamos hospedados . Deixou fora apenas o par de Pijamas.
                       Esperei  a querida esposa "cair nos braços de Morfeu" e como ela tem um sono até certo ponto profundo, sorrateiramente abri a porta do apartamento, e fui, de pijamas, para o Nautico Clube e dancei, pulei, brinquei, (paquerei? sei lá!)  brinquei até o fim da festa fantasiado usando apenas os pijamas como fantasia.
                        Da minha parte não houve qualquer falta de respeito às famílias que estavam no clube e todos brincamos até o amanhecer com uma banda formada por músicos de Parnaíba. AFINAL, TUDO É CARNAVAL, E VAMOS EMBORA PESSOAL!
Arrastão carregando os foliões para o Carnaval do Barro Duro - 2016 - Imagens Blog do Romério Carvalho

domingo, 3 de março de 2019

CARNAVAL

BENÉ ROCHA (*)



Carnaval é alegria,
Aqui ou acolá.
Vamos gente, vamos!
Cantando e pular.

Vejam as Colombinas!
Com seus jeitos graciosos!
Respeitem Pierrot,
Que a festa fica charmosa.

Olha a cabeleireira!
Do Zezé ou outros nomes.
Não importa o modelito,
O que vale é o microfone!

Tudo é carnaval!
Vamos simbora pessoal.
Pra alegria do povo,
Quem anima é o Cababal!

Com bandeira branca,
Só há emoção!
Todos cantando juntos,
Segura coração!

Grupo Pioneiros Galhardenses,
Não deixa de ser um Bloco!
Contam tantas histórias,
Que não perdem o seu foco.

Hó! Jardineira porque foi tão triste?
Não ver muitos no salão?
Acompanhe a Colombina,
E viva essa emoção!
(*) Bené Rocha, natural de Tutóia, ex-aluno  do Colégio Almeida Galhardo, pedagogo, poeta e músico.