segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A CARTA MAGNA ESTADUAL E SUAS BODAS DE PÉROLA


Meus Caríssimos colegas, presentes de Deus, bom dia!
Comovido, ainda, pelas comemorações da passagem dos 30 anos de promulgação de nossa Carta Magna, venho lhes oferecer o texto que segue, no qual traço considerações acerca da importância dessa data e elenco detalhes do belo evento realizado na sede da PGJ, a fim de compor a memória do Ministério Público e o acervo do seu Centro Cultural.
Um abraço fraternal e boa (s) leitura (s).
Teodoro Peres(*)

O procurador Teodoro Peres


No dia 4 de outubro de 2019, durante o trajeto para a Procuradoria Geral de Justiça, a fim de participar da cerimônia em homenagem aos 30 anos da Constituição Estadual do Maranhão, ao passar pela Avenida Luís Eduardo Magalhães, deparei-me com dois belos ipês, dentro do recém-inaugurado Parque do Rangedor, no Calhau, ambos no auge de seu viço e floração amarela, rescendendo suave fragrância, afinal estamos na primavera, e parecendo falar a linguagem da poesia. Seus galhos fortes, sem nenhum embaraço, desenvolvem-se e destacam a mata verde amazona ali existente.
Nesse momento fiquei extasiado e me pus a refletir sobre o desejo de que haja abundância de néctar, para que nas horas de sol quente, aqui afluam cigarras cantantes, laboriosas abelhas polinizadoras e graciosas borboletas, que parecem flores a voejar entre flores, pois somente assim teremos o conjunto harmonioso de pétalas e de asas, para, então, termos aquele espetáculo colorido, um cenário deslumbrante, observando o seu donaire nos volteios caprichosos, que são festa para os nossos sentidos e a natureza.
Prossegui no meu trajeto, chegando à solenidade na P.G.J. O ambiente festivo era de alegria e comemoração, afinal estávamos não somente com os atuais deputados estaduais, como também com os constituintes de 1989, que contribuíram na elaboração e promulgação da Carta Magna Estadual, em consonância com a Constituição Federal de 1988.
A Carta Política Maranhense primou pela laicidade do Estado, que é a inexistência de religião oficial, abolida desde a Constituição de 1891 (o padroado foi extinto pelo Decreto 119-A, de 7/1/1890); pela retomada da tripartição dos poderes de Montesquieu, com escopo na busca de maior equilíbrio; pela técnica dos “freios e contrapesos”, abrandando a supremacia do Executivo; e pela previsão de valores supremos, dentre eles: o exercício de direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça.
Na ocasião, o em. Procurador-geral de Justiça, Dr. Luiz Gonzaga Martins Coelho ao abrir o evento, e após inaugurar uma galeria no lobby da PGJ a respeito da Constituição Estadual, afirmou que as Constituições Estaduais de 1967 e 1989 foram de grande importância para o Ministério Público maranhense, uma ao dar autonomia ao órgão, desvinculando-o do Poder Executivo e a derradeira, ao atribuir-lhe as missões de promoção dos direitos humanos e de defesa da democracia e do estado de direito.
Para o PGJ, a Constituição Estadual de 1989, assim como o fez a Federal de 1988, elevou o Ministério Público à posição de instituição permanente e desatrelado, de vez, de representação judicial do Estado, além de vedar expressamente a consultoria jurídica de entidades públicas, tudo isso como fruto dos anseios do povo, que “exigiu as soluções democráticas como regra”. Finalizou afirmando que “A democracia depende da política e a política só é legítima no regime democrático”.
Dentre os ilustres convidados, o Presidente da Assembleia Legislativa, Deputado Othelino Neto, que nos agraciou com a prédica, destacando a importância de enaltecimento da Constituição, especialmente em um momento no qual a democracia é atacada, com iniciativas como o pedido de fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, além de ressaltar a importância do equilíbrio entre os Poderes e das instituições independentes, como o Ministério Público, afirmando que o Maranhão é um exemplo nacional pelo respeito existente entre todos.
