Na data de 06 de julho, o Brasil e, principalmente o estado do Maranhão perdeu um dos grandes líderes e defensores das causas sociais e humanitárias deste país. Faleceu na cidade de Évora - Portugal, onde estava fazendo um doutorado, José de Ribamar Araújo e Silva, também conhecido como "Ribamar do PT" ou Ribamar das Cáritas", codinome carinhoso que ele recebeu da "companheirada progressista" da Igreja Católica, onde formou-se em Teologia da Libertação.
Ribamar tinha raízes parnaibanas, tendo em vista ser neto do Maestro Almir Araújo que foi o fundador da primeira Banda Municipal de Parnaíba e como reconhecimento por seu talento e trabalho, "Mestre Almir" é homenageado por historiadores, bem assim pelo poder público municipal que o homenageou dando seu nome a uma rua no Bairro do Carmo, antigo Coroa.
Ribamar era o nono de uma família de onze irmãos sendo o primeiro a nascer em terras maranhenses. Os mais velhos nasceram e criaram-se em terras maranhenses, entre os quais, dr. José Wilson Araújo e Silva, juiz aposentado que ainda reside na capital ludovicense.
Filho de Francisco Olímpio da Silva(cearense-radicado por muitos anos em Parnaíba-), tendo se casado com Teresa Maria de Araujo e Silva - parnaibana da gema - filha mais nova do Mestre Almir Araujo.
Os estudos primários do Ribinha foram feitos no antigo CEMA(antigo sistema de teleducação), mas o fez presencialmente na capital. Mais tarde logrou aprovação para a ETFMA(Escola Técnica Federal), onde concluiu o seu ensino médio.
Nos primórdios de 1982 recebeu emancipação civil e foi mandado a São Paulo para estudos religiosos, a fim de se tornar padre. Cursou Teologia e depois Filosofia nas Faculdades Ipiranga(religiosa), mas seu espírito libertário e revolucionário acabou por abandonar o Seminário e se casar com uma noviça Neli Machado, com a qual teve dois filhos homens Francisco Olimpio da Silva Sobrinho - hoje analista da Justiça Federal em Erechim-RS - e seu irmão Luís Carlos - médico. Já da sua união estável com Cleide Moraes tiveram a única filha mulher, Teresa Vitória hoje com 25 anos, já na metade do Curso de Medicina.
Antes de ir à Évora-PT para cursar doutorado em Direitos Humanos (sua grande paixão), cursou mestrado na UNB na mesma disciplina. Falava também razoavelmente o idioma espanhol, viajou pelo Brasil todo em seu trabalho de Perito do Mecanismo Nacional de Prevenção à Tortura mas também atuou como palestrante(no que era exímio)especialista nesse assunto. Visitou também em missão vários países da Europa e da América Latina.
Em 02 de junho, ao completar sessenta anos, pois nascera em 02 de junho de 1965, Ribinha foi alvo de homenagens por seus amigos. Sua morte repentina deixou todos entristecidos e foram inúmeras as manifestações de sentimentos, de solidariedades e de carinhos enviadas aos seus familiares.
Ao tomar conhecimento do falecimento de Ribinha, o seu irmão, dr. José Wilson Araújo e Silva, José Wilson Araújo e Silva, juiz aposentado que prestou serviços em diversas comarcas do Maranhão, tais como São Bernardo, Araioses, Tutóia e outros, prestou-lhe uma significativa homenagem que a transcrevo a seguir:
ELOGIO FÚNEBRE AO RIBINHA
Hoje nos reunimos para honrar a memória de Ribinha -JOSÉ DE RIBAMAR DE ARAUJO E SILVA (RIBINHA PARA OS MAIS ÍNTIMOS, RIBAMAR DA CÁRITAS PARA OUTROS E RIBAMAR DO PT, para seus correligionários políticos), um ser humano iluminado intelectual e espiritualmente, cuja presença iluminou a vida de todos os que tivemos o prazer de conhecê-lo e privar de sua intimidade, ou, até mesmo, muitos incógnitos que foram beneficiados por suas ações e atuação firme em causas sociais do CONSEA/MA(Conselho de Segurança Alimentar do Maranhão), do qual foi seu primeiro coordenador, tanto como daqueles outros irmãos em Cristo dependentes da correta atuação policial e em cumprimento de pena judicial, enquanto Ribinha esteve como Ouvidor Geral de Segurança Pública do Estado do Maranhão e, mais tarde, como Perito do Mecanismo de Prevenção à Tortura, vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos em Brasília, onde ficou por seis anos nesse trabalho. E ali permaneceu em serviço, inspecionando presídios e outros estabelecimentos penais, mesmo depois de ter se tornado um servidor público sem receber remuneração por dois meses e com aquele órgão com suas funções esvaziadas por força de Decreto do Presidente Bolsonaro. Nesse caso, faleceu sem receber os salários que lhe eram devidos e foram concedidos por recente decisão judicial do 8ª Juizado Federal de Brasília-DF, deixando esse pequeno legado pecuniário aos seus herdeiros.
