domingo, 10 de junho de 2018

CENAS DO COTIDIANO

MOÇA APAIXONADA

   Benedito Lima (*)

                         Adoro chocolate! No aeroporto de Brasília, antes da reforma, havia na praça de alimentação uma loja de chocolate maravilhosa. Todas as vezes que passava por Brasília, ia lá tomar chocolate quente e comprar chocolate com menta, com pimenta e com hortelãs.
                        Era figurinha carimbada. A  atendente já me conhecia e sabia de cor as qualidades e as quantidades que eu queria. A loja tinha uma característica que a diferenciava das demais: não possuía cadeiras, talvez por que os fregueses ficavam pouco tempo. 
                        Certa vez vindo de Marabá, fiz conexão em Brasília, quase sem tempo de pegar o outro voo. Apesar disso e das dificuldades de deslocamento no aeroporto, apressei o passo e fui até a loja.
                        Ao chegar, verifiquei que a atendente não era a mesma. A nova era linda, tinha dentes brancos que realçavam seu sorriso. Os olhos verdes, a pele morena e o nariz pequeno combinando com o seu rosto oval.
                        Pedi um chocolate quente e que pesasse 200 gramas de chocolate com menta e 150 com pimenta. Nesse momento vi que haviam adquirido uma cadeira de inox. Puxei-a de lado e me sentei.
                        Em poucos segundos, percebi que a moça me observava. A princípio não dei muita importância, mas o tempo passava e ela não tirava os olhos de mim. Eu não entendia como uma moça tão jovem e bonita pudesse estar interessada em um velho. O ego inflou e passei a olhá-la. Senti sua indecisão e para incentivá-la dei um sorriso.
                        De repente a inércia foi rompida, ela parou de pesar o chocolate, caminhou em minha direção, chegou bem próximo de mim e sem tirar os olhos dos meus, falou com voz delicada: o Sr. poderia fazer a gentileza de se levantar da lixeira? 
                        Ao me levantar, verifiquei que a lixeira estava toda amassada. Pedi desculpas, paguei a conta e passei um tempão sem tomar chocolate quente e sem levar pra casa chocolate com menta, com pimenta e com hortelãs.
 
                        (*) Benedito Lima é poeta, escritor, graduado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Minas Gerais e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Piauí com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Federal Fluminense e com mestrado em Ergonomia pela Universidade Federal de Santa Catarina. É auditor Fiscal do
Ministério do Trabalho e exerce aa função de coordenador de um dos Grupos Especiais  de Fiscalização Móvel do MT que busca erradicar o trabalho escravo ainda existente em nosso país.
                          Publicou dois livros técnicos: Erva mate: erva que escraviza e  Degradância Decodificada - e o papel do Estado na sua gênese (em parceria com Renato de Mello). Brevemente estará lançando em Parnaíba um livro de poesias de sua autoria intitulado POESIAS REFLETIDAS.  

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