A cerimônia contou com o gesto de entrega pelo Presidente da Assembleia Legislativa dos autógrafos dos deputados constituintes ao eminente Procurador-geral de Justiça, documento que ficará arquivado no Memorial do Ministério Público, e como retribuição houve a entrega pelo PGJ ao presidente da Assembleia Legislativa, Othelino Neto, de uma réplica do processo da baronesa de Grajaú.
Na sequência, representando os constituintes de 1989, o ex-Deputado Celso Coutinho, que, em sua fala, criticou o discurso de candidatos a cargos eletivos, quando afirmam “não serem políticos”, comparando-os a um médico que na hora de uma consulta afirma não ser médico profissional.
Discursou também o constituinte Juarez Medeiros, à época deputado estadual, e que após passou a integrar o Ministério Público, enfatizando as particularidades locais acrescidas à Constituição Estadual, a retirada dos nomes de pessoas vivas dos prédios públicos, citando a questão dos búfalos soltos na Baixada Maranhense, além de enfatizar a harmonia com que os debates no ambiente constituinte se deram.
Em seguida, fomos agraciados com a bela apresentação do coral “Vozes do Ministério Público”, cantando os Hinos Nacional e do Maranhão, além da linda toada “Se não existisse o sol”, de Chagas da Maioba.
Por fim, discursou o promotor de justiça Benedito Coroba, tendo dado destaque ao fim da censura e tortura assegurados pelos constituintes e o fortalecimento de instituições sólidas, como o Ministério Público do Maranhão.
O evento teve a presença dos ilustres deputados constituintes João Jorge Jinkings Pavão, Conceição Andrade, Carlos Guterres, Gastão Vieira e Aristeu Barros; os atuais deputados estaduais Helena Duailibe, Andreia Rezende e Roberto Costa; os Procuradores de Justiça João Raymundo Leitão, Francisco Barros e Mariléa Costa; a Juíza de Direito Karine Reis Pereira Bogéa Santos; o presidente em exercício do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE-MA), Washington Luiz de Oliveira; o Defensor Público-Geral, Alberto Pessoa Bastos; o diretor da Escola Superior do Ministério Público, Márcio Thadeu Silva Marques; os Promotores de Justiça Washington Cantanhede, Raimundo Nonato Leite e Klícia Meneses Castro, Justino Guimarães; o Secretário de Estado Rodrigo Lago, que representou o governador Flávio Dino; e o Corregedor-Geral do MPMA, Eduardo Jorge Hiluy Nicolau.
A data escolhida para comemorar os 30 anos da abençoada Carta Política Estadual, dia 4 de outubro, coincide com o Dia de São Francisco de Assis, que sempre teve em suas pregações e na sua religiosidade a criação inteira como um estado de exaltação e louvor a Deus, onde cada criatura louva o seu Criador por meio da beleza e do encanto que nela se manifesta e do elã vital que nela pulsa.
Para o Santíssimo Francisco, é inconcebível um antropocentrismo de tipo moderno, porque o ser humano está inserido na natureza para reconhecer e respeitar nela a grandeza de Deus. Por isso, desenvolve um olhar de profunda admiração e respeito por cada ser criado, porque nele descobre a força de Deus.
Desse modo, podemos lembrar, ainda, que a intuição de Francisco, apontando a primazia do sol, caminha de mãos dadas com a vigente Carta Magna, uma vez que pelos estudos da ecologia, sabe-se que o sol é essencialmente dispensador de energia para a natureza, por meio da fotossíntese das plantas. O sol, como energia, é a própria condição de possibilidade do surgimento da vida. Destacamos daí a inspiração dos nossos constituintes na proteção dos direitos difusos e coletivos, a nortear e pautar os trabalhos que envolveram a realização e promulgação de nossa Lei Maior.

São Luís (MA), 06 de outubro de 2019
Teodoro Peres

(*) Teodoro Peres reside em São Luis e ocupa o cargo de Procurador Geral da República. É natural de Santa Quitéria no Maranhão. 

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