Viveu 60 anos, mas acumulou a vivência e as agruras de uma família de onze irmãos, dos quais restamos apenas quatro ainda vivos, todos nós mais idosos que ele. Todavia, acumulou uma bagagem cultural invejável e experiências das mais divertidas as mais tristonhas, visitando todas as capitais do nosso país e outros locais do interior onde estivessem presídios e outras casas de recolhimento compulsórios a serem inspecionados, aí atuando como Perito do Mecanismo de Prevenção à Tortura; mas também, desde antes como Coordenador da Cáritas no Maranhão, visitou vários países da América Latina, Central e da Europa. Podia-se dizer dele ser um cidadão do mundo, porque um dia amanhecia em São Luís, mas poderia anoitecer em Brasília, São Paulo ou Rondônia, tanto a serviço de inspeção como Perito, como também na função de palestrante, no que se destacava porque dominava a arte da oratória, temperada com bom humor e ciência política e social.
Era com toda certeza e sem nenhuma inveja da minha parte o mais inteligente membro da família Araujo e Silva, mas também o mais sofrido e malhado nas mais variadas dificuldades que a vida sempre lhe apresentou desde sua ida para morar em São Paulo, ainda bem jovem com dezesseis anos, quando papai lhe concedeu a emancipação para entrar em um Seminário Religioso naquela capital .
Com seu eterno bom humor e coração do bem, Ribinha soube sempre semear alegria nos dias mais tristes e graves de nossas vidas.
Sua passagem por este mundo foi de eterna entrega em amor ao próximo e solidariedade aos mais frágeis, como assinalaram em inúmeras mensagens seus amigos, correligionários e alunos, deixando elos profundos em cada amizade, em cada gesto e em cada palavra. Sempre disposto a escutar, a estender a mão aos mais necessitados, Ribinha foi refúgio em tempos difíceis e companhia alegre e criativa nos momentos de comemoração, principalmente nas datas de nossos aniversários, no que ele era mestre em foto homenagens, como também em ocasiões de luto, quando fazia com maestria belas e inesquecíveis montagens foto-musicais de seus homenageados.
Eu estou ansioso por ter acesso a esse seu precioso arquivo fotográfico e aprender a técnica que ele tão bem utilizava, mas que não chegou a me ensinar porque, em suas palavras: “ele conseguia fazê-lo em um programa gratuito de computador porque era pobre, enquanto eu (rico como ele me considerava) só poderia acessar programas pagos”. E assim, o tempo passou e fiquei mesmo sem aprender essa sua habilidade e agilidade com que ele a fazia. No dia do aniversário ou da morte de alguém da nossa estima, bem cedo do dia ele já postava a devida homenagem de fotomontagem com fundo musical.
Tivesse eu a sua habilidade, decerto na data de seu passamento, o teria homenageado com várias fotos memoráveis e um fundo musical que ele gostava muito de utilizar em necrolégio da bela música Sentinela de Milton Nascimento, que diz assim: “morte, vela, sentinela sou do corpo desse meu irmão que já se vai. Revejo nessa hora tudo que ocorreu. Memória não morrerá. Longe, longe, ouço essa voz que o tempo não vai levar...”
Hoje lamentamos sua partida, porém também agradecemos a graça de sua existência. Permanece em nossas memórias através de inúmeras recordações compartilhadas e o eco de seus ensinamentos cristãos, que seguirão nos guiando. Que sua luz siga brilhando em nossos corações e que seu legado de amor e generosidade inspire nossas ações.
Descanse em paz, nosso amado Ribinha. Nunca te olvidaremos e, eu pessoalmente, tentarei dar à publicação teu livro(acho que inacabado), intitulado: Tudo que Vivi, Vi, Ouvi e não Posso Calar. Do qual fiz parte da revisão, a pedido pessoal dele!
Por fim, lembro outra música que ele adorava homenagear seus amigos: “amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. Assim falava a canção que na América ouvi. Mas quem cantava chorou ao ver seu amigo partir...”
Quantas vezes, em meio às dores e alegrias, sua voz ecoou trazendo alento, esperança e, sobretudo, humanidade. Em cada história, em cada causa, Ribinha deixava a marca de quem nunca se acomodou diante da injustiça, de quem sempre acreditou que a escuta e o abraço eram ferramentas tão potentes quanto qualquer ato formal. Sua ausência física abre um vazio, mas a força de sua presença persiste, habitando gestos, sorrisos e combates diários de todos que aprenderam com seu exemplo.
E assim, diante da saudade imensa, resta-nos honrar sua trajetória, transmitindo adiante o que plantou. Que possamos multiplicar a ternura, a indignação justa e a criatividade solidária que ele exemplificou. Que cada aniversário, cada encontro, cada desafio social, seja oportunidade de lembrar o amigo, o irmão, o companheiro de tantas jornadas.
Vai e leva nossos abraços e beijos a todos os nossos amigos e familiares comuns que nos antecederam no caminho de retorno ao pó de onde todos viemos!
AMÉM, AMÉM!
O corpo de Ribinha trasladado de Portugal, nesta madrugada de domingo e está sendo velado no Salão da Pax União no Canto da Frabril e será sepultado no cemitério Parque da Saudade no Bairro Vinhais, no final da tarde deste domingo 20 de julho.
Requiescat in pace Ribamar!
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